09/Oct/2025
Mineral cuja demanda deve avançar com a eletrificação da economia e que ficou conhecido como “ouro branco”, o lítio teve uma queda de 86,5% no preço desde o fim de 2022, quando atingiu seu auge. O valor médio do carbonato de lítio chegou a US$ 68,00 por Kg em dezembro daquele ano. No mês passado, ficou em US$ 9,26 por Kg, mesmo após a China suspender a produção de grandes minas, ameaçando a oferta global do material. A baixa cotação tem postergado negócios no Brasil. A desaceleração do mercado de carros elétricos e, principalmente, uma sobre oferta global estão por trás dessa redução do preço do lítio, material abundante na natureza. Em meio à pandemia, porém, as cotações também estavam exageradamente elevadas devido à falta de oferta que havia no momento. No primeiro ano da Covid-19, em 2020, o preço do mineral variou entre US$ 7,00 e US$ 9,00 por Kg. Nos anos posteriores, no entanto, houve uma escalada até se aproximar dos US$ 70,00 por Kg.
À época, o governo chinês criou incentivos que impulsionaram a venda de carros elétricos no país. Em todo o mundo, porém, a oferta do lítio (usado na bateria dos veículos) ainda era limitada, o que pressionou as cotações. Mineradoras que vinham se preparando para esse aumento de demanda impulsionado pelos veículos elétricos reagiram relativamente rápido. Além da China, países como Austrália, Chile, Brasil e Zimbábue inauguraram ou expandiram projetos de extração de lítio, elevando a oferta no mercado. Entre 2021 e 2024, a Austrália, por exemplo, ampliou sua produção em quase 100% e o Chile em 75%, de acordo com dados da Argus Media. Assim, abruptamente, a escassez de lítio se transformou em um excesso de oferta, e os preços despencaram. Em apenas quatro meses, de dezembro de 2022 para abril de 2023, a cotação do carbonato de lítio caiu 63%. Nos meses seguintes, continuou recuando até voltar aos níveis pré-pandêmicos, no qual praticamente estacionou há pouco mais de um ano.
Diante desse cenário, a mais antiga empresa do segmento do País, a Companhia Brasileira de Lítio (CBL) postergou o projeto de ampliar sua capacidade de mineração de 50 mil toneladas por ano para 110 mil toneladas e de refino de 2 mil toneladas para 6 mil toneladas. a empresa está pronta para iniciar, mas espera maior clareza no preço. A expansão deveria ter sido iniciada há um ano. A companhia hoje está em seu ponto de equilíbrio, um patamar que não justifica novos investimentos. O mercado de carros elétricos continua crescendo em todo o mundo, mas, dado o tamanho da oferta de lítio atual, os preços só devem se recuperar em 2027. Com operação em Minas Gerais, a Sigma Lithium estocou parte de sua produção no segundo trimestre deste ano porque os preços estavam muito baixos. A expectativa é desovar o material até o fim do ano. A companhia também espera que a cotação se estabilize ao redor de US$ 10,00 por Kg por um trimestre para tirar do papel um projeto de expansão.
A empresa afirmou que segue com seu plano de expansão e tem reduzido custos para fortalecer sua posição competitiva. Outra empresa que atua no País, a AMG Brasil, subsidiária da companhia holandesa AMG, concluiu neste ano obras que ampliaram sua capacidade de produção em 44%. Apesar dos preços baixos, o plano de verticalizar parte do refino no Brasil continua em pé. Em 2022, porém, a previsão era que essa verticalização estaria concluída em 2025. Agora, o prazo é 2029. De acordo com a empresa, o estudo de viabilidade do empreendimento, que inclui, além do custo, questões ambientais e leais, ainda está em elaboração. A cotação atual inviabiliza a produção de companhias que exploram apenas o lítio. No caso da unidade brasileira da AMG, a empresa também trabalha com estanho e tântalo, materiais usados em equipamentos eletrônicos e em semicondutores, respectivamente. A empresa sobrevive porque tem uma produção diversificada.
