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22/Oct/2025

Ambipar entra com pedido de recuperação judicial

O Grupo Ambipar anunciou na noite de segunda-feira (20/10) que entrou com pedido de recuperação judicial na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. A decisão foi tomada em caráter de urgência pelo conselho de administração, incluindo a Environmental ESG Participações e suas afiliadas. Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa destaca que o pedido de recuperação judicial foi ajuizado em razão da sequência de eventos deflagrada após a descoberta de indícios de irregularidades na contratação de operações de swap pela diretoria financeira e a renúncia abrupta do antigo diretor financeiro. O episódio, afirma, resultou em forte abalo na confiança do mercado em relação ao Grupo Ambipar e culminou em pedidos de antecipação de vencimento de dívidas por parte de alguns credores, criando risco concreto de vencimento cruzado de outras obrigações do Grupo.

Nesse contexto, acrescenta, a tutela cautelar e o posterior pedido de recuperação judicial foram apresentados para garantir a preservação das atividades empresariais do Grupo Ambipar, permitindo a continuidade de suas operações e a manutenção dos empregos, contratos e serviços prestados. A medida também busca assegurar tratamento equitativo aos credores e promover uma reorganização ordenada e transparente, em conformidade com os princípios estabelecidos na Lei nº 11.101/2005, visando resguardar o valor econômico e social do Grupo Ambipar, atendendo, de forma organizada, aos interesses de seus credores, trabalhadores, acionistas e demais stakeholders, ressalta. A empresa informa ainda que, diante das mesmas circunstâncias e com os mesmos objetivos, a Ambipar Emergency Response ajuizou na segunda-feira (20/10) o pedido de Chapter 11.

A companhia destaca que a ação envolve apenas a Ambipar Emergency Response, sem incluir qualquer outra sociedade do Grupo Ambipar. Segundo a companhia, seu conselho de administração também aprovou a convocação de Assembleia Geral Extraordinária (AGE), que deverá apreciar a ratificação da decisão de ajuizamento, adotada em caráter de urgência, bem como deliberar sobre a instalação do Conselho Fiscal e a eleição de seus respectivos membros. A Assembleia Geral Extraordinária da ESG, que irá avaliar as matérias, ocorrerá na mesma data da reunião da Ambipar. O Grupo Ambipar mantém suas operações normalmente e segue oferecendo serviços de excelência, com segurança, eficiência e confiabilidade, em todos os seus segmentos. Sua força de trabalho permanece plenamente mobilizada sustentando milhares de empregos diretos e indiretos, gerando impacto social e estimulando a atividade econômica, diz.

A Ambipar entregou à Justiça do Rio de Janeiro um relatório gerencial, sob sigilo, de seu fluxo de caixa, em um envelope lacrado, descreve o pedido de recuperação judicial da companhia. O relatório sigiloso inclui a projeção de caixa para os próximos dois anos. Essa é justamente a maior dúvida do mercado, o que aconteceu com o caixa de R$ 4,7 bilhões que a empresa reportou no balanço do segundo trimestre. Desse total, a companhia alegava ter R$ 2 bilhões com disponibilidade imediata. A Ambipar enviou ao juiz outros documentos sigilosos, incluindo um relatório com a relação dos bens particulares dos sócios controladores e os extratos atualizados das contas bancárias dos requerentes e de suas aplicações financeiras. Com dívidas de quase R$ 11 bilhões, a Ambipar descreve no pedido que houve uma "corrida" dos credores a seu caixa e outros ativos do grupo, após uma cobrança do Deutsche Bank por derivativos.

Por isso o pedido de tutela na Justiça para suspender cobranças e execuções de dívidas e agora a recuperação judicial. O pedido de RJ da Ambipar é assinado pelos escritórios Salomão, Galdino e Basílio Advogados. A Ambipar informou na inicial protocolada na Justiça do Rio de Janeiro de seu pedido de recuperação judicial dívidas de R$ 10,481 bilhões, sendo R$ 10,439 bilhões quirografárias. De acordo com o documento, R$ 35,931 milhões são dívidas com fornecedores e R$ 6,281 milhões trabalhistas. No documento, a Ambipar voltou a apontar seu ex-CFO João Arruda como o responsável pela assinatura dos aditivos de derivativos contratados com o Deutsche Bank, que pressionaram a empresa a recorrer à proteção contra credores em 25 de setembro. Ao mesmo tempo, descreve a trajetória do executivo desde sua saída do Bank of América, onde participou da oferta de ações que levou a companhia para a bolsa, até a mudança no contrato de derivativos do Deutsche Bank de proteção cambial nos bonds emitidos pela Ambipar, que teria sido feita sem conhecimento dos demais executivos.

