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21/Oct/2025

Insumos: Belagrícola evitará recuperação judicial

A consultoria Pine Agronegócios avalia que a Belagrícola deve buscar reorganização extrajudicial com apoio financeiro e venda de ativos nos próximos 3 a 12 meses, cenário que permitiria manter as operações e evitar recuperação judicial. A análise examina os efeitos da tutela cautelar de 60 dias obtida pela distribuidora de insumos na Justiça de Londrina (PR) sobre o mercado de grãos e traça paralelos com casos anteriores do setor, especialmente a AgroGalaxy. A leitura mais provável, no horizonte de 3 a 12 meses, é que a Belagrícola busque reorganização extrajudicial, com apoio financeiro parcial e venda de ativos. "Esse cenário permitiria a manutenção da operação, ainda que de forma mais conservadora, e evitaria o impacto sistêmico que uma recuperação judicial formal teria sobre toda a cadeia", acrescenta o documento. A probabilidade de recuperação judicial plena não é descartada pela Pine, mas depende da evolução das negociações com investidores e credores nos próximos dois meses.

O relatório compara o caso da Belagrícola ao da AgroGalaxy, que entrou em recuperação judicial em setembro de 2024 com dívidas superiores a R$ 4,6 bilhões e obteve homologação em 2025 após oito meses de negociação. "A reestruturação incluiu fechamento de lojas, venda de unidades e priorização de fornecedores estratégicos", registra a análise. "Uma reorganização drástica, mas que evitou o colapso total", pondera a consultoria. Além da AgroGalaxy, o relatório cita a Fiagril, que em 2016 reduziu sua atuação e vendeu ativos após crise de liquidez, e a Renuka, do setor sucroalcooleiro, que passou por recuperação judicial longa e terminou com venda parcial de usinas. A Pine atribui a situação da Belagrícola ao "esgotamento do ciclo de crédito fácil que marcou o agronegócio entre 2020 e 2022". "Durante o auge das cotações internacionais, empresas do setor ampliaram suas carteiras de barter (troca de insumos por grãos) e aumentaram prazos de pagamento", explica o relatório. "Com a queda dos preços da soja e do milho, a elevação dos juros e margens menores nas lavouras, muitos produtores deixaram de honrar compromissos", acrescenta.

Segundo a consultoria, essas dívidas, concentradas em distribuidoras de insumos, tornaram-se um passivo crescente. "Empresas de revenda, que operam no 'meio da cadeia', comprando a prazo da indústria e recebendo pós-safra dos produtores, foram as mais atingidas", diz o documento. A consultoria avalia que a suspensão de pagamentos e fixações provoca instabilidade comercial em toda a região de atuação da Belagrícola, que tem mais de 50 filiais e cerca de 60 unidades de recebimento. "Produtores que haviam fixado preços de soja e milho com a empresa estão, na prática, sem referência de liquidação, e precisarão buscar alternativas de proteção de preço", afirma o relatório. Como a Belagrícola é uma das principais originadoras de grãos do Paraná, seu recuo temporário reduz a concorrência imediata nas praças locais, pressionando o basis, diferença entre o preço local e o internacional, e afetando fretes, segundo a Pine. Nos municípios em que a empresa domina a originação, como Londrina, Cambé, Maringá, Castro e Ponta Grossa, cooperativas e tradings concorrentes tendem a ocupar o espaço, oferecendo pagamentos à vista ou prazos menores.

"Esse movimento pode aliviar parte do impacto, mas a recomposição de liquidez será lenta", pondera o documento. Do ponto de vista de fornecedores de insumos e credores, a suspensão acende alerta sobre o risco sistêmico no canal de distribuição agrícola. "Grandes indústrias (de fertilizantes, sementes e defensivos) podem adotar postura mais conservadora, encurtando prazos e exigindo garantias maiores", afirma a análise. "Bancos e fundos de crédito agrícola também devem revisar limites e reprecificar riscos no segmento", acrescenta a Pine. Se o cenário evoluir para recuperação judicial, os contratos de barter e CPRs poderão ser reclassificados e submetidos à novação, revisão judicial dos prazos. "Isso significa que o produtor credor poderá enfrentar atrasos ou renegociações compulsórias", registra o relatório. "Situação idêntica à vivida por clientes da AgroGalaxy no ano passado", compara a consultoria. A Pine avalia que o caso simboliza o fim do ciclo de expansão desordenada do crédito rural via revendas. "De forma ampla, o caso simboliza o fim do ciclo de expansão desordenada do crédito rural via revendas", afirma o relatório.