Para cadeia se estabilizar, a cotação do carbonato de lítio precisaria estar entre US$ 23,00 e US$ 27,00 por Kg. Os preços registrados em 2022 também prejudicavam a indústria automobilística, pois naquele patamar, ficava mais caro o consumidor arcar com o preço do carro elétrico. O lítio é responsável por 4% do valor de um veículo elétrico. Para a gestora Global X ETFs, a queda do lítio não é um atestado de que o carro elétrico não deu certo. Houve uma sobre oferta de lítio. Isso significa principalmente que a China deu mais passos do que deveria. A China passou a explorar, em 2023, reservas de lepidolita, mineral rico em lítio, mas pouco rentável na comparação com outros. Antes disso, ela apenas refinava o material. Com uma cadeia integrada, o país conseguiu baratear a produção. Como os preços chineses são usados como base de cálculo para o mercado global, a verticalização da indústria chinesa também favoreceu a queda da cotação no mundo todo.
Ainda na China, mudanças regulatórias promovidas pelo governo de Xi Jinping fizeram o preço do lítio dar alguns soluços em agosto e criaram expectativas de que uma alta pudesse se concretizar. A China havia decidido rever as licenças de minas de lítio diante do excesso de capacidade de sua economia e da deflação. A China está tentando bloquear a produção para que os preços subam. De acordo com as mudanças do governo, 8 minas de lepidolita teriam de passar por novo processo regulatório, uma delas é responsável por 5% da oferta global de lítio. A notícia fez com que o mercado elevasse suas projeções de preço. Segundo o banco UBS, após uma visão pessimista por cerca de dois anos, as projeções de preços do mineral foram elevadas. Em setembro, porém, veio a informação de que as interrupções nas produções chinesas seriam mais curtas do que o esperado, e o banco voltou a rever suas projeções para baixo. A Argus acredita que a eletrificação da economia ainda vai mudar o cenário de preços baixos, só que os valores não voltarão ao que se tinha em 2022.
A Argus projeta o carbonato de lítio entre US$ 30,00 e US$ 35,00 por Kg até 2027. Os preços vão subir conforme a demanda por carros elétricos aumente no mundo, principalmente em mercados fora da China, como Estados Unidos, Canadá e União Europeia. Também deverá ajudar o segmento a adoção global de sistemas de armazenamento de energia em baterias (Bess). Bess, cuja fabricação demanda lítio, são usados para armazenar energia de usinas solares e eólicas. A Argus calcula que, em 2035, quase 10% da demanda global de lítio virá de Bess. Em meio à queda do preço do lítio e à escalada da taxa básica de juros, a Sigma Lithium, mineradora com operação no Vale do Jequitinhonha (MG), colocou seu projeto de expansão em compasso de espera, enquanto atravessa um período crítico. A companhia obteve, há 13 meses, um financiamento do BNDES de R$ 486,7 milhões para fazer as obras de ampliação, mas elas só serão tocadas se o preço do carbonato de lítio se consolidar ao redor de US$ 10,00 por Kg.
A média de setembro foi de US$ 9,26 por Kg. Uma decisão deve ser tomada em janeiro. Nos últimos dois anos, a oferta global de lítio avançou, principalmente em países da África quem têm competitividade no segmento, fazendo com que os preços despencassem. A segunda planta industrial da Sigma Lithium, anunciada no começo de 2024, aumentaria a capacidade de produção da empresa de 270 mil toneladas por ano de concentrado de lítio para 520 mil toneladas. A companhia já fez obras de terraplanagem e parte das civis, mas não chegou a encomendar as instalações de beneficiamento do mineral. Nos últimos meses, a empresa conversou com bancos para obter uma carta fiança exigida pelo BNDES. Essa garantia tem de ser de 130% do valor do empréstimo, ou seja, R$ 632 milhões. Apesar de o financiamento do banco de desenvolvimento ter uma taxa de juros de 7,53% ao ano (e prazo de pagamento de 16 anos), a fiança elevaria o juro total do projeto para 18%.
A avaliação da direção da Sigma é que esse percentual torna o investimento arriscado. A Sigma também não pode dar como garantia sua unidade fabril, dado que o ativo já foi usado para outro empréstimo: de US$ 100 milhões, com um acionista da companhia. Esse empréstimo vence no fim de 2027. Além da escalada da Selic (que passou de 10,5% no fim de agosto de 2024, quando o BNDES anunciou a aprovação do financiamento, para os atuais 15%), o preço do lítio sofreu um solavanco entre abril e julho que complicou a situação da Sigma Lithium e de seu plano de expansão. A cotação média do carbonato de lítio ficou em US$ 9,14 por Kg em março. As tarifas de importação criadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no entanto, desestabilizaram o mercado, fazendo com que o preço entrasse em queda e alcançasse US$ 7,47 por Kg em julho, recuo de 18%. Em agosto, no entanto, com a China não renovando as licenças de operação de 8 minas, o preço voltou a se recuperar.
