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15/Oct/2025

Mineração: preço do lítio cai e inibe investimentos

Mineral cuja demanda deve avançar com a eletrificação da economia e que ficou conhecido como “ouro branco”, o lítio teve uma queda de 86,5% no preço desde o fim de 2022, quando atingiu seu auge. O valor médio do carbonato de lítio chegou a US$ 68,00 por Kg em dezembro daquele ano. No mês passado, custava US$ 9,26 por Kg, mesmo após a China suspender a produção de grandes minas, ameaçando a oferta global do mineral. A baixa cotação tem postergado negócios no Brasil. A desaceleração do mercado de carros elétricos e, principalmente, uma sobreoferta global estão por trás dessa redução do preço do lítio, um material abundante na natureza. Na pandemia, porém, as cotações também estavam exageradamente elevadas devido à baixa oferta que havia então. Em 2020, primeiro ano da Covid-19, o preço do mineral variou entre US$ 7,00 e US$ 9,00 por Kg.

Nos anos seguintes, no entanto, houve uma escalada até se aproximar dos US$ 70,00 por Kg. À época, o governo chinês criou incentivos que impulsionaram a venda de carros elétricos no país. Em todo o mundo, porém, a oferta do lítio, usado na bateria desses veículos, ainda era limitada, o que pressionou as cotações. Mineradoras que vinham se preparando para o aumento de demanda impulsionado pelos carros elétricos reagiram relativamente rápido. Além da China, países como Austrália, Chile, Brasil e Zimbábue inauguraram ou expandiram projetos de extração de lítio, elevando a oferta no mercado. Entre 2021 e 2024, os australianos, por exemplo, ampliaram a produção em quase 100% e os chilenos, em 75%, de acordo com dados da Argus Media. Assim, abruptamente, a escassez de lítio se transformou em um excesso de oferta, e os preços despencaram.

Em apenas quatro meses, de dezembro de 2022 para abril de 2023, a cotação do carbonato de lítio caiu 63%. Nos meses seguintes, continuou recuando até voltar aos níveis pré-pandêmicos, nível em que estacionou há pouco mais de um ano. Diante desse cenário, a mais antiga empresa do segmento do País, a Companhia Brasileira de Lítio (CBL), postergou o projeto de ampliar sua capacidade de mineração, de 50 mil toneladas por ano para 110 mil toneladas, e de refino, de duas mil toneladas para 6 mil toneladas. Está tudo pronto para iniciar, mas esperando maior clareza no preço, diz a CBL, lembrando que a expansão deveria ter sido iniciada há um ano. A companhia hoje está em seu ponto de equilíbrio, um patamar que não justifica novos investimentos. O mercado de carros elétricos continua crescendo em todo o mundo, mas, dado o tamanho da oferta atual de lítio, os preços só devem se recuperar em 2027. Com operação em Minas Gerais, a Sigma Lithium estocou parte de sua produção no segundo trimestre deste ano porque os preços estavam muito baixos.

A expectativa é desovar o material até o fim do ano. A companhia também espera que a cotação se estabilize ao redor de US$ 10,00 por Kg, por um trimestre, para tirar do papel um projeto de expansão. A empresa segue com o plano de expansão e que tem reduzido custos para fortalecer sua posição competitiva. Outra empresa que atua no País, a AMG Brasil, subsidiária da companhia holandesa AMG, concluiu neste ano obras que ampliaram sua capacidade de produção em 44%. Apesar dos preços baixos, o plano de verticalizar parte do refino no Brasil continua em pé. Em 2022, porém, a previsão era que essa verticalização estaria concluída em 2025. Agora, o prazo é 2029. De acordo com a empresa, o estudo de viabilidade do empreendimento, que inclui, além do custo, questões ambientais e legais, ainda está em elaboração. A cotação atual inviabiliza a produção de companhias que exploram apenas o lítio.

A unidade brasileira da AMG também explora estanho e tântalo, materiais usados em equipamentos eletrônicos e em semicondutores, respectivamente. A empresa sobreviveu porque tem a produção diversificada. Para a cadeia se estabilizar, a cotação do carbonato de lítio precisaria estar entre US$ 23,00 e US$ 27,00 por Kg. Os altos preços registrados em 2022 também prejudicavam a indústria automobilística. Naquele patamar, ficava mais caro o consumidor arcar com o preço do carro elétrico. Lembrando que o lítio responde por 4% do valor de um veículo elétrico. Segundo a gestora Global X ETFs, a queda do lítio não é um indicativo de que o carro elétrico não deu certo. Houve uma sobreoferta de lítio. Isso significa principalmente que a China deu mais passos do que deveria. Em 2023, a China passou a explorar reservas de lepidolita, mineral rico em lítio, mas pouco rentável na comparação com outros.

Antes disso, ela apenas refinava o material e, com uma cadeia integrada, o país conseguiu baratear a produção. Como os preços chineses são usados como base de cálculo para o mercado global, a verticalização da indústria chinesa também favoreceu a queda da cotação no mundo todo. Ainda na China, mudanças regulatórias promovidas pelo governo de Xi Jinping fizeram o preço do lítio dar alguns ‘soluços’ em agosto e criaram expectativas de que uma alta pudesse se concretizar. A China havia decidido rever as licenças de minas de lítio diante do excesso de capacidade de sua economia e da deflação. A China está tentando bloquear a produção para que os preços subam. A Argus diz acreditar que a eletrificação da economia ainda vai mudar o cenário de preços baixos, só que os valores não voltarão aos de 2022. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.