31/Out/2019
Quando decidiu deixar para trás três décadas de atuação discreta no Brasil e apertar o passo no País, no ano 2000, a norueguesa Yara, que ainda não havia se desgarrado do grupo Norsk Hydro (hoje apenas Hydro, forte nos setores de alumínio e energia), sabia que tinha pela frente um cenário promissor para mistura e distribuição de fertilizantes acabados, mas que enfrentaria muitos desafios para avançar na produção das principais matérias primas que compõem os adubos químicos mais usados nas lavouras. Quase 20 anos e quase US$ 3,5 bilhões em investimentos depois, a Yara se consolidou como líder em vendas do insumo no mercado brasileiro, com uma participação de cerca de 25% conquistada, em parte, graças às aquisições da Adubos Trevo, em 2000, da Fertibrás, em 2006, e de ativos da Bunge, em 2013. E, agora, se prepara para concluir, em 2020, seus dois principais projetos na área de produção, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, nos quais ainda deverá aplicar cerca de R$ 1 bilhão.
“Alcançamos uma participação de mercado importante, que tornou o Brasil a principal fronteira da Yara no mundo e que também nos garante massa crítica para influenciar a agenda do segmento no país, muito pautada por questões relacionadas à segurança e à sustentabilidade. E, com a conclusão dos projetos de produção, ficaremos mais equilibrados”, afirma Lair Hanzen, presidente da multinacional no País. Egresso da Trevo, o executivo lidera o movimento de expansão da Yara desde o início. Com o peso que ganhou, o faturamento da subsidiária brasileira já representa um quarto das vendas globais da multinacional norueguesa. No segundo trimestre deste ano, foram US$ 805 milhões de um total de US$ 3,4 bilhões. Com a conclusão dos projetos de produção e a continuidade do aumento da demanda por fertilizantes no Brasil - há 15 anos o ritmo de crescimento é duas vezes maior que a média global -, a tendência é que essa participação aumente. No Brasil também estão um terço dos cerca de 16 mil funcionários do grupo, que atua em mais de 60 países.
Por mais que Hanzen deixe claro que “market share” não é prioridade e que os atuais 25% podem variar um pouco para cima ou para baixo nos próximos anos, a Yara não está disposta a perder o que abocanhou na área de distribuição. Mas, para isso, certamente terá que ampliar sua rede de misturadoras, atualmente formada por 24 unidades espalhadas pelos principais polos agrícolas brasileiros (a mais recente foi comprada em Goiás) uma vez que a demanda doméstica por fertilizantes tem crescido entre 2% e 3% ao ano, de 700 mil a 1 milhão de toneladas, mesmo volume produzido por uma planta de mistura de pequeno porte. No momento, contudo, incertezas tributárias inibem um planejamento mais detalhado, sobretudo com a provável extinção do Convênio 100, em abril de 2020. Firmado pelos Estados do País em 1997, o acordo permitiu a redução da base de cálculo do ICMS na movimentação interestadual de insumos agropecuários como fertilizantes, defensivos e sementes, e autorizou que os Estados concedessem incentivos nas operações dentro de suas fronteiras por meio de isenção, redução ou diferimento da cobrança do imposto.
Sem o pacto, as alíquotas incidentes sobre o movimento dos insumos entre as Unidades da Federação subirão de entre 4,9% e 8,4% para entre 7% e 12%, e dentro de um mesmo Estado, onde não há cobrança atualmente, as taxas serão de entre 17% e 18%. Assim, clusters locais de distribuição dos insumos perderão competitividade. Essa expectativa reforça a importância do projeto da Yara em Rio Grande (RS). A partir de investimentos totais da ordem de R$ 1,8 bilhão, o projeto prevê a duplicação da unidade, cuja produção chegará a 1,2 milhão de toneladas e a capacidade de mistura alcançará 2,6 milhões de toneladas. Não há extração de matérias-primas no local, mas o complexo está estrategicamente localizado. No porto próprio da empresa em Rio Grande chegam matérias primas importada, mais de 80% da demanda brasileira por adubos, compostos basicamente por fosfato, potássio e nitrogênio, é atendida por importações. No complexo há etapas do processo produtivo como beneficiamento realizadas antes dos trabalhos de mistura, feitos em duas unidades.
Paralelamente, a Yara continua a trabalhar no projeto de mineração de rocha fosfática e produção de fosfatados de Serra do Salitre (MG), 100% incorporado com a aquisição de ativos da Galvani, que terá capacidade para 1 milhão de toneladas por ano. Já foram investidos no projeto R$ 2,5 bilhões e a primeira fase, de produção de rocha e beneficiamento, foi concluída. Com mais R$ 600 milhões a R$ 700 milhões, está em curso a segunda fase, que permitirá que a rocha seja transformada em fertilizante. Enquanto isso, segundo Hanzen, Salitre já abastece a planta da empresa em Paulínia (SP). Salitre é o principal projeto da empresa no Brasil e no mundo, reitera o executivo. Ainda em produção, vale lembrar que a Yara adquiriu em 2017 os ativos remanescentes de fertilizantes da Vale em Cubatão (SP), com foco em fosfatados e nitrogenados, estes últimos são o carro-chefe da Yara no mercado global. E que, em 2018, a companhia inaugurou em Sumaré (SP) sua primeira unidade de fertilizantes foliares e micronutrientes fora da Europa, que demandou aporte de R$ 100 milhões. Fonte: Valor Online.