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22/Aug/2025

Mineração: corrida por terras raras em Minas Gerais

Uma cratera de origem vulcânica, de 35 quilômetros de diâmetro, onde se localizam o município de Poços de Caldas e vizinhos, em Minas Gerais, abriga uma enorme reserva de terras raras e atraiu dezenas de projetos desde que se descobriu a riqueza na região. Dois projetos de capital australiano, que somam investimentos previstos de US$ 801 milhões, fizeram captações em julho e lideram a corrida pelas terras raras. Os empreendimentos concentram reservas de 2 bilhões de toneladas e devem começar a operar em 2028. Terras raras é um grupo de 17 elementos usados na fabricação de dispositivos de energia renovável e produtos de alta tecnologia. A matéria-prima, que já tinha demanda no processo de transição energética, ganhou ainda mais atenção depois que o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou interesse nas reservas brasileiras no bojo do debate sobre o tarifaço e da disputa geopolítica dos Estados Unidos com a China.

A China tem reservas de 44 milhões de toneladas (metade do volume global, de 90 milhões de toneladas) e concentra cerca de 90% da produção mundial de óxidos de terras raras (REO) refinados. Os Estados Unidos buscam caminhos para reduzir a dependência e miram nas reservas brasileiras, estimadas em 21 milhões de toneladas. O interesse na cratera de Minas Gerais, chamada de Caldeira de Poços de Caldas, cresceu desde que foram descobertas na região, em 2022, argilas iônicas contendo elementos de terras raras e próximas da superfície, por isso mais fáceis de explorar. No ano seguinte, a Agência Nacional de Mineração (ANM) recebeu 32 requerimentos de pesquisa para terras raras na região. Em 2024, chegaram mais 15 solicitações. E, neste ano, mais uma. Alguns projetos contemplam também outros elementos além de terras raras, pois há reservas de minerais críticos, como nióbio e zircônio. Após a pesquisa, as empresas entregam à ANM seus relatórios, que, se aprovados, dão direito de requerer a concessão de lavra.

Para prosperar, as mineradoras já operantes deverão ser capazes de se adaptar a um novo processo produtivo, segundo a consultoria KPMG. O Brasil não tem tradição na mineração de terras raras, que é diferente de ouro e minério de ferro, pois os óxidos estão imersos em argilas chamadas de 'iônicas'. Tradicionalmente, as mineradoras usam essas argilas para fazer refratários usados em alto-fornos, sem levar em conta a presença de terras raras, nióbio e bauxita. Isso deve mudar com a valorização das terras raras e o burburinho gerado por Trump. Em todo o País, os investimentos previstos para 2025 a 2029 são de US$ 2,17 bilhões em pesquisas de novas jazidas e em implantação de novos projetos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A cifra é 50% maior que a previsão anterior (2024-2028) e equivale a 3,2% do total previsto para o setor. Na Caldeira de Poços de Caldas, a liderança na corrida pela exploração de terras raras está com as australianas Viridis e Metoric.

Listada na bolsa australiana, a Viridis anunciou em 2023 a aquisição dos direitos minerais com elementos de terras raras para o Projeto Colossus, em Poços de Caldas. A reserva estimada é de 493 milhões de toneladas de argilas iônicas. A reserva Colossus de terras raras em argilas iônicas é reconhecidamente o melhor tipo de minério conhecido, podendo ajudar o Brasil a se tornar exemplo de mineração sustentável e líder na produção de carbonato misto de terras raras fora da China. O projeto da Viridis tem capex de US$ 358 milhões e deve começar a produzir em 2028. A produção alcançará 9,5 mil toneladas de carbonato misto de terras raras (concentrado obtido no beneficiamento de terras raras) por ano. A Viridis tem buscado diferentes vias de financiamento. Em julho, anunciou uma captação de US$ 7,5 milhões por meio de um placement (oferta privada de ações) no mercado australiano. No mesmo mês, foi selecionada, em parceria com sua joint venture Viridion, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para um programa voltado a minerais estratégicos.

A australiana ainda assinou um Protocolo de Intenções vinculativo histórico com duas gestoras de investimentos: a Ore Investments e a Régia Capital irão financiar US$ 30 milhões com garantias em ações da empresa. Por sua vez, o projeto Caldeira, da Meteoric, localizado no município de Caldas, vizinho a Poços, tem reservas estimadas em 1,5 bilhão de toneladas de argilas iônicas e capex para desenvolvimento de US$ 443 milhões. É listado na Austrália e projeta iniciar a operação em 2028. A Meteoric também foi ao mercado em julho e levantou cerca de US$ 27,58 milhões num placement. Os recursos se juntam aos US$ 19,47 milhões que a empresa já recebera e servirão para manter os estudos finais de viabilidade até junho de 2026. A companhia, que tem concessões de 69 áreas entre Caldas, Andradas e Poços, projeta produção de 13,6 mil toneladas de concentrado de óxidos de terras raras por ano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.