16/Dez/2019
A Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) trabalha para tornar viável o transporte marítimo de grãos brasileiros para a China pelo Canal do Panamá. Além de ter participado da conferência internacional Brazil Global Connection no Panamá, a ATP negocia com a administração do canal a assinatura de um acordo de cooperação. A ideia é discutir a redução de taxas para utilização do Canal do Panamá para navios que levam grãos dos portos do Arco Norte brasileiro, principalmente do Amazonas, Maranhão e Pará, até a China. Uma diminuição na tarifa poderia gerar economia de US$ 129 mil por navio destinado ao país asiático.
Atualmente, os navios graneleiros viajam grandes distâncias em direção à China, principal mercado consumidor da soja brasileira, passando pelo Cabo da Boa Esperança, na África. Esse é um trajeto mais demorado e demanda maior consumo de combustível quando comparado com a passagem pelo Canal do Panamá. Porém, a alternativa do Canal do Panamá não é praticada hoje no caso dos grãos, que têm baixo valor agregado, em razão das altas tarifas cobradas para uso do canal. A economia da rota pelo Canal do Panamá é de quatro dias e 13 horas, saindo da região do Arco Norte e indo para a China, o que equivale a uma redução de US$ 129.356,11 no custo do frete, considerando uma diminuição nas despesas com navio e combustível.
Mas, as taxas cobradas pelo canal ainda tornam inviável seu uso, deixando a viagem pelo Cabo da Boa Esperança US$ 160 mil mais barata por navio. Os portos do Arco Norte têm sido uma alternativa para escoamento de parte da produção brasileira de grãos em relação aos portos das Regiões Sul e Sudeste. Segundo o Estatístico Aquaviário da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a participação do Arco Norte no escoamento de soja e de milho para os mercados consumidores internacionais chegou a 28% em 2018, com 29,6 milhões de toneladas transportadas. Entretanto, se o navio segue dos portos do Arco Norte para a China pelo Cabo da Boa Esperança a distância percorrida é maior do que se saísse pelas Regiões Sul e Sudeste.
O uso do Canal do Panamá poderia encurtar o trajeto ao menos para parte do território chinês, reduzindo o custo logístico. O que acontece é que, no canal do Panamá, as taxas são muito altas para o grão, porque é um canal que visa muito contêineres, granel líquido, que são cargas mais nobres, e o grão brasileiro é muito barato. Entretanto, a ampliação do canal criou uma oportunidade para o Brasil. Isso porque as novas reclusas, destinadas a navios maiores, os Neopanamax, de até 150 mil toneladas, estão muito demandadas. Mas, as antigas reclusas, para navios tipo Panamax, de até 70 mil toneladas, muito usados para transporte de grãos, estão com capacidade ociosa.
Pode ser que haja um caminho para negociação de taxas melhores dessas reclusas antigas que possa viabilizar parte da nossa produção ser escoada pelo Canal do Panamá. Essa é uma negociação muito longa e está no início, mas em algum momento pode haver um bom entendimento. A ATP discute com a administração do canal a assinatura de um acordo de cooperação para discutir o tema com profundidade maio. Dos 29 associados da ATP, 10 trabalham com agronegócio, então é um segmento importante, por isso, é preciso uma atenção especial para esse lado da logística do grão.
Os principais concorrentes do Brasil na exportação de grãos são Estados Unidos e Argentina, que têm custo logístico menor comparado com o nacional. O ganho do Brasil é na tecnologia de produção. Se for possível reduzir o custo logístico, será uma grande vantagem para o agro brasileiro. Ainda não há um prazo para conclusão das negociações, mas o Canal do Panamá vem demonstrando interesse no escoamento dos grãos brasileiros. Há dois anos, as autoridades do canal já haviam feito uma apresentação citando especificamente a produção do norte de Mato Grosso como uma possibilidade para reduzir a ociosidade da utilização das reclusas antigas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.