11/Aug/2025
A Kepler Weber reportou lucro líquido de R$ 14,4 milhões no segundo trimestre de 2025, retração de 61,1% na comparação com igual período do ano passado. A queda foi atribuída ao ambiente ainda adverso no agronegócio, marcado por juros elevados, preços deprimidos das commodities e maior concessão de descontos comerciais diante das restrições de liquidez. A receita líquida totalizou R$ 311,1 milhões, recuo de 5,1% na comparação anual. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) caiu 40%, para R$ 37,9 milhões, com margem de 12,2%, ante 19,3% no segundo trimestre de 2024. O lucro líquido representou 4,6% da receita, abaixo dos 11,3% de um ano antes. O CEO Bernardo Nogueira afirmou que o mês de junho concentrou mais da metade da geração de caixa do trimestre, indicando início de uma trajetória de recuperação. "O mês de junho representou 56% do nosso Ebitda, e essa geração de caixa e rentabilidade é o que a gente já enxerga para os próximos meses e segundo semestre", disse.
Segundo ele, a retomada é gradual. "A gente vê uma tendência. Não é uma recuperação em U, em V. Ainda é gradual, mas consistente", complementou. No acumulado do primeiro semestre, o lucro líquido somou R$ 39,9 milhões, queda de 55,2% em relação a igual período de 2024. A margem líquida foi de 6,0%, ante 12,6% no primeiro semestre do ano passado. A companhia informou que a carteira contratada aumentou 13,8% na comparação anual, impulsionada pela ampliação da base de clientes e pela execução das ações comerciais. A empresa também registrou, no primeiro semestre, o maior volume de embarques dos últimos dez anos, com alta de 4% frente a 2024. "O volume faturado no primeiro semestre é maior inclusive do que 2022 e 2021, que foram anos bastante mais favoráveis", afirmou Nogueira. Entre os segmentos, Agroindústrias registrou receita de R$ 107,2 milhões no trimestre, avanço de 9,2%, com aumento de 77,1% na base de clientes faturados.
Reposição e Serviços cresceu 8,4%, para R$ 62,5 milhões, com alta de 10,2% no número de clientes. No semestre, esse segmento acumulou crescimento de 18,4%. Negócios Internacionais manteve-se praticamente estável em R$ 30,9 milhões no trimestre. A Argentina foi responsável por 30% das vendas contratadas no semestre, consolidando-se como destino estratégico da companhia. "A Argentina saiu de zero dos nossos negócios internacionais há dois anos para mais de 30% já nesse primeiro semestre", disse o CEO. No segmento de Reposição e Serviços, o País já ocupa a segunda posição entre os destinos de exportação. O segmento Fazendas faturou R$ 95,8 milhões, queda de 7,5% na comparação anual, pressionado por juros altos e preços mais baixos das commodities. Ainda assim, apresentou expansão de 32,9% na base de clientes. Foram contratados dez novos projetos no trimestre, somando R$ 73 milhões, com entregas previstas para o segundo semestre.
Portos e Terminais recuou 60,8%, para R$ 14,7 milhões, refletindo uma base comparativa elevada no segundo trimestre de 2024. A margem bruta do segmento, contudo, avançou 0,8%, para 36,4%, com crescimento de 20% na base de clientes faturados. As despesas gerais e administrativas totalizaram R$ 24,1 milhões no trimestre, recuo de 3% na comparação anual. No semestre, a queda foi de 4,8%, mesmo sob pressão inflacionária. "Como um imóvel aqui em São Paulo: se a pessoa vai comprar financiado, com juros baixos, ele se preocupa menos com o preço. Mas se vai comprar com o próprio dinheiro, aperta mais o fornecedor", afirmou Nogueira, ao comentar o impacto dos juros nas margens comerciais. A Kepler Weber reduziu sua dependência do Plano Safra. O Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), linha oficial de crédito voltada à instalação de silos e estruturas logísticas nas propriedades rurais, é responsável hoje por cerca de 13% a 14% da receita da companhia, ante participação de até 50% há cinco anos.
A mudança reflete uma estratégia deliberada de diversificação e acompanha o avanço do mercado financeiro do agronegócio, com produtores cada vez mais sofisticados no uso de instrumentos alternativos de crédito. O diretor financeiro, Renato Arroyo, afirmou que a redução da exposição ao PCA foi estrutural e planejada. Segundo ele, a expansão de áreas como reposição, serviços e exportações tornou a empresa mais resiliente a choques no crédito oficial. O Plano Safra 2025/2026 manteve estável a dotação de R$ 4,5 bilhões para projetos de armazenagem acima de 12 mil toneladas, mas elevou os juros de 8,5% para 10% ao ano. Para silos menores, com capacidade de até 12 mil toneladas, os recursos passaram de R$ 3,3 bilhões para R$ 3,7 bilhões, com taxa subindo de 7% para 8,5% ao ano. Arroyo projetou que a empresa deve manter no novo ciclo o mesmo nível de participação observado nos últimos anos. A baixa execução do PCA no ciclo anterior restringiu investimentos, mas a sofisticação do mercado criou alternativas.