O documento também defende a instauração do caso na Justiça do Rio de Janeiro, com provas fotográficas da sede na capital fluminense, contestando ainda as provas dos bancos credores, que foram levadas ao juízo no pedido de transferência da causa para São Paulo. A defesa da tese da sede da empresa no Rio é acompanhada inclusive de parecer do professor e ex-juiz da vara de falências de São Paulo, Daniel Carnio. A inicial explica detalhadamente os motivos que levaram à cautelar de proteção contra credores, lembrando que os aditivos assinados supostamente por Arruda elevaram para R$ 170 milhões os depósitos de margem de garantia aos contratos de proteção contra variação cambial e de juro nos US$ 1 bilhão de bonds emitidos pela empresa no exterior. O não pagamento, segundo a empresa, provocaria o vencimento antecipado de uma dívida de US$ 35 milhões com o Deutsche e dos bonds, puxando outros vencimentos, como os das debêntures. Sobretudo, diz a Ambipar, a companhia se viu pressionada pela cobrança antecipada de um compromisso de US$ 120 milhões do Santander.

A Ambipar, que pediu recuperação judicial com dívidas de R$ 10,5 bilhões, tem cerca de R$ 2 bilhões desses passivos com bancos. Entre as instituições financeiras, o maior credor da companhia é o Santander, com R$ 663 bilhões, seguido pelo Banco do Brasil, com R$ 352 milhões. Na lista dos bancos credores, está também o Banco do Nordeste, com R$ 207 milhões e o Deutsche Bank, com R$ 188 milhões, este por conta de derivativos. O Bradesco aparece com R$ 165 milhões e há também bancos médios, como o Daycoval (R$ 109 milhões) e o ABC Brasil (R$ 56 milhões). No pedido de recuperação judicial, a Ambipar descreve que a decisão do Deutsche Bank de fazer uma chamada de margem por conta de um derivativo da companhia, de R$ 170 milhões, acabou gerando um processo de desconfiança no mercado sobre a situação financeira da empresa e seu caixa, desencadeando outro movimento de cobrança. Logo após o Deutsche, o Santander declarou um vencimento antecipado de US$ 120 milhões (R$ 650 milhões pelo dólar de hoje) e exigiu, segundo o documento, o pagamento em 24 horas desse valor.

Os advogados da Ambipar descrevem que se não buscasse a Justiça, mais bancos fariam o mesmo, o que "seria o gatilho para o vencimento antecipado de dívidas de todo o Grupo Ambipar". "As cobranças do Deutsche Bank, acompanhadas de ameaças de vencimento antecipado, desencadearam uma corrida dos credores, dentre eles o Banco Santander, com o potencial de sufocar de uma vez só as requerentes", ressalta o pedido de RJ. Da dívida total, os maiores credores da Ambipar são os detentores de títulos de dívida (bonds) emitidos no exterior, com US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões pelo câmbio de hoje), seguido por investidores de debêntures, com R$ 3 bilhões. Um dos principais pontos de disputa entre bancos e a Ambipar na busca da empresa por proteção das suas dívidas, a decisão sobre o foro de ajuizamento da recuperação judicial ganhou um capítulo próprio no processo apresentado nesta terça-feira (21/10). A Ambipar diz que a escolha da Justiça do Rio de Janeiro se justifica por ser a região de maior atividade do negócio.

Além de juntar fotos de uma sede da companhia no bairro de Botafogo, os advogados detalham que a capital fluminense concentra clientes com faturamento de R$ 300 milhões, superior ao apurado pelas operações em São Paulo (R$ 70 milhões) e Nova Odessa (menos de R$ 2 milhões), no interior de São Paulo, local de origem do grupo. Na petição, a empresa reconhece que São Paulo é base de uma das "maiores sedes administrativas" do grupo, onde ficam a holding e a diretoria, mas argumenta que isso não tem influência sobre a decisão de competência. "Os critérios trazidos pelos bancos para tentar deslocar a competência para a cidade de São Paulo não servem para demonstrar o local onde as Requerentes possuem maior atuação e geração de riquezas. Por outro lado, o grupo Ambipar comprovou que possui, no Rio de Janeiro, números muito maiores de faturamento, receita operacional, lucro e contratos, assim, maior volume de negócios", afirma a empresa no processo. Para sustentar o argumento, a Ambipar mostra gráficos que indicam que o Rio de Janeiro tem um peso de 81% no faturamento e 88,6% no lucro.

