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01/Ago/2019

Agricultura Digital: Embrapa lança uma plataforma

A Embrapa pretende estimular o avanço da agricultura digital com o objetivo de fomentar as agtechs, startups do agronegócio e multiplicar o número de soluções em solo brasileiro, segundo Celso Moretti, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa que assumiu interinamente a presidência da instituição no dia 17 de julho. O primeiro passo envolveu a criação de uma plataforma para compartilhar informações sobre culturas, sistemas de produção e zoneamento de risco climático, batizada de AgroAPI. Trata-se de banco de dados, armazenado em sistema de computação em nuvem, disponível para empresas, pesquisadores e empreendedores interessados na agricultura digital. A iniciativa coloca a Embrapa no papel de articuladora, munindo soluções digitais com o conhecimento gerado em seus laboratórios. Traz para o setor um ambiente de colaboração equivalente ao encontrado nos Estados Unidos, França e Austrália.

As startups possuem um enorme potencial para transferir conhecimento ao mercado. O acesso gratuito à plataforma é limitado, mas o suficiente para testes. A ideia é rentabilizar a plataforma, por meio de assinaturas, garantindo verba para atualização constante e crescimento da base. O sistema criado pela Embrapa ataca um problema comum: a escassez de dados organizados, padronizados e confiáveis. A questão das informações foi abordada no relatório mais recente da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) sobre o uso de tecnologias digitais na agricultura e nas zonas rurais. Segundo o estudo, a falta de padrão é fator crítico para o avanço das soluções. Outro ponto relevante é a propriedade do dado, importante para definir quem terá acesso e o que pode ser feito com ele. As séries históricas da Embrapa balizam as políticas públicas e a pesquisa para o agronegócio no Brasil. Fomentar a agricultura digital é um movimento importante para o Brasil.

A Embrapa, que – por meio da geração e transferência de conhecimento – tem participado ativamente dos avanços na agropecuária brasileira, desembarca de vez na chamada revolução digital, que, segundo a FAO, transformará o sistema alimentar, afetando agricultores, fornecedores de insumos, empresas de processamento, varejo e consumidores. A digitalização também é vista como alavanca para a inovação e deve resolver a difícil equação de levar tecnologia a propriedades rurais de todos os portes. Não é à toa que programas de estímulo para agtechs pipocam pelo globo. Segundo relatório da FAO, a União Europeia está empenhada no estímulo aos ecossistemas de inovação – conectando startups, empresas, investidores, aceleradoras e universidades. Em 2017, a entidade contou 830 mil empresas orbitando os 20 principais centros europeus de startups. Juntas, elas geram 4,5 milhões de empregos e faturam 420 bilhões de euros. O avanço econômico dessas empresas depende do sucesso das novatas. O capital de risco também acordou para a revolução digital agrícola.

Em 2018, as agtechs atraíram investimentos de US$ 16,9 bilhões, 43% superior ao registrado em 2017. De acordo com a FAO, o Brasil tem atraído recursos. O estudo calcula – com base na produção agrícola global de US$ 1,2 trilhão – que a tecnologia vai promover aumento de 70% no rendimento do agronegócio até 2050, gerando ganhos de US$ 800 bilhões. O número depende da capacidade do setor em adotar, de forma gradual, soluções como drones, internet das coisas, robótica, blockchain, inteligência artificial e big data. O banco de dados da Embrapa é uma ferramenta capaz de engajar o setor produtivo e ampliar o número de agtechs no país. A Embrapa estima em 600 as startups ligadas ao agronegócio no Brasil (não há um censo sobre agtechs). A preocupação da Embrapa é com a cobertura dos serviços de telecomunicações. No Brasil, 65% das propriedades rurais não possuem conectividade. Este é um grande entrave, segundo Moretti.

Outro movimento é a conexão entre os agentes do ecossistema de inovação, aproximando startups, empresas de grande porte e instituições de ensino. Em junho, durante o I Encontro de Negócios para Agricultura Digital, realizado em Campinas, a Embrapa lançou um programa de aceleração em parceria com a Venture Hub e apoio da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). Os dados vão servir para projetos ligados diretamente aos processos de produção no campo, além de abastecer startups de outros segmentos. Na produção agropecuária, a novidade está no acordo de cooperação firmado entre a unidade de meio ambiente da Embrapa, o Instituto de Pesquisas Eldorado e a operadora de telecomunicações Claro. O objetivo, afirma Diego Gomes, gerente de negócios de internet da Claro, é atender à demanda agropecuária por soluções de conectividade.

O projeto vai além da instalação de torres e antenas e prevê uma arquitetura de informática capaz de receber informações de sensores e armazená-las em sistema de computação em nuvem – automatizando a coleta, em tempo real, de dados. A ênfase está em projetos que unem bioeconomia e internet das coisas (IoT). O desenvolvimento e os testes das soluções serão realizados no campo experimental da Embrapa em Jaguariúna (SP), uma fazenda conectada. Serão espalhados sensores pela propriedade. A expectativa é que o experimento defina caminhos e técnicas para coletar os dados que vão alimentar soluções de aprendizado de máquina e de inteligência artificial, resultando em aplicativos e sistemas capazes de auxiliar o agricultor a tomar decisões. Entre as tendências, Gomes aponta as startups que têm se dedicado a analisar os impactos ambientais. Outro fator importante é a visão sistêmica. Quem atua no agronegócio tem de pensar em como os insumos do campo fluem na cadeia produtiva. A agricultura e a indústria 4.0 andam de mãos dadas, e a informação coletada na lavoura vai influenciar a planta fabril. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.