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08/Abr/2020

Fertilizantes: preocupação com a logística global

O mercado brasileiro de fertilizantes conseguiu, até o momento, passar ileso pela pandemia do novo coronavírus, sem problemas de abastecimento ou alta de preços, mas a logística de carregamento do insumo dentro e fora do Brasil deve ser monitorada nos próximos meses. O País importou em 2019 cerca de 80% dos fertilizantes que aplicou no campo, daí a relevância da oferta e demanda internacionais para o suprimento e os preços do insumo. Em maio começam as importações do Brasil de adubos para a safra de verão (1ª safra 2020/2021) e pode haver algum problema logístico. Por enquanto, o mercado de fertilizantes passa ileso pelo coronavírus e continua reagindo apenas aos fundamentos. Em todo o mundo, até agora, alimentos, produtos agrícolas e insumos vêm sendo classificados como "bens essenciais", ficando de fora de restrições ao transporte de cargas. Eventuais gargalos logísticos decorrentes da pandemia ocorreram em algumas localidades.

Os portos chineses chegaram a suspender atividades, mas a situação vem se regularizando nas últimas semanas. Na Itália e em Portugal, terminais portuários também fecharam, assim como na Argentina, que agora permite a movimentação de itens "essenciais", incluindo adubos. No Porto de Vancouver, um dos mais importantes centros exportadores de fertilizantes do mundo, até o momento as operações ocorrem normalmente. Entre 40% e 45% do potássio mundial é produzido no Canadá e 90% sai pelo Porto de Vancouver. Se houver restrições logísticas lá, haverá problemas. Outros portos que precisam ser monitorados e onde os embarques de fertilizantes têm sido realizados regularmente são o de New Orleans e de Tampa (na Flórida), nos Estados Unidos, importantes para o escoamento de fósforo e nitrogenados, de Jorf Lasfar, no Marrocos (fósforo), portos da Rússia (exporta potássio, fósforo e ureia), China (fósforo) e Arábia Saudita (fósforo e ureia).

Do ponto de vista da oferta global de adubos, a grande maioria dos países produtores já havia produzido, antes de quarentenas, o necessário para suprir clientes na temporada 2020/2021. A China, maior produtor global de nitrogenados e fósforo (consome todo o nitrogênio que produz, mas exporta fosfatados), vem reabrindo suas fábricas desde meados de fevereiro, após o período de isolamento. Na China, a produção está voltando à normalidade e estão com todo o fertilizante de que precisam para começar o plantio, nas áreas mais baixas. Se a China voltar a ter problemas com coronavírus, volta a ter problemas com fosfatados e isso pode elevar o preço. Em outros importantes países produtores de fósforo, como Estados Unidos, Marrocos, Arábia Saudita e Rússia, não houve relatos até agora de oferta restrita. Nos Estados Unidos, apesar das regras rígidas de isolamento nas grandes cidades, a maior parte dos fertilizantes previstos para a próxima safra estão produzidos e estocados.

O rio Mississippi, importante rota de distribuição do insumo pelo país, está fechado no momento em virtude das fortes chuvas das últimas semanas, que elevaram o nível do rio, mas não deve tardar em ser reaberto. Ainda falta distribuir uma parte dos insumos nos Estados Unidos, mas tem algumas semanas para fazê-lo. Tampouco a produção de potássio necessário para os próximos meses no mundo foi comprometida pela pandemia. Canadá, Rússia e Bielorrússia são os três maiores produtores globais do insumo e nestes países fabricantes não notificaram paralisação das operações. Quanto aos nitrogenados, a China, maior produtor mundial, consegue atender sua própria demanda. A Índia também produz volume relevante do insumo, consome tudo internamente e ainda complementa com importação. Estados Unidos e Rússia, outros fabricantes de peso destes produtos, não reportaram interrupção das atividades até agora. O único país onde a produção para próxima safra ainda não está pronta é a China.

Do ponto de vista da demanda, a Índia, grande consumidor global de adubos nitrogenados, pode ter seu abastecimento prejudicado por limitações à movimentação de fertilizantes, o que provocaria uma reação em cadeia nos preços internacionais. O país tem duas safras, assim como o Brasil, mas planta e colhe dois meses antes dos produtores brasileiros. A safra de verão indiana será cultivada em julho e agosto, o que implica adquirir adubos antes disso. A Índia está no auge da pandemia e implementou uma quarentena muito mais severa que a do Brasil. Se a Índia comprar menos ou não comprar fertilizantes, os preços mundiais dos fertilizantes devem recuar. A tendência é abrir mão de investir em adubos. Há cerca de duas semanas o país abriu concorrência para a compra de nitrogenados, mas logo em seguida o governo implementou a quarentena e surgiram dúvidas se a concorrência será mantida.

Com exceção da Índia, não é esperada forte demanda de outros importantes países consumidores no curto prazo, já que no Hemisfério Norte as compras para o plantio foram feitas e, no Hemisfério Sul, não há urgência em adquirir o produto que falta imediatamente. Apesar dos efeitos da pandemia em países europeus, uma possível menor busca por adubos em determinadas localidades não deve pressionar os preços. Nos Estados Unidos, todo o produto necessário para o plantio da próxima safra de verão está estocado. No Brasil, os produtores acabaram de plantar a 2ª safra de 2020 e não necessitam adquirir adubos imediatamente para o cultivo da soja. O Brasil só vai precisar de fertilizantes a partir de maio, junho, para a safra de verão (1ª safra 2020/2021). Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.