A Ambipar deverá responder aos credores, no âmbito do processo de discussão do plano de recuperação judicial, questões relacionadas ao seu caixa, disse fonte com conhecimento do assunto à Broadcast. Também, caberá a Ambipar explicar os motivos pelos quais ficou indisponível para pagamento da ordem de R$ 260 milhões ao Deutsche Bank, referente a contratos de derivativos e aditivos assinados, diante de um caixa e balanço robusto. A aplicação e o destino do caixa da Ambipar têm sido motivo de dúvidas e fonte de rumores no mercado, já que inesperadamente o balanço do segundo trimestre mostrou que R$ 2 bilhões dos R$ 4,7 bilhões foram direcionados a um desconhecido Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Paralelamente, após a cautelar que deu proteção contra credores em 25 de setembro, houve uma busca pelo caixa da companhia entre os bancos, que internamente não conseguiram verificar o paradeiro desses recursos.

Surgiram ainda notícias na mídia de que R$ 850 milhões de recursos haviam sido aplicados em CDBs do Banco Master, que está em dificuldades financeiras e pode sofrer intervenção do Banco Central. Existe uma auditoria interna independente contratada pela empresa para apurar sobre o caixa da Ambipar. "Há sim explicações a serem concedidas ao mercado sobre seu caixa, mas não é esse o fator principal que moveu a empresa para a recuperação judicial, além da assinatura do aditivo anormal a contratos de derivativos junto ao Deutsche Bank", disse uma fonte. Houve a entrega de um conjunto de documentos lacrados ao juiz 3ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro junto ao pedido de recuperação judicial contendo contratos para comprovar a capacidade de geração de "riqueza" da empresa, assim como de demonstrações financeiras que estão protegidas por sigilo fiscal. "Tudo faz parte dos documentos necessários e requisitos legais para o pedido de recuperação judicial", disse a fonte.

Ao todo, somam mais de 5 mil documentos, os quais a mesma fonte acredita que poderão se tornar públicos após o despacho do juiz que deve deferir o pedido nesta quinta-feira (23/10). "A empresa vai ter de responder a essas questões no tempo correto, mas independentemente se a empresa tem caixa ou não tem caixa, se estava certo ou não estava certo, ela goza do direito de tentar a recuperação da companhia dentro da lei de recuperação judicial e não tem uma lei, um requisito que diga, que limite o acesso de uma empresa ao estatuto, por haver informações desencontradas sobre caixa ou uma eventual fraude", acrescentou a fonte. A mesma fonte lembra que no caso de Americanas, em que foi comprovado fraude, a companhia se reergueu por meio de um processo de recuperação judicial, para o esclarecimento de questões muito mais complexas e de valores muito maiores. "Lá se tratava de uma fraude flagrante nos balancetes e nos balanços. Esse caso aqui me parece que é uma questão de insegurança e incerteza do mercado, em função de algumas desconfianças", observou.

Para a mesma fonte, o que é relevante neste momento é que a Ambipar, mesmo sendo única em sua atividade no mundo e mesmo com um balanço robusto, se viu inesperadamente diante de vencimento de toda a sua dívida. Desse modo, fará uso da recuperação judicial para reorganizar seu passivo. "Acreditamos que a Ambipar vai conseguir entrar num ambiente propício para as negociações e para a flexibilização de algumas dívidas, para que possa construir um plano e continuar no exercício da sua atividade", disse. Segundo ele, o mais provável é que esse plano a ser discutido com credores passe a vislumbrar ampliação nos prazos dos compromissos financeiros. Para assessoria financeira, a Ambipar contratou o BR Partners e tem respaldo jurídico dos escritórios Salomão Advogados e pelo Galdino, Pimenta, Takemi, Ayoub, Salgueiro, Rezende de Almeida Advogados. A Ambipar contratou também a Alvarez & Marsal para análise técnica dos contratos financeiros e a FTI Consulting para avaliar o caixa da empresa e os contratos com o Deutsche Bank. Fonte: Broadcast Agro.