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26/Sep/2025

Grupo Ambipar obtém tutela cautelar contra credores

O Grupo Ambipar conseguiu uma medida cautelar na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro que suspendeu o pagamento de contas, execuções de medidas de cobrança e retenção e arresto de bens contra a empresa, além da suspensão de cláusulas de vencimento antecipado de dívidas em caso de inadimplência. O despacho, assinado pelo juiz Leonardo de Castro Gomes, também nomeia a VPJ Administração Judicial para acompanhar a empresa. Na prática, trata-se de uma espécie de pré-recuperação judicial, mas é questão de tempo até que a proteção total contra credores seja pedida. O grupo tinha uma dívida de US$ 118 milhões contra o Santander, que venceria às 14 horas desta quinta-feira (25/09), e que foi suspensa com a medida. Com dívidas aproximadas de R$ 11 bilhões, o Grupo Ambipar estava altamente alavancado por conta do grande número de aquisições que fez antes da alta de juros.

Porém, um aditivo num contrato de empréstimo com o Deutsche Bank no exterior começou a esvaziar o caixa da empresa desde a última segunda-feira (22/09), com a saída de mais de R$ 200 milhões. Com cláusulas de financiamento com vencimento cruzado, haveria o risco de insolvência imediata. Por isso, o pedido de cautelar antes mesmo de a recuperação judicial ser pedida. O rombo no Grupo Ambipar pode chegar a R$ 20 bilhões, de acordo com fontes próximas ao movimento da companhia para buscar proteção contra credores na Justiça. O risco decorre do fato de ainda não haver um levantamento dos maiores credores. Na petição entregue à Justiça, a Ambipar afirma que esse risco potencial seria de R$ 10 bilhões, pois os compromissos financeiros da empresa contêm cláusulas de vencimento antecipado em caso de inadimplemento de qualquer de suas dívidas.

A notícia de que o grupo enfrentaria dificuldades levou uma série de credores a enviar e-mails com pedidos de posicionamento esta semana, o que igualmente acelerou o pedido de liminar. Com operações em 40 países e 24 mil funcionários, a Ambipar é uma empresa de gestão ambiental. Atua em gestão de resíduos, resposta a grandes tragédias e outras frentes. A Ambipar está sendo representada pelos escritórios Salomão Advogados e Galdino Advogados. Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa destaca que a tutela cautelar foi ajuizada em decorrência de operação recente com derivativos envolvendo os Green Bonds emitidos pelo Grupo Ambipar e que geraram consequências financeiras negativas devido à variação na cotação e na negociação de seus valores mobiliários.

"O objetivo da medida cautelar é propiciar a continuidade das atividades empresariais do Grupo Ambipar e viabilizar a proteção a seus ativos, enquanto se busca junto aos credores uma alternativa viável para o adequado equacionamento de seus compromissos financeiros", diz a empresa. Segundo a Ambipar, a medida concedida tem por objeto, entre outras providências, suspender liminarmente os efeitos de toda e qualquer cláusula contratual que imponha o vencimento antecipado das dívidas do Grupo Ambipar e partes relacionadas, bem como a exigibilidade de todas as obrigações relativas aos respectivos instrumentos contratuais. "O Grupo Ambipar continua empenhado em manter conversas positivas com seus credores visando ao atingimento de um acordo que seja benéfico a todos os seus investidores", diz. A empresa ressalta que mantém suas operações e segue oferecendo "serviços de excelência, com segurança, eficiência e confiabilidade" em todos os seus segmentos.

A exigência de mais garantias pelo Deutsch Bank para compromissos financeiros que somam US$ 550 milhões (perto de R$ 3 bilhões) empurraram a Ambipar para o pedido de proteção na Justiça contra credores, homologado nesta quinta-feira (25/09). A medida é preventiva e pode se desdobrar em uma recuperação judicial, já que a Ambipar tem sinalizado que está com problemas em sua gestão e no seu caixa. A própria Ambipar disse, no pedido feito à Justiça, que uma aceleração de todas as suas dívidas poderia provocar um rombo de R$ 10 bilhões no grupo. Vale lembrar que a companhia tem histórico de relação com o Banco Master, que pode ser liquidado. No documento entregue na 3ª vara empresarial da comarca da capital do Estado do Rio de Janeiro, os escritórios que representam a companhia citam a urgência da proteção já que outros bancos estrangeiros começavam a cobrar seus créditos.