A retração no preço do mineral no segundo trimestre fez a Sigma estocar parte de sua produção. A expectativa agora é desovar o material até o fim do ano. A empresa afirmou estar reduzindo custos para fortalecer sua posição competitiva. Acrescentou que não está conduzindo tratativas (em torno da carta fiança) com bancos nacionais neste momento, em razão do atual patamar da taxa Selic, que impacta de forma significativa o custo total da operação junto ao BNDES. Diante do entrave, a Sigma Lithium pretende, agora, fazer alterações nas operações de sua mina Grota do Cirilo, em Araçuaí (MG), para deixá-la pronta para oferecer o material que a segunda unidade de processamento demandará. Assim, quando as obras da planta de processamento forem retomadas, não será preciso mexer na mina também. Com as mudanças na mina, utilizando caminhões para transporte com o dobro da capacidade, a empresa prevê também redução em seus custos nessa etapa, que atualmente atingem dois terços do custo total de produção.
Em suas apresentações recentes a investidores, a direção da Sigma ainda mantém a convicção de que a expansão da empresa entrará em operação em 2026. O montante que falta para ser aplicado no projeto é da ordem de US$ 80 milhões (R$ 425 milhões). A incerteza em relação à ampliação da Sigma Lithium e à retração no preço do lítio elevaram a preocupação do mercado financeiro com a liquidez da companhia. No meio de maio, as ações da empresa negociadas nos Estados Unidos chegaram a valer US$ 18,56. Hoje, estão em US$ 7,60, ou seja, caíram quase 60%. Há alguns meses, a empresa passou a atrasar pagamentos de fornecedores. No dia 5 de outubro, a Fagundes Construção e Mineração, que prestava serviços para a Sigma na operação da Grota do Cirilo, anunciou nas redes sociais que estava deixando a cidade de Araçuaí. Segundo fontes, a empresa, que tem a receber um crédito acumulado de R$ 115 milhões da Sigma, paralisou suas atividades na área de mineração da empresa há três semanas.
A Sigma afirmou que, após o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deteriorar as condições de mercado, implementou a seus fornecedores “parâmetros de gestão” adotados por seus clientes. De acordo com a Sigma, as fabricantes asiáticas de baterias e carros elétricos têm 210 dias como prazo para pagamentos. As ocidentais, 180 dias. Assim, a Sigma Lithium passou a adotar prazos semelhantes. Em função da queda abrupta do preço do lítio, foi aumentada também a rigidez dos controles internos, incluindo validação criteriosa de cobranças e boletins de medição dos fornecedores, disse a empresa. Ainda de acordo com a Sigma, os trabalhos na Grota do Cirilo foram desmobilizados na semana passada porque equipamentos de mineração estão sendo substituídos. Uma remobilização está prevista para começar esta semana, quando o novo fornecedor deverá reiniciar as atividades prontamente. Em relatório publicado em agosto, no entanto, analistas do Bank of America afirmaram que, embora a Sigma Lithium se diga relativamente confortável com sua posição de caixa, não deve estar.
Isso porque o saldo de caixa da companhia está abaixo de suas despesas operacionais e do endividamento de curto prazo. Porém, não há motivo para grande preocupação no momento, porque a operação plena da empresa não consome caixa, apenas limita a expansão da produção. O documento acrescenta que é essencial para a companhia assegurar o pré-pagamento de clientes. Sem isso, qualquer problema operacional inesperado pode representar um risco existencial. A Sigma Lithium afirmou que está mantendo o foco na disciplina de custos e na busca por eficiência operacional. Essa resiliência operacional não apenas permite atravessar ciclos de preços com maior estabilidade, mas também garante a sustentabilidade de longo prazo do negócio, concluiu. Para ganhar conforto financeiro no atual cenário de preços, a empresa espera neste trimestre firmar ao menos um contrato de venda antecipada (offtake agreements) que negocia com tradings ocidentais e asiáticas e companhias usuárias finais de lítio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.