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13/Oct/2025

Energia Elétrica e as perdas com cortes de geração

De acordo com cálculos feitos a partir da ferramenta "Desperdiçometro", elaborada pela Associação Brasileira de Hidrogênio e Amônia Verdes (ABHAV), o País desperdiça diariamente R$ 21,9 milhões com os cortes de geração de energia elétrica por motivos sistêmicos, conhecidos por curtailment no jargão setorial. O prejuízo anual supera os R$ 8 bilhões. A estimativa diária teve como base a média de cortes de geração solar e eólica registrada em julho, da ordem de 104,6 gigawatts-hora (GWh) por dia, e o valor aproximado do preço da energia de curto prazo (Preço de Liquidação das Diferenças, PLD) médio daquele mês, de R$ 210,00 por megawatt-hora (MWh). A iniciativa da ABHAV visa não só calcular o desperdício de energia renovável com o curtailment, mas mostrar o quanto de hidrogênio verde poderia ser produzido com esse desperdício: mais de duas mil toneladas do combustível por dia. Indica também qual seria a potencial redução de emissões de gases de efeito estufa caso esse hidrogênio verde substituísse o combustível de origem fóssil: 18,1 toneladas de CO2.

A ideia é de que poderia ser feito um bom uso dessa energia, desde que se tenha alguns dados e entenda o quanto está sendo desperdiçado, quanto isso seria em termos financeiros, o que poderia ser feito com isso, metrificar carbono, inclusive. A base de dados será atualizada periodicamente, com a meta de tornar a ferramenta automatizada e uma base de dados confiável para uso pelo mercado, que poderá ajustar os parâmetros usados para os cálculos. Os cortes de geração não serão superados no curto e médio prazos, por isso há possibilidade de desenvolvimentos a partir desse problema. É uma oportunidade de industrialização, de liderança do setor de data center, liderança do setor de combustíveis renováveis, de hidrogênio verde, amônia verde etc. Os cortes de geração têm causado forte preocupação no setor elétrico atualmente, já que provocam uma frustração das receitas para as geradoras eólicas e solares, e em alguns casos custos adicionais com compra de energia para atender compromissos contratuais.

No mês analisado no Desperdiçometro, observa-se que dentre as principais empresas do setor afetadas por esse problema (Auren, Engie, Copel, Equatorial, CPFL e Cemig), os níveis de curtailment superam os 20% e chegam a alcançar os 30%. O fato de muitas usinas atingidas serem recentes e estarem em fase de amortização de dívidas relacionadas à construção do projeto é um agravante. O temor é de que empresas, de menor porte e com portfólio mais focado em eólicas e solares localizadas em áreas de curtailment elevado, não aguentem. A geradora Rio Alto é um exemplo de empresa com problemas financeiros que atribui aos cortes de geração e seu descompasso. Em processo de recuperação extrajudicial, a empresa afirmou que a medida se deu em decorrência dos impactos da dinâmica do curtailment. Para Elera Renováveis, a situação do setor começa a ficar crítica, por isso há necessidade de solução urgente.

O problema é pior que o observado anos atrás, na chamada "crise do GSF", entre 2014 e 2018, quando a escassez de chuvas, associada à diversificação na matriz elétrica e desvios na normatização setorial, levaram a uma onda de judicializações pelos geradores hidrelétricos que desestabilizou o mercado. Antes eram empresas grandes, com ativos amortizados, e os cortes eram de 10% a 15% nos piores momentos, tinha uma ação judicial, então o dinheiro estava no caixa das empresas. Agora, os cortes, para alguns ativos, de 40% a 50%, ativos recém-inaugurados, ainda endividados e com serviço de dívida grande para ser honrado, e muitos deles sem proteção judicial. O governo federal criou, em março deste ano, um grupo de trabalho sobre os cortes de geração, para buscar soluções para o problema. Do ponto de vista operativo, algumas medidas foram tomadas, visando aumentar o escoamento de energia do Nordeste para o Sudeste/Centro-Oeste, principal centro de carga do País. Outras estão em análise, como a possibilidade de cortes afetarem usinas de menor porte que não são despachadas de forma centralizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

No entanto, tais medidas não são suficientes para eliminar os cortes, especialmente tendo em vista que uma de suas principais causas, o crescimento da geração solar distribuída, permanece. Do ponto de vista estrutural, a solução passa pelo reforço da rede e pelo aumento do consumo. Neste sentido, especialistas defendem a necessidade de um aprimoramento do sinal de preço. Para o ONS, o preço deveria ser nulo no meio do dia, para refletir a "superoferta" existente, sinalizando a consumidores e investidores qual seria a melhor estratégia na decisão empresarial. Essa mudança, porém, é considerada complexa e de difícil execução. Outras frentes são o desenvolvimento de novas indústrias, como data centers, hidrogênio verde, amônia, r-metanol, entre outros novos combustíveis, e incentivos para a introdução de baterias, seja junto às redes de transmissão, seja junto às redes de distribuição e aos sistemas de geração distribuída. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.