O Santander, conforme o documento, deu até às 14h desta quinta-feira para que a Ambipar honrasse empréstimo de US$ 118,9 milhões e mais R$ 23 milhões em derivativos. A Ambipar, representada pelos escritórios Salomão Advogados e Galdino, Pimenta, Takemi, Ayoub, Salgueiro, Rezende de Almeida, obteve 30 dias de suspensão de cobranças e contra qualquer tipo de tentativa de execução de garantias e tomada de bens, os quais são prorrogáveis por mais trinta. Os compromissos com o Deutsche derivam de um empréstimo de US$ 35 milhões e três contratos de derivativos, na modalidade swap, com aditamento para inclusão de dação em pagamento de títulos emitidos pela Ambipar Lux, o braço financeiro da companhia no exterior. Com essa vinculação dos derivativos aos contratos de empréstimo, o valor base para cálculo da dívida com o banco alcançou US$ 550 milhões.

A Ambipar alega, conforme documento de deferimento do pedido de proteção, que “sem qualquer respaldo contratual, o Deustche Bank estaria calculando e exigindo o aporte de garantias adicionais com base não apenas na diferença negativa das taxas fixadas nos Contratos de Swap, mas também nas desvalorizações dos PIK Bonds no mercado exterior”. A Ambipar afirma que os PIK bonds, termo usado como referência ao pagamento de juro por meio da entrega de bonds, só seriam entregues no futuro, quando do vencimento dos Contratos de Swap. “Em razão da incorporação de um risco de crédito futuro relativo aos PIK Bonds, o Deutsch Bank AG passou a exigir da Ambipar Participações o aporte de garantias em valores muito superiores aos que seriam exigíveis, o que já gerou nos últimos dias um dispêndio de caixa significativo, da ordem de mais de R$ 200 milhões”, diz a empresa nos documentos entregues à Justiça.

Ainda, venceria nesta sexta-feira (26/09) o próximo aporte de garantia, em montante aproximado de R$ 60 milhões. Os títulos de dívida (bonds) emitidos no exterior pela Ambipar derreteram nesta quinta-feira (25/09), após a companhia obter proteção de 30 dias contra credores, sinalizando que o passivo de R$ 11 bilhões da empresa deverá ser reestruturado. De acordo com fontes que operam no mercado norte-americano, os bonds com vencimento em 2031 da empresa embutiam perdas de 85% de seu valor. Há poucos negócios sendo realizados e o papel foi vendido a 15% do valor de face. Os bonds da empresa de gestão e resgate de resíduos com cerca de 40 subsidiárias espalhadas em várias regiões do mundo passaram a embutir perdas de 70% em seu valor na terça-feira, após os papéis caírem 30% com a notícia de aprovação pela Ambipar de uma emissão de R$ 3 bilhões de debêntures.

"Com as debêntures operando na casa de 60% do valor de face, a empresa teria de pagar um grande prêmio para convencer investidores a adquirir novas debêntures", disse um analista de uma casa que opera no mercado de dívida no exterior e preferiu ficar no anonimato. Na verdade, a desconfiança dos investidores no exterior com a companhia já se mostra nos preços desde julho, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) validou a tese de manipulação do preço das ações, a qual já vinha circulando no mercado. Em julho, a CVM identificou que a compra massiva de ações da Ambipar por fundos como o Esna FIP, ligado a Nelson Tanure, e a subsequente alta de 863% nos papéis, constituíram uma "troca de favores" entre o controlador Tércio Borlenghi Júnior, Tanure e o Banco Master. Os sinais amarelos foram se empilhando, com o anúncio da companhia de mudanças em sua administração e informações sobre demissões. O Bank of America (BofA) vinham tentando contornar a situação com conversas com investidores e com credores, de acordo com fontes.

Restaram dúvidas também quanto ao caixa da Ambipar, uma vez que, dos mais de R$ 4 bilhões que vinham sendo reportados, R$ 2 bilhões apareceram dentro de uma estrutura de fundo de investimento em direito creditório (FIDC) no balanço do segundo trimestre. Não é possível saber qual é a estrutura de tal FIDC. Além disso, dados os eventos recentes envolvendo uma potencial insolvência do Banco Master, ainda que não esteja totalmente clara a relação com a Ambipar, as dúvidas quanto ao caixa da companhia aumentam. A companhia repentinamente mudou a constituição do caixa e agora não sabemos sequer se existe caixa na Ambipar. Santander e Bradesco são os bancos com maior exposição à Ambipar, com um total de cerca de R$ 600 milhões e R$ 300 milhões em dívidas, respectivamente, segundo fontes. Cerca de R$ 6 bilhões estavam em bonds no mercado internacional e outros R$ 3 bilhões em debêntures. Procurados, os bancos não quiseram comentar. Fontes: Broadcast Agro e Exame/Insight.