28/Oct/2025
A AgroGalaxy fechou o segundo trimestre de 2025 com prejuízo líquido ajustado de R$ 136 milhões, redução de 62,5% ante os R$ 362 milhões negativos registrados no mesmo período de 2024. O resultado marca o avanço na execução do plano de recuperação judicial, homologado em maio, e reflete a consolidação de uma estrutura operacional mais enxuta, focada em eficiência e rentabilidade. "Os resultados do 2T25 refletem a execução disciplinada do nosso plano de recuperação judicial e a transição para um modelo de negócio mais sólido e financeiramente sustentável", afirmou o CEO Eron Martins. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado permaneceu negativo em R$ 96,9 milhões, mas apresentou melhora de 16,2% comparado aos R$ 83,4 milhões negativos do segundo trimestre de 2024. A margem Ebitda ajustada ficou negativa em 38,6%, ante os 7,9% negativos do ano anterior. A companhia conseguiu cortar 53% das despesas gerais e administrativas no período, economizando R$ 68 milhões na comparação anual.
A receita líquida totalizou R$ 251,2 milhões, queda de 76,2% ante os R$ 1,06 bilhão do segundo trimestre de 2024. O faturamento foi composto por R$ 114 milhões em insumos agrícolas, recuo de 43,2%, e R$ 137 milhões em originação de grãos, queda de 84%. O recuo reflete o menor porte da empresa após o fechamento de mais de 100 lojas desde o início da recuperação judicial, em setembro de 2024, quando operava 169 unidades. A empresa encerrou o trimestre com 63 lojas, 14 silos e uma unidade de sementes, presentes em nove Estados e 649 municípios. Eron ressaltou que o desempenho deve ser analisado considerando a sazonalidade do agronegócio. "O segundo trimestre é o trimestre mais pobre de faturamento, historicamente no agronegócio. É um trimestre de encarteiramento. O que a gente busca aqui, já que não se fatura, é preparar o encarteiramento visando o segundo semestre, que é onde realmente acontecem os números que garantem o fechamento do ano", disse.
A margem bruta ajustada ficou negativa em 1,2% da receita líquida no trimestre, revertendo os 4,8% positivos do segundo trimestre de 2024. Na divisão de grãos, a margem ficou negativa em 5,4%, contra 1,4% positivo um ano antes. Na divisão de insumos, a margem caiu de 19,5% para 3,8%. O CFO Luiz Conrado Sundfeld explicou que o impacto nas margens decorreu principalmente do faturamento de estoque antigo durante o trimestre. "A gente faturou no segundo trimestre o estoque antigo, e do faturamento do terceiro trimestre em diante você vai começar a ver as negociações com os nossos fornecedores parceiros", afirmou. O executivo acrescentou que, até a aprovação do plano, em abril, não havia negociação efetiva com fornecedores. “Até aprovar o plano, diálogo com fornecedor era assim: ‘vou te ajudar’, mas não tinha negociação”, disse. A situação mudou após a homologação em maio, permitindo recompor as condições comerciais. A companhia manteve a estratégia de enriquecimento do mix de vendas, com especialidades representando 18% da receita de insumos no trimestre.
Produtos de especialidades exigem maior conhecimento técnico e oferecem margens superiores aos commodities tradicionais, como fertilizantes. A publicação dos resultados foi adiada duas vezes para permitir o trabalho contábil de transformação das dívidas antigas em dívidas de longo prazo. "Quando você tem a aprovação e homologação do plano, você tem todo um trabalho braçal dentro da contabilidade para transformar aquelas dívidas do passado, sejam dívidas de banco, sejam dívidas com fornecedor, no que foi aprovado no plano", explicou Eron. Ele comparou o fechamento do trimestre a um fechamento anual. "Quando a gente faz um fechamento anual aqui, a gente fecha em dezembro e publica o resultado em abril. Então, é normal que se peça algo em torno de 4 meses para fazer isso." O plano de recuperação judicial, aprovado por 82,4% dos credores, prevê o reperfilamento de R$ 4,6 bilhões em dívidas com carência de dois a três anos e amortização estendida por até 16 anos.
A AgroGalaxy encerrou o segundo trimestre de 2025 com carteira de pedidos de R$ 325 milhões, cerca de metade dos R$ 600 milhões registrados no mesmo período do ano anterior. Mais de um terço desse volume já foi faturado nos primeiros 30 a 40 dias do terceiro trimestre, segundo o CEO Eron Martins. A antecipação das entregas faz parte da estratégia de reconstrução de credibilidade junto ao produtor rural após a recuperação judicial. “O maior desafio para uma empresa que passa pelo processo que nós passamos é a recuperação da confiança. E só tem um jeito de recuperar a confiança: é cumprir o combinado”, afirmou. O segundo trimestre é historicamente o período de menor faturamento para as distribuidoras de insumos, marcado pelo encarteiramento, a formação de pedidos que sustenta o desempenho comercial do segundo semestre. Neste ano, o movimento coincidiu com a aprovação e homologação do plano de recuperação judicial.
