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09/Mai/2019

Máquinas agrícolas: falta de recursos afeta setor

Em uma cerimônia ofuscada, à época, pela polêmica tabela de fretes mínimos para o transporte de carga, o governo federal anunciava, em 6 de junho de 2018, R$ 194,37 bilhões para o Plano Agrícola e Pecuário 2018/2019. Desse total, R$ 153,7 bilhões teriam juros subsidiados pelo governo. A queda de 1,5% nos juros do crédito agrícola, para entre 5,25% a 9,5% ao ano, foi motivo de comemoração do agronegócio. Vinte dias depois, outros R$ 31 bilhões foram divulgados para a agricultura familiar, com juros de 2,5% a 5,5% ao ano. No total, produtores brasileiros teriam mais de R$ 225 bilhões para plantar, tratar, colher, armazenar e comercializar a safra nos 12 meses entre julho de 2018 e junho de 2019. Mas, em dezembro do ano passado, no fim do mandato do ex-presidente Michel Temer, começaram a faltar recursos. O cenário só piorou desde então e se tornou crítico.

Pouco depois de assumir, o governo do presidente Jair Bolsonaro informou aos bancos repassadores que a torneira do crédito controlado estava fechada. Vieram alguns momentos de afago do setor público, com remanejamentos e liberações pontuais. Recentemente, foram R$ 125 milhões para o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) e cerca de R$ 1 bilhão, em duas etapas, ao Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota). Foram migalhas jogadas aos pombos. O dinheiro foi consumido em dias por produtores que já encaram os juros livres e temem novas altas no próximo Plano Safra, a ser anunciado em 12 de junho. Dados do Ministério da Agricultura apontam nos dez primeiros meses de safra 2018/2019, a contratação de crédito rural somou R$ 142 bilhões.

Considerando que esse desembolso exclui a agricultura familiar, ainda faltariam R$ 52,37 bilhões em recursos para dois meses até o fim do atual período. No mesmo levantamento, o Ministério da Agricultura cita a queda de 10% nos desembolsos para a comercialização entre as safras e informa que a redução pode ser "reflexo da conjuntura dos preços de mercado e o fato de o produtor rural não necessitar contratar esta finalidade de financiamento para armazenar o seu produto e aguardar para comercializar quando os preços estiverem melhores". Sim, nota distribuída pela Pasta informa que o agricultor não necessitou de crédito para armazenar o produto e vendê-lo em um momento mais oportuno. Na prática, a queda foi mais na oferta do que na demanda. E a pouco mais de um mês do anúncio do Plano Agrícola e Pecuário 2019/2020 e a dois meses do início da liberação de recursos para o próximo período, nenhum agricultor vai tomar crédito no mercado. Nesse período, ao menos duas grandes feiras agrícolas ocorrem no País: a AgroBrasília 2019, de 14 a 18 de maio, e a Bahia Farm Show, de 28 de maio a 1º de junho.

Antes mesmo das feiras, o setor de máquinas agrícolas perdeu fôlego. As vendas caíram 24,8% em abril ante igual mês do ano passado e 17,5% sobre março, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A produção subiu 1% entre março e abril, mas recuou 10% na base de comparação anual. Sem crédito e sem sinalização do governo de como será o próximo Plano Safra, a indústria que sustenta o agronegócio brasileiro "está no escuro" e enfrentará incertezas até julho, quando haverá a liberação de crédito novo, segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso. A descontinuidade nas fábricas aumenta o custo e deprecia equipamentos. É um perigoso limbo de dois meses em uma das cadeias do setor de bens de capital que ainda vai bem. Fonte: Gustavo Porto. Agência Estado.