10/Jul/2025
Segundo a Associação Brasileira de Consumidores de Energia (Abrace), que representa os grandes consumidores de energia, a escalada dos preços da energia elétrica e do gás natural nos últimos 25 anos foi uma das principais responsáveis pela inflação superior à meta no Brasil, afetando diretamente o custo de vida das famílias e comprometendo a competitividade da indústria. O aumento de preços de diversos bens e serviços decorreu principalmente do repasse dos custos de produção e distribuição de energia. Entre os anos de 2000 e 2024, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado foi de 326%, o custo unitário da energia elétrica cresceu 1.299% e o do gás natural, 2.251% - quatro e sete vezes a mais do que a inflação, respectivamente. Entre os alimentos, o pão francês subiu 509% no período, sendo 85% disso atribuído à energia.
O mesmo ocorre com o leite longa-vida (86%) e o queijo (92%). A lista, extraída do levantamento elaborado pela Ex Ante Consultoria Econômica, segue com cimento (31,6%), gás de botijão (53,1%) e ônibus urbano (19,9%). Para além da inflação ao consumidor, o estudo alerta para impactos indiretos na perda de dinamismo industrial, a compressão de margens, a retração de investimentos, além de efeito negativo sobre a geração de emprego. Essa pressão silenciosa da energia sobre os preços tem sido um dos principais obstáculos à estabilidade econômica do País. Para a Abrace, a MP da reforma do setor elétrico (1.300/2025), que está em debate no Congresso Nacional, tem potencial de piorar o quadro e encarecer ainda mais os custos de energia. A MP propõe, entre seus diferentes itens, a redistribuição de encargos para os consumidores do mercado livre, incluindo a indústria, para, entre os objetivos, poder custear a nova política de redução de tarifa aos mais pobres.
O estudo projeta que, caso seja aprovada sem alterações, a MP pode provocar um repique inflacionário de até 2% no IPCA ao longo dos próximos anos. Trata-se de uma transferência ineficiente e injusta de custos, que penaliza os setores produtivos e agrava o custo dos produtos essenciais, justamente aqueles que mais afetam a população de baixa renda. A entidade defende que os subsídios sociais deveriam ser custeados por instrumentos de política pública, como o Orçamento Geral da União, e não por meio de repasses à cadeia produtiva. Para a Abrace, o País só terá condições de aproveitar plenamente sua vantagem competitiva em energia limpa e renovável se for capaz de resolver suas distorções tarifárias e regulatórias. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou no fim de junho o acionamento da bandeira vermelha patamar 1 nas contas de luz para o mês de julho, mesma condição vigente ao longo de junho.
Isso significa uma cobrança adicional de R$ 4,46 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos neste mês. A manutenção da bandeira vermelha reflete a continuidade do cenário hidrológico negativo no País, com volume de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas inferior à média histórica para o período, o que reduz a geração de energia por hidrelétricas. Esse quadro tende a elevar os custos de geração de energia, devido à necessidade de acionamento de fontes mais onerosas para geração, como as usinas termoelétricas. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aponta que em julho as chuvas devem ficar abaixo da média na maior parte do País. E mesmo na Região Sul, onde as precipitações seguem com maior intensidade, a previsão é de forte redução dos volumes a partir da segunda semana do próximo mês. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.