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08/Jul/2025

Armazenagem: País sofre com déficit de armazéns

O Brasil vai colher a maior safra de grãos da história, mas não tem onde guardar toda a produção. A colheita deve chegar a 336,1 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas a capacidade total dos armazéns agrícolas é de 212,6 milhões. Assim, 124,3 milhões de toneladas de grãos como soja e milho podem ficar ao relento, como aconteceu em anos anteriores. Do lado do produtor, a falta de armazéns encarece o frete, pois há uma procura maior para o escoamento da safra. A indústria também perde, pois precisa comprar a safra e estocá-la, o que encarece a produção. Na outra ponta, o consumidor tem de pagar mais pelo produto final. O alto custo para financiar novos armazéns e falta de mão de obra especializada são apontados por analistas como os motivos para o problema. A escassez de armazéns tem se tornando crônica, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

É uma conta que não fecha: há duas décadas a produção de grãos cresce em média de 5,3% ao ano, mas a capacidade de armazenagem segue em ritmo mais lento, de 3,4% ao ano. Os números da CNA mostram que, em 2005, o País colheu 114,7 milhões de toneladas e armazenou 106,5 milhões. Em 2015, para uma colheita de 208,6 milhões de toneladas, havia capacidade para 169,7 milhões, déficit de 39 milhões. Agora, pouco mais da metade dos grãos colhidos (63,3%) têm armazém garantido. Se considerar os silos e armazéns que estão dentro das fazendas, esse percentual cai para apenas 16,8%. A Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) recomenda que a capacidade estática de armazenamento de um país deve ser 1,2 vez maior que a sua produção anual. Nesta safra, o Brasil deveria ter armazéns para mais de 400 milhões de toneladas, menos de o dobro do disponível. Para a Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho) outro agravante é a sequência das duas principais safras. A safra maior de milho vem logo após a colheita da soja.

Os espaços dos armazéns estão ocupados, e a soja tem valor de tonelada que é o dobro do milho. Assim, o milho fica sem espaço nos silos e o grão, muitas vezes, vai para céu aberto, exposto a sol e chuva. Para se livrar do risco, assim que colhe, o produtor tenta colocar a produção. Isso resulta em outros dois problemas: os preços desabam devido à grande oferta e o frete aumenta, em razão da alta demanda. A indústria, forçada a comprar, acaba fazendo armazenagem de longo prazo, que encarece sua produção. É ruim para todos. A falta de armazéns é mais grave nas novas fronteiras agrícolas, como o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde apenas 46,4% da produção contam com silos. No Maranhão, por exemplo, em alguns casos o grão precisa viajar 100 km fora da fazenda para chegar ao armazém. Segundo a CNA, se chega ao absurdo de usar caminhões como silos por falta de armazéns. O estado de Rondônia, que registra avanços na agricultura, tem capacidade para apenas 23,8% dos grãos que produz.

Maior produtor brasileiro de grãos, Mato Grosso sofre com a falta de armazéns dentro da fazenda. Para uma produção de 104,8 milhões de toneladas previstas para esta safra, o Estado tem capacidade para guardar 52,3 milhões de toneladas. Ou seja, metade da produção precisa ser vendida na colheita, ou vai para armazéns alugados. Ou ainda, o que é pior, ficará ao relento. Foi o que aconteceu em 2023, na Cooperativa Agrícola Terra Viva (Cooavil), em Sorriso (MT). Imagens de montanhas de milho no pátio, a céu aberto, circularam pelas redes sociais. Nesta safra, a Cooavil trabalha com uma capacidade de 2,6 milhões de sacas de 60 Kg, mas a soja já ocupa quase todos os armazéns. Ter mais silos na propriedade não depende só da vontade do produtor. No final de 2022, a CNA ouviu 1.065 produtores rurais de todas as regiões do Brasil e 72,7% deles disseram que investiriam em armazenagem se a taxa de juros fosse atrativa. As regiões com maior interesse foram o Norte (82,7%), Centro-Oeste (78,4%) e Matopiba (73,3%).

Além do financiamento ainda ser caro, a taxa de juros de 7% a 8,5% ao ano é o dobro da dos Estados Unidos. Nessas regiões, há falta de mão de obra qualificada para operar e gerenciar os armazéns. Pesando ainda no custo de operação. Diante disso, o produtor acaba avaliando que é melhor comprar uma colheitadeira nova do que construir o silo. A Abramilho defende a necessidade de investimentos mais robustos para reduzir a defasagem. Pelas suas contas, seriam necessários R$ 15 bilhões anuais apenas para acompanhar o crescimento das safras. O Plano Safra 2024/2025 destinou R$ 7,8 bilhões ao programa de construção e ampliação de armazéns, alta de 17,4% em relação à safra anterior, mas apenas uma parcela ficou acessível para os produtores instalares silos nas fazendas. Para construir um silo, é preciso um projeto, licença ambiental, licença prévia e de instalação, um processo complicado para o agricultor. Os condomínios de grãos surgiram principalmente no Paraná como uma alternativa. Um grupo de produtores se reúne e constroem a estrutura em sociedade para uso compartilhado.

Para a Embrapa Soja, o déficit de armazéns é especialmente crítico no momento em que se investe em biotecnologia para ampliar a produtividade da soja. O Brasil tem potencial para produzir 3 ou 4 vezes mais na mesma área, mas a competência do agricultor brasileiro em produzir mais não tem sido acompanhada na mesma velocidade com a criação da infraestrutura. O que os produtores têm feito nas regiões mais distantes é usar os silos-bolsa, mas é um sistema que não permite o controle da umidade e de pragas. O Ministério da Agricultura e Pecuária informou que os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para armazenagem alcançaram R$ 2,6 bilhões na atual safra, sendo o maior da série histórica iniciada em 2013. No âmbito do Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), o valor aprovado entre julho de 2024 e março deste ano supera em 32% os investimentos feitos na safra anterior. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.