Arroyo destacou que muitos clientes passaram a emitir Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e debêntures, usando esses instrumentos para financiar a compra de equipamentos. Para a Kepler, os recursos entram como pagamento direto, mesmo quando há intermediação financeira. O CFO avaliou que a importância do PCA tende a diminuir conforme outros segmentos crescem. "Como a gente está crescendo muito em reposição e serviços, está crescendo muito em negócios internacionais, se você aumentar a participação desses três negócios, pode ser que ele caia", afirmou. O programa hoje afeta principalmente os segmentos de Fazendas e Agroindústrias, que representam menor fatia do portfólio atual. Arroyo ressaltou que o ambiente de financiamento do agronegócio evoluiu nas últimas duas décadas. Segundo ele, o volume de recursos públicos não caiu de forma acentuada, mas a demanda cresceu, o que forçou o mercado a buscar instrumentos mais sofisticados. Grandes instituições financeiras passaram a atuar no setor, oferecendo alternativas ao crédito oficial.
A empresa adota postura conservadora em relação ao PCA e trata eventuais recursos adicionais como potencial de crescimento. "O que vier acima disso, se chegar mais dentro da ponta, vai ser considerado um upside para a gente", disse Arroyo. Ele avaliou que, apesar das restrições fiscais, o novo ciclo do programa surpreendeu positivamente. "Veio um PCA até melhor do que as minhas expectativas, pelo menos. Agora, se vai chegar na ponta, é outra questão", afirmou. Segundo ele, os R$ 8,2 bilhões disponíveis representam avanço frente ao ano passado, e qualquer melhoria já ajuda o setor. O CEO Bernardo Nogueira reforçou que a demanda por armazenagem permanece sólida, mas depende de crédito de longo prazo. "O produtor quer comprar, mas muitas vezes precisa de prazos de 24 ou 36 meses. Como não carregamos essas vendas no balanço, dependemos do plano safra nesse segmento", afirmou. A expectativa é que a maior disponibilidade de recursos facilite a conversão de negócios no segundo semestre.
A Kepler Weber ganhou 1% de participação de mercado entre 2023 e 2024, mantendo a liderança no setor de equipamentos de armazenagem e logística para o agronegócio mesmo em um ambiente de forte pressão competitiva sobre preços. “O pior já passou, agora a gente já vê uma estabilidade em preços”, afirmou o CEO Bernardo Nogueira. Segundo o executivo, a pressão sobre margens refletiu mudanças no comportamento dos clientes em meio a juros elevados e restrições de liquidez. Produtores que compram com recursos próprios passaram a demandar maior eficiência nas negociações, pesquisar mais e negociar com mais intensidade. “O cliente vem pesquisando mais e brigando mais na hora de comprar”, disse. Ainda assim, o cenário permanece “dentro de uma racionalidade”, sem movimentos agressivos que ameacem a estratégia de manutenção da liderança.
A retomada da demanda e de preços depende, na avaliação da companhia, de três fatores estruturais: rentabilidade do produtor rural, taxa de juros e tamanho das safras. “Bons preços de soja e milho oxigenam todo o sistema. Juros mais competitivos auxiliam investimentos de longo prazo, e uma safra recorde traz vento a favor”, afirmou Nogueira. A expectativa é de dois anos consecutivos de safra cheia, em 2025 e 2026, sustentando a procura por projetos de armazenagem e beneficiando a carteira de pedidos. O CFO Renato Arroyo destacou que 56% do Ebitda do segundo trimestre foi gerado apenas em junho, evidenciando a aceleração na virada para o segundo semestre. A sazonalidade tradicional concentra cerca de 60% da receita no segundo semestre, o que tende a favorecer a diluição de custos fixos e a recuperação gradual das margens. “Não precisamos fazer investimentos adicionais em SG&A ou custos estruturais, então o aumento de volumes melhora a rentabilidade”, disse.
A administração reiterou que o cenário de melhora é gradual e não inclui, no curto prazo, mudanças relevantes nos preços das commodities agrícolas ou na taxa de juros. O impulso virá principalmente do crescimento de volumes, que já começa a se refletir na carteira contratada, e de ganhos operacionais com a execução dos projetos. A Kepler Weber deve encerrar 2025 com faturamento já garantido no quarto trimestre e iniciar 2026 com parte relevante da receita contratada. A companhia informou que sua carteira de pedidos cresceu 14% e é composta por contratos assinados e com sinal pago, representando risco de cancelamento inferior a 0,1%. "São negócios fechados, contratos assinados, sinal pago. Então não tem muito risco, ela está dentro de casa", disse o CEO Bernardo Nogueira, nesta sexta-feira, durante a teleconferência de resultados do trimestre.
O impacto dessa carteira será distribuído principalmente no quarto trimestre de 2025, mas já compõe a chamada "carteira de virada" para 2026. Segundo Nogueira, a empresa já está construindo a carteira para o próximo ano, com mix atual liderado pelos segmentos de Fazendas e Reposição e Serviços, além de projetos pontuais em portos e terminais. O executivo prometeu antecipar no próximo trimestre uma visão sobre 2026. "No nosso próximo call (teleconferência), quando fecharmos o terceiro trimestre, já vamos conseguir trazer uma perspectiva boa da carteira de virada, como estamos vendo 2026", disse. A empresa projeta retomar margens gradualmente, amparada pela entrada dos contratos e pela diluição de custos fixos com volumes maiores na reta final do ano. O CFO Renato Arroyo destacou que a sazonalidade tradicional concentra 60% das vendas no segundo semestre, o que deve favorecer a diluição de custos estruturais. Fonte: Broadcast Agro.