“O segundo trimestre aconteceu no momento em que se questionava se aprova ou não aprova o plano, se homologa ou não homologa. A gente poderia ter um efeito por parte do produtor de esperar para ver o que vai acontecer”, disse Eron. Segundo ele, isso não ocorreu. “O produtor sentou e fez negócio com a gente como fazia no ano passado. O número dele só vai ser menor porque a gente diminuiu de tamanho.” O executivo contou que alguns produtores voltaram a negociar após a aprovação do plano. “A gente teve até algumas oportunidades de produtor voltar a sentar com a gente para fazer negócio, porque via que a aprovação do plano tinha acontecido”, afirmou. A companhia manteve ênfase nas operações de barter, que responderam por cerca de 50% das vendas no trimestre. No barter, o produtor paga os insumos com grãos. “A gente faz negociação através da relação de troca; é o idioma mais saudável para negociação, tanto do nosso lado quanto do produtor”, disse Eron. O modelo também alimenta o giro dos silos próprios, que seguem recebendo milho e soja.
Regionalmente, a companhia identificou desafios em Mato Grosso, onde a janela de negócios se antecipa ao restante do País. “Como o nosso plano foi aprovado em abril, a gente tem uma menor participação pontualmente agora em Mato Grosso”, disse Eron. O Estado já discute a safra seguinte em novembro, enquanto outras regiões estão em fases anteriores do ciclo. O CEO citou o Vale do Araguaia como área mais sensível em crédito. “É uma região que vem sofrendo já um certo tempo com seca, com instabilidade climática, e ali o nível de endividamento do produtor está maior”, afirmou. Em contrapartida, o Cerrado goiano e a região do Matopiba apresentaram melhor desempenho. “A gente conseguiu aproveitar as boas regiões do Goiás e do Matopiba, pelo relacionamento que a gente tinha com os bons clientes que continuaram conosco”, disse. A companhia manteve os estoques em níveis considerados saudáveis, entre 15% e 20% da necessidade de venda, patamar inferior aos 35% praticados no passado. Com o ritmo recente de faturamento, esse índice se aproxima de 10%.
“Tem produto que não está saindo nem do caminhão; ele desce do caminhão direto para o produtor”, contou Eron, destacando o giro mais ágil e o foco em eficiência operacional. A AgroGalaxy terá conversão obrigatória de pelo menos R$ 280 milhões em dívidas para capital próprio, conforme previsto no plano de recuperação judicial homologado em maio. O valor pode chegar a R$ 320 milhões, dependendo de condições negociadas com os credores. A informação foi confirmada pelo CFO Luiz Conrado Sundfeld. "O valor mandatório quer dizer que é convertido, não é opção. A opção é quando e não quanto. São R$ 280 milhões", explicou. Esse tipo de operação permite transformar parte das dívidas da empresa em participação acionária, reduzindo o endividamento sem necessidade de desembolso imediato de caixa. O montante ainda não foi registrado no balanço porque há variação possível sobre quanto será convertido e qual será o valor das ações no momento da troca. "Porque existe essa opcionalidade do quanto, obviamente varia também a que preço", afirmou Sundfeld.
A conversão faz parte da reestruturação financeira da AgroGalaxy, aprovada por 82,4% dos credores. O plano também prevê o alongamento de R$ 4,6 bilhões em dívidas, com prazos de carência de dois a três anos e amortização em até 16 anos. "As dívidas foram divididas em diferentes categorias, como bancos, fornecedores e detentores de debêntures, cada uma com prazos e condições próprias de carência e amortização", disse o CEO Eron Martins ao detalhar o cronograma de pagamentos. A transformação de dívida em participação acionária é comum em processos de recuperação judicial de empresas listadas em bolsa, pois permite reduzir o passivo sem desembolso imediato. Para os credores, a conversão representa a oportunidade de participar de eventual recuperação de valor da companhia no longo prazo, ainda que implique diluição dos acionistas atuais. A companhia manteve R$ 250 milhões em caixa ao fim do segundo trimestre, nível semelhante ao do ano anterior, mas agora com compromissos financeiros reestruturados e dois anos de carência antes do início dos pagamentos das novas dívidas.
"A nova configuração, mais enxuta, tem como foco a rentabilidade e a sustentabilidade financeira de longo prazo", afirmou Eron. O CEO destacou que o reforço no caixa e a conversão de parte da dívida em capital ajudam a dar fôlego à empresa enquanto a nova estrutura operacional é consolidada. "Continuamos construindo um caminho para nos tornarmos mais eficientes, mais focados e preparados para retomar o crescimento sustentável no médio e longo prazo", disse. A AgroGalaxy entrou em recuperação judicial em setembro de 2024, após acumular prejuízo de R$ 2,48 bilhões no ano, pressionada por quebras de safra, volatilidade de preços de commodities e restrição de crédito no agronegócio. Desde então, promoveu ampla reorganização, com fechamento de mais de 100 lojas, redução de 40% do quadro de funcionários e saída de três Estados. A nova estrutura conta com 63 lojas, 14 silos e uma unidade de sementes, distribuídas em nove Estados. Fonte: Broadcast Agro.