18/Sep/2025
A relação entre o crescimento do agronegócio brasileiro e o uso de fertilizantes é siamesa. A explosão de produtividade dos grãos, por exemplo, é impressionante. Embora a ampliação da área plantada com grãos nos últimos 50 anos tenha sido de apenas 1,6% ao ano, a produção aumentou 4,0% ao ano, segundo dados da Anda. Pode-se dizer com certeza que tal crescimento não aconteceria sem o uso de fertilizantes. Se considerarmos que a maior parte das novas áreas cultivadas com grãos no Brasil foi em cerrados, fica ainda mais significativa esta relação, porque a demanda por fertilizantes é muito maior por hectare dos que nas tradicionais terras de latossolo estruturado cultivadas nas regiões próximas aos centros de consumo ou de portos, especialmente no sul e no sudeste do País. E o grande desafio da recuperação de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas exigirá também enorme quantidade de fertilizantes.
Por isso mesmo, hoje em dia o Brasil já responde por 9,7% do consumo global, com uma característica: importamos mais de 80% do total consumido internamente, sendo que do cloreto de potássio aqui usado cerca de 95% vem de fora. Em 2025 deveremos consumir quase 49 milhões de toneladas de fertilizantes. E o futuro sinaliza demanda maior. Esta grande dependência levou o governo brasileiro a montar uma estratégia para reduzi-la, e há pouco mais de 3 anos foi criado o Plano Nacional de Fertilizantes 2050 (PNF 2050), buscando aumentar a parcela de produção nacional. Mas não será uma tarefa trivial. Os investimentos necessários são vultosos e o retorno é de longo prazo.
Mas é imperioso este esforço público/privado. As plantas não completam seu ciclo produtivo (flores, frutos e sementes) sem nutrientes essenciais. A quantidade de nutrientes minerais existentes na matéria seca das plantas está em torno de 3 a 5%. Esses nutrientes minerais são fundamentais para o desenvolvimento das plantas cultivadas. Se o solo não os tiver, as lavouras não terão resultado. Daí a importância de adubos, especialmente num país com terras fracas como o cerrado ou os campos brasileiros. Sempre vale a pena resgatar o engano de Pero Vaz de Caminha ao afirmar que "nesta terra em se plantando tudo dá".
Mal sabia ele da pobreza dos cerrados, mas essa frase calou fundo na educação do povo brasileiro: por causa dela, muita gente acredita que "é moleza ser agricultor". Como os fertilizantes são oriundos de minerais processados (como nitrogênio, potássio e micronutrientes), e de nitrogênio que existe na atmosfera, o seu uso não significa a adição de substâncias estranhas ao ambiente, apesar dos necessários processos industriais para sua preparação. Um tema pouco explorado é a contribuição ambiental do uso destes insumos. Exemplos não faltam. Para produzir 350 milhões de toneladas de grãos em 2025, são cultivados 80 milhões de hectares.
A mesma produção com a produtividade de 35 anos atrás exigiria mais 140 milhões de hectares. Avanços técnico-científicos aconteceram ao longo do tempo, mas indiscutivelmente os fertilizantes tiveram papel de destaque. Por isso são esperados grandes resultados do PNF2050. É essencial reduzir a necessidade de importações, mormente quando o comércio mundial e a própria geopolítica global estão vivendo um período de grandes incertezas. Alimentar o mundo será uma das funções do povo brasileiro com sua agropecuária sustentável. Mas produzir mais fertilizantes é fundamental para esse objetivo ser alcançado. Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.