23/Oct/2025
A Fitch Ratings rebaixou de para "CCCsf(bra)" as notas de crédito de seis séries de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) da Vert Securitizadora, lastreados em operações da Belagrícola. O corte atinge as séries sênior e subordinadas (mezanino A e mezanino B) das 91ª e 92ª emissões, que totalizam R$ 500 milhões. O rebaixamento ocorre após a 11ª Vara Cível e Empresarial de Londrina (PR) conceder, em 10 de outubro, tutela cautelar à Belagrícola suspendendo por 60 dias execuções judiciais e cobranças de dívidas. A medida tem caráter temporário e busca permitir que a distribuidora de insumos, controlada pelo grupo chinês Pengdu, negocie com credores em mediação extrajudicial. Segundo a Fitch, a decisão reflete "a deterioração na percepção da qualidade de crédito da originadora" após a concessão da tutela. A Belagrícola é responsável por selecionar e administrar os recebíveis que lastreiam os CRAs, além de realizar operações de barter, nas quais produtores quitam insumos com grãos. "Esse mecanismo de pagamento é voluntário e não constitui obrigação conforme os documentos das transações", afirmou a agência.
"Embora tenha beneficiado os CRAs ao priorizar o pagamento dos recebíveis, o desempenho das operações depende fortemente desse arranjo." A Fitch avaliou que o risco de crédito das emissões está cada vez mais próximo da própria capacidade financeira da Belagrícola. As duas emissões foram estruturadas em janeiro de 2024, com vencimento final em novembro de 2026. Cada uma conta com quatro séries - sênior, mezanino A, mezanino B e júnior. Esta última não é avaliada pela Fitch e foi integralmente adquirida pela Belagrícola. O Terra Investimentos foi o coordenador-líder, a Oliveira Trust atua como agente fiduciário e a Vórtx como escrituradora. A remuneração é atrelada ao CDI: as séries sênior rendem CDI + 2,55% ao ano, as mezanino A CDI + 4,50%, e as mezanino B CDI + 5,50%. Os juros são pagos semestralmente nas séries sênior, trimestralmente nas mezanino A e mensalmente nas mezanino B. O principal vence em novembro de 2026. Os títulos estão em carteiras de fundos do agronegócio negociados na B3.
O JGP Crédito Agro (JGPX11) tem cerca de 6% do patrimônio aplicado nesses papéis; o Valora Agro (VGIA11), 8,8%; e o Capitânia (CPTR11), 2%. Em 16 de outubro, após a divulgação da tutela, as cotas do JGPX11 caíram 8,44% (de R$ 70,07 para R$ 64,55), e a bolsa pediu esclarecimentos sobre a oscilação. Em fato relevante de 17 de outubro, a JGP Asset informou que não espera impacto nos pagamentos de principal e juros até o fim de 2025. A gestora destacou haver R$ 65 milhões em conta vinculada para a próxima amortização de principal, prevista para 31 de outubro, e para três parcelas de juros seguintes. Os CRAs contam com cessão fiduciária de recebíveis de grãos junto a uma trading classificada como "AAA" e aval da LandCo, empresa do grupo Belagrícola. De acordo com a Fitch, os ativos das transações estão "alocados em estruturas isoladas e desvinculadas da originadora", com gatilhos que interrompem a revolvência e permitem acelerar amortizações se houver deterioração da carteira. Em setembro, o saldo da 91ª emissão era de R$ 225,5 milhões e o da 92ª, de R$ 244,9 milhões.
Até aquele mês, todos os pagamentos de juros foram feitos conforme os termos de securitização. Este é o segundo rebaixamento em sete meses. Em março, a Fitch havia reduzido as notas das séries sênior de "AAsf(bra)" para "A-sf(bra)", das mezanino A de "AA-sf(bra)" para "BBB+sf(bra)", e das mezanino B de "A+sf(bra)" para "BBBsf(bra)". Apesar da nova revisão, a agência informou que "os ratings ainda refletem a expectativa de pagamento integral de principal e juros até o vencimento final das operações, em novembro de 2026". A Belagrícola tem 52 filiais e capacidade de armazenamento de 1,5 milhão de toneladas em 58 silos. No balanço de 2024, a empresa registrou receita de R$ 4,7 bilhões e prejuízo líquido superior a R$ 400 milhões. Em nota, afirmou ao Broadcast Agro que "como outras empresas do agro, tem sido impactada por desafios econômicos e climáticos, incluindo inadimplência elevada, e por isso busca alternativas para reorganizar suas finanças". A consultoria Pine Agronegócios avalia que a Belagrícola deve recorrer a uma reorganização extrajudicial com apoio financeiro e venda de ativos nos próximos meses, movimento que permitiria manter as operações e evitar recuperação judicial. Fonte: Broadcast Agro.