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16/Mar/2020

Defensivos: Coronavírus pode afetar importações

O surto do novo coronavírus, que paralisou fábricas na China, deixa a indústria de defensivos agrícolas no Brasil em alerta, diante dos riscos para o fluxo de importações brasileiras da matéria-prima para o setor, fortemente dependente do produto do país asiático. Embora a situação da doença na China, epicentro do coronavírus, esteja sendo aos poucos controlada, com uma redução do número de casos, problemas logísticos poderiam prejudicar a oferta de agroquímicos disponíveis para o plantio da safra 2020/2021 no Brasil. A China é a maior fornecedora global de matéria-prima para a produção de defensivos. Se faltar produto para a indústria, vai faltar em algum momento para o agricultor, segundo o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Julio Borges Garcia. Segundo ele, por enquanto, o mercado está em estado de atenção sobre as condições da oferta neste ano e somente daqui a dois ou três meses será possível avaliar se, de fato, haverá escassez de algum defensivo.

Segundo ele, ninguém estava preparado para uma doença como o coronavírus e seus efeitos, e, portanto, os fabricantes de agroquímicos não anteciparam compras ou formaram reservas capazes de reduzir, ainda que parcialmente, a dependência das importações. A entidade está avaliando os níveis de estoques, mas a maior parte deles está nos distribuidores. Agora, será preciso aguardar para saber em quanto tempo a China responderá a estes problemas e, em consequência, se faltará ou haverá atraso na entrega de alguma matéria-prima. O pico das importações brasileiras de defensivos acontece entre os meses de maio e outubro. Sendo assim, há possibilidade de minimizar algum prejuízo vindo da China, caso consigam conter o coronavírus a tempo. Concorrentes, como os Estados Unidos, podem ter danos maiores porque fazem suas compras do setor agora. No ano passado, os chineses forneceram 38% do total importado pelo Brasil em defensivos. O glifosato, um dos herbicidas mais utilizados na agricultura brasileira, foi 99% fornecido ao país pela China em 2019.

Cientes deste cenário, os agricultores brasileiros podem antecipar as aquisições de insumos que serão utilizados na safra 2020/2021, que será plantada a partir de setembro deste ano, mas as primeiras compras realizadas tendem a ser de fertilizantes e sementes. É cedo para traçar perspectivas concretas sobre a aquisição de defensivos no ano. Também é preciso de mais informações sobre o clima, que interfere na janela de plantio e na proliferação de doenças na lavoura. A tendência, porém, é de vendas maiores porque a área plantada tem potencial para crescer mais. Na safra atual, de 2019/2020, a área plantada com grãos avançou 2,3% em relação à temporada anterior, para 64,6 milhões de hectares. Do ponto de vista da demanda, tanto a questão da área cultivada quanto o nível de capitalização dos agricultores são indicadores positivos para o consumo de defensivos. A valorização do câmbio beneficia o agricultor e, enquanto compradora, a China continua demandando alimentos do Brasil.

Setores como o de açúcar e de café também passam por momentos favoráveis ao consumo de agroquímicos. O dólar alto onera os custos dos insumos importados, mas os produtores também estão travando as vendas de soja, por exemplo, em patamares excepcionais de preço, segundo a entidade. Segundo levantamento encomendado à consultoria Spark pelo Sindiveg, o mercado de defensivos agrícolas cresceu 6,2% em dólar de produto aplicado, com uma movimentação de US$ 13,7 bilhões. O dado refere-se ao valor que o agricultor negociou o produto que foi aplicado no campo, e não corresponde ao faturamento das indústrias, segundo a associação. O estudo apontou ainda que, apesar do avanço mercado, o custo médio por produto aplicado diminuiu 2%, de US$ 9,09 para US$ 8,90 no comparativo anual, o que sinaliza que a relação de troca foi mais favorável ao produtor rural.

A pesquisa contou com a participação de 18 mil agricultores, em toda a fronteira agrícola nacional, focando os principais cultivos, como soja, cana, milho, algodão e café, que representam cerca de 80% da aplicação de agroquímicos no país. Algumas pragas estão cada vez mais resistentes e, para controlar isso, o agricultor precisa utilizar diferentes combinações de defensivos. Este é o principal gargalo. Será necessária a modernização nas leis para registro de produtos novos, para que um único agente possa substituir esta combinação de produtos que, em alguns casos, já estão defasados. Já o volume de produto aplicado por hectare diminuiu 1% na variação anual, para 0,63 quilo por hectare. Trata-se de uma tendência natural. De modernização dos equipamentos utilizados no processo e, também, da otimização nas aplicações feita pelo produtor. Fonte: Reuters. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.