22/Oct/2025
Apesar das altas taxas de juros que têm desacelerado a atividade econômica, o setor de infraestrutura no Brasil mantém-se aquecido. Em 2025, projeta-se um aumento de 4,16% nos investimentos em infraestrutura, totalizando R$ 277,9 bilhões, comparado aos R$ 266,8 bilhões do ano anterior, conforme a 24ª Carta de Infraestrutura da consultoria Inter.B divulgada em setembro. O que mais agrada aos especialistas e empresários do setor de infraestrutura é que, assim como no ano passado, em torno de 70% do total investido, algo como R$ 194,53 bilhões, virá do setor privado. O restante (pouco mais de R$ 80 bilhões) virá de recursos públicos. Os investimentos deste ano estão sendo direcionados principalmente para energia elétrica, saneamento básico, e setor de transportes, incluindo rodovias, ferrovias e mobilidade urbana.
Chama atenção o impulso de investimento em saneamento básico (água e esgoto - A&E) e a relevância do setor privado, pela primeira vez dominante no setor, em grande medida reflexo do novo marco institucional e seu papel transformador. O BTG Pactual ressalta o papel crucial do setor privado no financiamento dos projetos de infraestrutura e sua contribuição para o crescimento do PIB. Apesar de a taxa de investimento geral no Brasil ainda ser baixa devido aos juros elevados, o investimento em infraestrutura não está diminuindo. As concessionárias de serviços de infraestrutura, a grande maioria delas, estão emitindo dívida mesmo com juros altos para fazer o investimento. Se perguntar a uma empresa de saneamento se ela está investindo menos, ela vai responder que não, que continua investindo o necessário para cumprir com os cronogramas. A mesma coisa ocorre no segmento de concessionárias de rodovias federais. No ano passado, o Brasil fez 12 concessões de rodovias federais. Este ano deve fechar com o mesmo número.
Trata-se de um grande salto já que a média em 25 anos é de 2 a 3 concessões por ano. Dos R$ 2,4 trilhões em gastos públicos programados para este ano, cerca de R$ 80 bilhões serão destinados a investimentos, repetindo os números do ano passado. Isso sinaliza que o governo reconhece a necessidade de parcerias com a iniciativa privada para realizar os investimentos indispensáveis à infraestrutura no País. O governo está sendo muito pragmático porque a única forma de aumentar o investimento no Brasil é investimento privado, é concessão. Então, está bem forte nessa agenda. No ano passado, o governo colocou R$ 20 bilhões no Fundo de Investimento em Infraestrutura Social (FIIS) para financiar obras e aquisição de equipamentos em áreas como saúde e educação, o que significa que o investimento público em infraestrutura pesada no ano passado ficou entre R$ 60 bilhões e R$ 65 bilhões. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) está satisfeita e otimista com o futuro da infraestrutura no Brasil.
A entidade não economiza nos elogios ao governo Lula, principalmente neste terceiro mandato, que tem estado aberto, sem preconceitos, às Parcerias Público-Privadas (PPPs). O governo tem feito parcerias com o setor privado, leilões para concessões de rodovias e retomou projetos grandes como os de morarias populares (Minha Casa, Minha Vida). Destaque também para o progresso em projetos de saneamento básico a nível federal e em governos subnacionais. Isso se deve ao Marco Legal do Saneamento Básico, aprovado em duas etapas. Pela Lei nº 11.445/2007, aprovada durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, estabelecendo as diretrizes nacionais para o setor de saneamento básico no Brasil. A BR Infra Group aponta que os investimentos atuais são frutos de reformas acumuladas ao longo dos anos, incluindo o PPI, que visava atrair investimentos privados através de concessões e privatizações. O PPI foi um programa para atrair investimentos privados em infraestrutura, incluindo concessões e privatizações de aeroportos, ferrovias, rodovias e energia.
Criado em 2016, a ideia era modernizar a infraestrutura do País através da parceria entre o setor público e o privado, incluindo projetos que já haviam sido formulados em governos anteriores. Característica peculiar dos investimentos atuais em infraestrutura, que abarcam projetos de longuíssimos prazos, é a de não se curvarem sob o peso da elevada taxa básica de juro brasileira, a Selic. Mesmo com o Banco Central tendo elevado a 15% ao ano a taxa de referência da economia, o setor deve receber neste ano investimentos da ordem de R$ 277,9 bilhões, valor acima do investido em 2024, ano em que o juro nominal fechou em 12,50%. O BTG Pactual explica que os empresários do setor de infraestrutura acreditam que os juros altos durarão apenas até o próximo ano. A expectativa é de que o juro caia para um dígito em 2027. As empresas estão emitindo dívidas com taxas flutuantes, vinculadas à inflação ou às taxas de Depósito Interfinanceiro, o que pode reduzir significativamente os custos caso os juros caiam.
Ninguém está preparado para três anos de juros altos. Há esperança muito grande que a partir de 2027 o Brasil adote um ajuste fiscal que traga realmente mais confiança para o mercado, que leve a inflação a convergir para a meta, o reduziria os juros. Para a BR Infra Group, os investimentos em infraestrutura estão sendo feitos, mas em função de contratos firmados antes de a taxa de juro ter atingido os atuais 15% ao ano. As novas concessões serão afetadas futuramente pelo nível atual da Selic. Os investimentos que estão sendo feitos resultam dos efeitos acumulados das várias reformas feitas na última década, num ambiente de juro mais baixo. Mas, daqui para a frente, novos projetos sentirão os impactos do juro alto. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) tem ressalvas à elevada taxa de juro. O setor de infraestrutura vai bem, mas juros menores contribuiriam para o Brasil se aproximar da taxa de investimento necessária para um crescimento sustentável por prazo mais longo.
A consultoria Inter.B, na 24ª edição de sua Carta de Infraestrutura, alerta que, apesar dos investimentos atuais, o volume agregado ainda é insuficiente para universalizar o acesso a serviços de qualidade. Os investimentos em infraestrutura devem continuar crescendo puxados, principalmente, pelos projetos de energia elétrica e petróleo e saneamento básico. No caso de saneamento, a mudança da lei foi antes do atual governo. Mas vários governadores estão fazendo concessões em saneamento, o que é algo muito positivo. Mesmo Estados que têm problema fiscal, como o Rio de Janeiro, estão mantendo investimento em saneamento. Em rodovias também as concessões têm aumentado. Inclusive o governo federal renegociou contratos antigos que estavam dando prejuízo para as concessionárias. E portos continuam com concessões e vários Estados também fizeram concessões. A agenda de concessão está andando. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.