30/Sep/2025
O lado mais promissor do setor de energia renovável é fácil de explicar. Impulsionadas pelo sol escaldante e pelos ventos intensos em diferentes regiões do País, as fontes renováveis avançaram de forma consistente na matriz elétrica brasileira. Hoje, considerando tanto a geração centralizada quanto os sistemas instalados em telhados, a energia solar já ocupa a segunda posição em capacidade, ficando atrás apenas das hidrelétricas. Mas, os holofotes começam a se apagar, entretanto, quando os dilemas atuais do setor são colocados em perspectiva. Um deles está associado à imprevisibilidade de produção das fontes renováveis, como solar e eólica. Outro ponto é a escalada da microgeração de energia no País, que é produzida pelos milhares de painéis solares instalados em residências e pequenos estabelecimentos.
Isso acaba gerando uma sobreoferta de energia durante o dia, quando há sol, e queda de produção no momento de pico de consumo no início da noite, quando os trabalhadores estão chegando em casa e ligando chuveiros e Tvs. Para estabilizar o sistema, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é obrigado a desligar algumas usinas quando há excesso de energia e acionar outras unidades, algumas vezes, fósseis para complementar a demanda no horário de pico. Um balanço divulgado no começo do ano pela consultoria Volt Robotics mostrou que o desligamento de usinas solares e eólicas no Brasil atingiu 1.445 empreendimentos durante os 12 meses de 2024, ou seja, uma geração acumulada equivalente a 400 mil horas. O excesso de oferta responde por 35% dos cortes, enquanto o resto poderia ter sido evitado se a infraestrutura de distribuição de todo o sistema fosse mais robusta.
Se antes o Brasil estava acostumado a grandes hidrelétricas com planejamento de longo prazo, a rápida expansão de fontes eólicas e solares trouxe uma dinâmica nova, em que a infraestrutura de transmissão nem sempre acompanhou a velocidade de construção de novos parques, explica a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). O desafio estrutural é, portanto, alinhar crescimento da demanda com a infraestrutura que possa suportá-la. Apesar das condições favoráveis de energia renovável e barata, investidores internacionais enfrentam dificuldades para conectar novos empreendimentos ao sistema elétrico, porque a capacidade de consumo é limitada em determinadas regiões. Nos últimos três anos, a demanda por energia elétrica caiu devido a um crescimento econômico mais baixo, gerando uma sobreoferta de energia. Esse problema foi agravado por falhas estruturais no planejamento do setor, principalmente em transmissão.
O paradoxo, portanto, está posto: o Brasil tem potencial, energia renovável e interesse de investidores, mas precisa resolver gargalos de transmissão e planejamento para aproveitar plenamente a expansão do setor. Em compensação, é importante lembrar que o crescimento pujante das fontes solar e eólica transformou não apenas a matriz elétrica brasileira, mas também gerou impactos positivos no lado social, ambiental e econômico, incluindo menores efeitos sobre a saúde humana. Resolver essas questões depende de estratégias e de um esforço conjunto do governo e dos órgãos responsáveis, como o ONS, Agência Nacional de Energia Elétrica e Ministério de Minas e Energia. Para especialistas, é importante, por exemplo, rever alguns subsídios que não se justificam mais, já que as fontes renováveis já superaram o período de desenvolvimento das tecnologias. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.