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03/Mai/2019

Máquinas: John Deere quer regras claras no PAP

A John Deere engrossa o coro do setor e pede ao governo brasileiro que anuncie regras claras e recursos disponíveis para todo o Plano Agrícola e Pecuário 2019/2020. A avaliação de executivos da maior companhia global de máquinas agrícolas é que se o governo optar por não disponibilizar recursos com juros controlados a grandes produtores e dar prioridade a essas linhas para os pequenos agricultores, que isso fique claro no comunicado, previsto para 12 de junho. Para a companhia, a aplicação de uma política totalmente liberal do atual governo para o setor agrícola, com o corte total do crédito subsidiado, só acontecerá quando o custo Brasil diminuir.

Ou seja, a transição para o mercado livre de suporte público depende da aprovação da Reforma da Previdência e a consequente reestruturação da questão fiscal do País. Na conversa, Randal Sergesketter, um dos vice-presidentes sêniores da Deere & Company; Rodrigo Bonato, diretor de Vendas Brasil da John Deere; Alex Sayago, diretor global de Desenvolvimento de Negócios; e Alfredo Miguel, diretor de Assuntos Corporativos da América Latina da companhia, avaliaram também que o agronegócio brasileiro e de países vizinhos, como Argentina e Paraguai, conseguem se descolar de crises econômicas locais. Além disso, essas nações se tornaram celeiros de abastecimento da China e justificam os investimentos da companhia. Leia abaixo a entrevista concedida durante a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP):

Qual a importância do Brasil para o mercado global da John Deere?

R: O Brasil é o segundo mercado global da companhia, atrás apenas dos Estados Unidos. A demonstração dessa importância é o que vemos aqui (na Agrishow), com lançamentos como o da colheitadeira de grãos S700, apresentada no mercado norte-americano no ano passado e que está aqui este ano, além da inédita colhedora de cana-de-açúcar CH950. Continuamos investindo em processos, pessoas e nas fábricas no Brasil para melhorar a qualidade de produtos, principalmente com o crescimento da agricultura de precisão. Estamos absolutamente comprometidos com os produtores do Brasil e muito impressionados com a Agrishow, que é a chave dessas novas tecnologias para o País.

Por falar em conectividade, o grande problema da agricultura de precisão no Brasil é a falta dessa facilidade nas lavouras...

R: Sergesketter - Temos gaps e as pessoas trabalham para fechar os gaps de comunicação no País. Isso não impede a companhia de criar os equipamentos.

Alfredo Miguel Neto - No ano passado anunciamos a parceria com a Trópico para levar a conectividade ao campo e esse ano o projeto é comercial. No momento em que o mercado, de alguma forma, não constrói essa conectividade, a John Deere trouxe a solução aos clientes. Uma máquina pode ser um meio de comunicação, virando um roteador para um celular no campo, para um pequeno produtor.

Como a companhia avalia a situação econômica do Brasil, um país que, mesmo com um novo governo, não cresce e segue com alto desemprego?

R: Sergesketter - Não queria dar a opinião, mas é uma situação que impacta os concessionários. Mas seguimos oferecendo produtos para a redução nos custos ao agricultor com o uso da tecnologia e ganhos de produtividade. Mesmo nos momentos mais desafiadores, como o do setor de cana-de-açúcar, que tem uma indústria pressionada há anos, fizemos investimentos grandes em produtos.

Rodrigo Bonato - Mesmo com os momentos de estagnação, a companhia segue investindo no Brasil. Em Catalão (GO) (onde fica a unidade de colhedoras de cana e pulverizadores), foram mais de US$ 550 milhões em dez anos. Construímos duas fábricas recentemente no País e temos safras boas que trazem otimismo para o setor.

Como a crises em mercados vizinhos, como o da Argentina, impactam nas operações brasileiras da John Deere?

R: Sergesketter - Argentina é outro mercado grande e importante. Temos uma fábrica em Rosário e o mercado também é abastecido também pela unidade brasileira de Horizontina (RS). As fábricas geram empregos e a presença dá uma importância socioeconômica ao País. A visão de longo prazo é muito importante para esse processo. As aquisições da King Agro, em março de 2018, e da PLA, em setembro de 2018, na Argentina, são exemplos desse investimento.

Alex Sayago - Brasil, Argentina e Paraguai têm vocação agrícola importante e, apesar das dificuldades, o setor segue avançando nas regiões.

Miguel Neto - A região é um exemplo de oportunidades quando a China se volta para a América do Sul, onde têm alimentos para ser vendidos. É a oportunidade para que o setor (agropecuário) desses países se descole dos fatores econômicos.

O setor de máquinas agrícolas cresceu muito no Brasil com subsídio público ao crédito agrícola. Mas esse fomento público acabou na atual safra e a política do atual governo é de menos suporte do Estado para a próxima safra. Qual o impacto disso para o mercado de máquinas?

R: Miguel Neto - Essa visão liberal do governo vai acontecer, mas que aconteça quando o custo Brasil diminuir. É importante a transição para o mercado livre e, para isso, a Reforma da Previdência precisa ser aprovada para estruturar a questão fiscal e tornar o mercado mais saudável. Enquanto isso não ocorre, no caso do Moderfrota o interesse é a defesa pela previsibilidade, que os recursos possam durar o ano-safra e sejam anunciados antecipadamente. O comunicado que o governo fizer precisa ser claro. Falam que grandes produtores não terão recursos equalizados, e sabemos que esses têm linhas de crédito atrativas em bancos privado. Mas isso precisa ser anunciado o mais breve possível. É importante que siga com taxas de juros fixas e não pós-fixadas. O produtor não quer o pós-fixado e exemplo disso foi que R$ 470 milhões dessa linha na atual safra foram remanejados (para dar suporte ao Moderfrota). É preciso ficar claro onde vai ser o enquadramento entre grande, médio e pequenos produtores. E pequenos produtores ainda precisam de linhas de crédito equalizadas. É importante que o mercado conheça isso, para se ajustar e cobrir a demanda que, por ventura, exista dos grandes para médios. Ainda precisamos equalização, mas o importante é ter clareza no plano safra, que os recursos durem o ano inteiro e que haja essas pré-condições.

Fonte: Gustavo Porto. Agência Estado.