"A partir de 2026, veremos distribuidoras operando com modelos mais prudentes, com exigência de garantias, menor alavancagem e foco em produtores com histórico de adimplência sólida", projeta. O ajuste trará concentração no setor. "É um ajuste necessário, mas que trará concentração: cooperativas fortes e tradings capitalizadas ganharão espaço nas regiões onde revendas médias sofrem", conclui a análise. A Belagrícola obteve tutela cautelar na Justiça de Londrina em 10 de outubro, suspendendo pagamentos a credores e fixação de preço de grãos por 60 dias. A empresa, controlada pelo grupo chinês Pengdu, tem 52 filiais para revenda de insumos e capacidade de armazenamento de 1,5 milhão de toneladas em 58 silos, sendo 40 próprios. O último balanço anual, referente ao ano fiscal de 2024, mostrou receita de R$ 4,7 bilhões e prejuízo líquido superior a R$ 400 milhões. Ainda, o Banco Daycoval, administrador fiduciário do Fiagro JGP Crédito Agro (JGPX11), informou à B3 que a forte queda de 8,44% nas cotas do fundo no dia 16 de outubro decorreu da repercussão da tutela cautelar concedida à Belagrícola, distribuidora de insumos agrícolas que representa 6% do patrimônio líquido do fundo.

A B3 havia solicitado esclarecimentos sobre a oscilação atípica registrada nas negociações, que levaram as cotas de R$ 70,07 para R$ 64,55, com volume financeiro de R$ 2,2 milhões, o maior do mês. O envio do ofício à B3 é uma exigência regulatória. Na sexta-feira (17), o banco respondeu que, no entendimento do administrador, as movimentações decorreram da repercussão, entre investidores, das notícias envolvendo a Belagrícola. A liminar concedida à empresa pela Justiça de Londrina (PR) suspende execuções e cobranças de dívidas por 60 dias e foi divulgada pela imprensa em 16 de outubro. Em Fato Relevante publicado na sexta-feira (17/10), a JGP Crédito Agro, gestora do fundo, informou que não espera calote nos títulos. Segundo o comunicado, há R$ 65 milhões depositados em conta vinculada para cobrir a próxima parcela de amortização de principal, prevista para 31 de outubro, e as três parcelas de juros seguintes, de outubro, novembro e dezembro.

"À luz das informações disponíveis e excetuando a superveniência de decisão judicial em sentido diverso ou fatos novos relevantes, não esperamos impacto nos pagamentos de principal e juros até o final de 2025", afirma o texto. O título agrícola tem cessão fiduciária de recebíveis de grãos com uma trading classificada como AAA e aval da LandCo, empresa do grupo que concentra parte dos ativos patrimoniais. "Passado esse período, a cautelar não terá mais validade, salvo eventual prorrogação ou nova determinação judicial", acrescenta. A Belagrícola, controlada pelo grupo chinês Pengdu, obteve uma liminar em 10 de outubro. A empresa tem 52 filiais para revenda de insumos e capacidade de armazenamento de 1,5 milhão de toneladas em 58 silos, dos quais 40 próprios. A tutela cautelar é uma proteção judicial temporária, que impede credores de executar bens ou cobrar dívidas durante o prazo de 60 dias.

A companhia informou que, "como outras empresas do agro, tem sido fortemente impactada por desafios econômicos e climáticos, incluindo inadimplência elevada, e por isso foi preciso avaliar alternativas para reorganizar suas finanças". A medida abrange também a Bela Sementes, produtora de sementes de soja no Paraná e em Minas Gerais, e a DKBR Agro, importadora de defensivos da China. Outras controladas da Pengdu, como a Fiagril, de Mato Grosso, não foram incluídas. O balanço anual de 2024 mostrou receita de R$ 4,7 bilhões e prejuízo líquido superior a R$ 400 milhões. Segundo a agência de notícias AgFeed, a inadimplência acumulada nos últimos dois anos teria provocado impacto negativo de R$ 1 bilhão nas contas a receber, parte em renegociação com produtores em recuperação judicial. Ainda conforme a plataforma de notícias, a empresa não considera recorrer à recuperação judicial própria e mantém negociações com a Bunge para a venda de participação minoritária, operação em estudo desde o início do ano.

O portal The AgriBiz informou que a empresa teria mandado a IGC Partners buscar comprador para a Bela Sementes, um dos ativos mais rentáveis do grupo. Analistas estimam faturamento entre R$ 200 milhões e R$ 400 milhões por safra. Além do JGPX11, outros fundos têm exposição aos CRAs da Belagrícola. O Valora Agro (VGIA11) tem 8,8% do patrimônio aplicado nesses papéis, e o Capitânia (CPTR11), 2%. A JGP destacou que “a Belagrícola está em tratativas para viabilizar um aporte de capital, o qual, se concretizado, poderá ser um suporte relevante para a reorganização da estrutura de capital da companhia e, eventualmente, viabilizar o encerramento da cautelar sem necessidade de reestruturações do passivo”. A Belagrícola acrescentou que “neste momento, não está em posição de especular sobre possíveis cenários futuros” e que “qualquer medida que venha a tomar será sempre pautada pelos melhores interesses de seus clientes, colaboradores e fornecedores”. Fonte: Broadcast Agro.