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13/Fev/2020

Armazenagem: falta de previsibilidade afeta vendas

O investimento em silos e armazéns para a safra 2020/2021, que começa em 1º de julho, ainda é uma incógnita. Com o atraso no plantio da safra de grãos de verão (1ª safra 2019/2020), os produtores estão mais cautelosos quanto ao valor que será aplicado para guardar produções futuras. Além disso, o governo ainda precisa sinalizar o montante de recursos que oferecerá no Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), linha do Plano Safra. Em geral, nesta época do ano, os produtores já planejam o investimento em equipamentos para o ciclo seguinte. A preocupação em garantir espaço de armazenagem próximo à propriedade se deve ao fato de que isso acaba sendo uma proteção contra eventuais oscilações de preço, pois o estoque é uma forma de proteção financeira. Os recursos disponíveis para o programa na atual safra 2019/2020, de R$ 1,8 bilhão, terminaram no dia 10 de janeiro, segundo circular do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O aporte disponível para o setor vem crescendo nos últimos anos, mas ainda é insuficiente para acompanhar o crescimento da produção brasileira e suprir o déficit de capacidade estática de armazenagem (volume de produção em toneladas que pode ser estocado nos equipamentos). Enquanto a safra brasileira cresce de 6 milhões a 7 milhões de toneladas por ciclo, a capacidade de armazenagem cresce entre 4 milhões e 5 milhões de toneladas por ano-safra, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No fim da safra 2018/2019, o déficit do País era de 72 milhões de toneladas, com capacidade para estoque de 169,8 milhões de toneladas. O setor privado estima que seriam necessários R$ 8,8 bilhões somente para suprir o incremento registrado na produção entre as temporadas 2018/2019 e 2019/2020. Para não aumentar o déficit de capacidade nacional seriam necessários mais R$ 2 bilhões no PCA, para o total de R$ 4 bilhões na safra 2020/2021, avalia a fabricante de sistemas de armazenagem Kepler Weber.

Segundo a empresa, que é líder de mercado no Brasil, o aporte adicional de R$ 2 bilhões possibilitaria a construção de equipamentos para mais 5 milhões de toneladas. A disponibilidade de crédito é primordial para o setor, por se tratar de uma obra imóvel com custo elevado e retorno de médio a longo prazo. Um equipamento convencional custa pelo menos R$ 300 mil. A falta de previsibilidade quanto à política de crédito governamental também preocupa as empresas do setor. Não se sabe qual será o futuro do Plano Safra. Enquanto o produtor não souber com quanto ele poderá contar de subsídio do governo, tende a segurar o investimento, porque não adianta ele prospectar se não terá recurso para finalizar a compra. O aporte destinado para o PCA costuma terminar antes dos recursos totais do Plano Safra, outro fator de insegurança para o produtor. As empresas alegam que há contratos fechados em bancos aguardando a retomada do programa.

Em meio às incertezas de crédito, o segmento deve repetir o volume de vendas na safra 2020/2021 realizado na temporada passada, que também foi estável ante a anterior. A maior parte da demanda por esses equipamentos deve vir das cooperativas. No Brasil, as cooperativas contribuem com cerca de 25% da capacidade estática disponível. O investimento das cooperativas em armazéns é lento, mas neste ano deve aumentar o aporte destinado aos armazéns e silos, em virtude da valorização acentuada das commodities agrícolas. No caso das cooperativas do Paraná, o investimento para armazenagem da próxima safra já está reservado. A Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) estima que as cooperativas do Estado vão aplicar cerca de R$ 1 bilhão para ampliar em 950 mil toneladas a capacidade estática de armazenagem. Deste total, dois terços tendem a ser feitos no Estado, o que deve perfazer 700 mil toneladas de capacidade estática.

O outro um terço vai ser empregado para elevar a armazenagem em 250 mil toneladas na operação das cooperativas em outras regiões. Há capacidade para estocar praticamente 16 milhões de toneladas, ou 54% da capacidade total do Estado. A estratégia de ampliar a capacidade de estoque leva em conta o fato de as cooperativas estarem inseridas em contexto de agroindústrias. É preciso ter expressiva disponibilidade de grãos para os cooperados durante o ano todo, especialmente para o abastecimento da indústria das carnes. Em média, as cooperativas elevam a capacidade de reserva em 500 mil a 600 mil toneladas por safra, enquanto para a próxima temporada a estimativa é de incremento de 950 mil toneladas. A decisão de investir mais em estoques para a safra 2020/2021 no Estado foi motivada pelo crescimento expressivo do setor de frangos e suínos em 2019, que resultou em maior demanda por grãos para alimentação animal.

Para a safra 2019/2020, que ainda está sendo colhida, as cooperativas paranaenses construíram reservas para mais 600 mil toneladas. A Ocepar considera que os silos e armazéns serão suficientes para estocagem da safra de verão (1ª safra 2019/2020) e para a 2ª safra de 2020 dos produtores cooperados. Segundo a entidade, da parte das cooperativas não há déficit de armazenagem no Estado. As cooperativas do Paraná devem produzir entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas do total de grãos a serem colhidos no Estado. Enquanto no segmento de armazéns e silos convencionais o planejamento e a aquisição do equipamento ocorre com antecedência de pelo menos seis meses antes da utilização, no mercado de silos-bolsas o investimento é para uso imediato. Por isso, os produtores ainda estão adquirindo equipamentos para utilização na safra atual, do ciclo 2019/2020. Segundo a Ipesa no Brasil, empresa argentina que tem participação de 50% no mercado nacional, o produtor procura e compra o produto ao perceber a necessidade de estocar a produção à medida que está colhendo.

O produtor ainda não faz uma programação estratégica para uso do equipamento. Ele compra a bolsa com no máximo uma semana de entrega. Estimativas do setor privado apontam que as vendas do equipamento para grãos ainda a serem colhidos está 60% maior ante a comparação com igual intervalo da temporada anterior. Até o fim da safra, em 30 de junho, aproximadamente 120 mil unidades devem ser utilizadas no campo, crescimento de 30% a 40%, ante cerca de 90 mil a 95 mil unidades do ciclo 2018/2019. O maior ritmo de negócios é atribuído pelas empresas do setor à queda no preço do equipamento e ao fato de seu valor corresponder a apenas 3% do custo do silo convencional. Calcula-se que os silos-bolsas disponíveis no mercado brasileiro tenham custo máximo de R$ 10 mil ao produtor. A perspectiva de que os produtores plantem área menor com o milho na 2ª safra de 2020 deve se refletir nos negócios do setor no curto prazo.

O cereal é a principal cultura armazenada na modalidade bolsa e um recuo na produção tende a acarretar menor necessidade do equipamento pelos produtores. Contudo, a redução das vendas para 2ª safra de 2020 pode ser compensada por possível incremento na operação para café, que tem perspectiva de recorde de produção neste ano. A Ipesa espera acompanhar o crescimento do mercado e comercializar 60 mil unidades do equipamento até o fim da temporada, ante 45 mil vendidas na safra 2018/2019. A maior parte da receita da empresa advém de vendas diretas a produtores, especialmente da Região Centro-Oeste e do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). A empresa tem observado crescimento na fatia das cooperativas interessadas nesta modalidade de armazenamento, principalmente as da Região Sul do País. As cooperativas que são mais favoráveis à inovação têm buscado silos-bolsas como alternativa para estoque pelo fato de o investimento ser inferior ao modelo tradicional. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.