01/Aug/2025
Segundo o Itaú BBA, a ameaça de sanções secundárias contra países que mantêm relações comerciais com a Rússia pode elevar os custos de produção agrícola no Brasil e comprometer a competitividade do setor. A advertência ocorre após declarações do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, em audiência no Congresso dos Estados Unidos, e da decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de reduzir o prazo para um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia de 50 para 10 dias, com vencimento em 8 de agosto. A dependência de insumos estratégicos como fertilizantes e combustíveis torna o agronegócio nacional vulnerável a aumentos de custos. A Rússia responde por 26% dos fertilizantes e 15% dos combustíveis importados pelo Brasil, o que representa 84% do valor total das importações brasileiras provenientes do país. Caso as sanções comerciais sejam ampliadas, o fornecimento desses insumos pode ser comprometido.
A Rússia foi responsável, em 2024, por 53% das importações brasileiras de MAP (fosfato monoamônico), 40% do cloreto de potássio (KCl) e 20% da ureia. A Rússia é um dos principais fornecedores de fertilizantes para o Brasil, especialmente de potássicos e nitrogenados, sendo considerada uma origem mais acessível e vantajosa economicamente. No ano passado, o Brasil importou US$ 3,7 bilhões em fertilizantes russos, o equivalente a 27% do total de US$ 13,5 bilhões gastos com esse insumo. A Rússia ocupa posição estratégica na oferta global desses produtos. É o segundo maior produtor mundial de potássicos e nitrogenados e o quarto de fosfatados. Caso sanções internacionais sejam ampliadas ou novas barreiras sejam impostas ao comércio com a Rússia, os impactos sobre a produção agrícola nacional poderão se intensificar. A elevação dos custos pode pressionar margens e influenciar os preços ao consumidor final.
O estudo considera que a substituição de fornecedores exigiria tempo, reestruturação logística e negociações diplomáticas. Embora existam planos para ampliar a produção nacional de fertilizantes, essa é uma meta de longo prazo e ainda distante da realidade atual. A estrutura produtiva interna carece de investimentos robustos, incentivos e infraestrutura para suprir a demanda do setor agrícola em escala adequada. Entre as alternativas possíveis, o Brasil poderia diversificar origens e ampliar parcerias com países como Canadá, Marrocos, Nigéria e outras nações do Oriente Médio. No entanto, a concorrência também deve ampliar, por outros países que também podem sofrer barreiras, o que tornaria a transição mais complexa no curto prazo. Além dos fertilizantes, os combustíveis também estão no centro das preocupações. Há impacto inicial no aumento do custo com frete caso haja barreiras ao petróleo e seus derivados. Por outro lado, o cenário pode abrir espaço para fontes alternativas. Há uma oportunidade para o biodiesel, podendo estimular a demanda.
O documento também avalia os impactos sobre o mercado de trigo. Embora a Rússia seja o principal exportador global e o quarto maior produtor do cereal, o Brasil importa apenas 11% de seu trigo do país. As possíveis sanções secundárias da Otan à Rússia, com forte pressão dos Estados Unidos, colocam o Brasil em posição delicada. Ainda que existam fontes alternativas para o suprimento de fertilizantes, a substituição plena exigiria mais tempo e poderia resultar em custos adicionais. No curto prazo, os impactos seriam sentidos na competitividade do setor agrícola brasileiro, com efeitos sobre as margens e preços ao consumidor. O cenário ainda é incerto e depende da evolução política e diplomática nos próximos dias. A efetivação das sanções dependerá das decisões políticas da Otan e da intensidade da pressão dos Estados Unidos sobre seus aliados e parceiros comerciais. O cenário permanece volátil e exige monitoramento constante por parte dos agentes do agronegócio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.