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25/Jun/2025

Insumos: preocupação com recuperações judiciais

O agronegócio brasileiro enfrenta uma confluência de desafios que colocam à prova, simultaneamente, sua capacidade produtiva, financeira e gerencial. O agro, que dizem ser “pop”, embora eu prefira chamá-lo de “tec”, também quebra. O atual ciclo de baixa das commodities agrícolas soma-se a safras marcadas por eventos climáticos extremos, desorganização no fornecimento de insumos, escassez de crédito, juros elevados e uma carga tributária que sufoca as margens. Como agravante, o setor opera sem políticas públicas claras ou coordenadas, o que compromete o planejamento de médio e longo prazo e afasta novos entrantes.

Em menos de nove meses, duas das maiores distribuidoras de insumos do País, Lavoro Agro e AgroGalaxy, recorreram à recuperação (judicial e extrajudicial) como forma de reestruturar dívidas e manter suas operações. Embora as estruturas e motivações sejam distintas, ambas acendem o mesmo alerta: os limites da resiliência empresarial diante de um ambiente prolongado de estresse financeiro. O modo como cada grupo comunicou a decisão ao mercado também chama atenção. Uma optou pela via judicial com tom técnico e reservado, voltado a investidores e credores. A outra buscou o caminho extrajudicial, com comunicação mais ampla, dialogando com fornecedores e produtores para preservar a operação.

São estratégias distintas de gestão de narrativa que causam impacto direto na imagem da empresa, e do setor, nacional e internacionalmente. Mais do que repactuação de dívidas, essas decisões expõem o calcanhar de Aquiles do agro: a fragilidade estrutural da gestão. Neste contexto, é necessário ir além das explicações conjunturais. A pressão por resultados é real em todos os setores, mas no agro ela encontra empresas muitas vezes dependentes de capital de giro, com baixa diversificação de receita e práticas gerenciais frágeis. Gestão, mitigação de riscos e capacitação: esses são os três pilares que precisam urgentemente ser revisitados no agronegócio brasileiro.

- Gestão comercial e estratégica: inegociável

Costumo repetir uma frase que descreve bem o momento do País e do agro: “Dinheiro não aceita desaforo.” A conta sempre chega. Produzir bem ou vender bem e muito já não é suficiente. É essencial negociar com excelência, tanto na compra quanto na venda, mantendo uma visão holística de mercado e desenvolvendo relações saudáveis com todos os elos da cadeia. Estratégia, inteligência e eficiência operacional precisam caminhar juntas. Em 2024, o agro movimentou mais de R$ 2,6 trilhões, segundo o MAPA - cerca de 24% do PIB nacional. Um erro de gestão em um setor desse porte afeta mais do que uma empresa: reverbera em comunidades, na reputação internacional do Brasil e na estabilidade econômica regional.

- Risco não se elimina, mas se mitiga

Em tempos de margens apertadas, proteger o negócio é sobreviver. Isso exige que líderes, consultores e conselheiros estejam familiarizados com ferramentas modernas de mitigação de risco: hedge cambial, seguro rural, contratos a termo, diversificação de portfólio e estruturação de capital são instrumentos fundamentais, e subutilizados. É hora de parar de tratar gestão de risco como um “luxo corporativo”. É item essencial.

- Capacitação contínua: o ativo mais estratégico do agro

O ambiente do agro é técnico, volátil e cada vez mais regulado. Investir em capacitação - tanto das lideranças quanto das equipes operacionais, é o único caminho para garantir perenidade e inovação. Profissionalizar o agro é ato contínuo. Capacitação não se limita à porteira. O dentro e o fora da porteira devem estar sempre no fluxo de atualizações. Em 28 anos atuando no setor, aprendi que as crises elevam a régua da boa gestão. Mais valioso do que saber o que fazer em um cenário de crise é saber o que não fazer.

- O agro não é imune a crises e não pode ser amador

A vocação brasileira para o agronegócio é inegável. Temos clima, solo, tecnologia e paixão. Mas isso não basta. O agro não está blindado contra crises de mercado, de crédito ou de gestão. Na verdade, sua complexidade e peso no PIB o tornam ainda mais sensível a elas.

As recuperações judiciais de Lavoro e AgroGalaxy e de tantas outras que saíram e estão prestes a sair do forninho não são eventos isolados, são sintomas. O setor precisa olhar com seriedade para suas fragilidades e repensar sua estrutura com coragem e responsabilidade. Mexer na ferida dói. Mas o agro, pelos números que movimenta, pelos empregos que gera e pelas vidas que alimenta, carrega mais que uma missão: carrega uma enorme responsabilidade de nutrir economias locais e garantir segurança alimentar global. Mais do que nunca, a gestão plural, eficiente e integrada é uma obrigação. Planejar com antecedência, antecipar riscos e manter um olhar estratégico de longo prazo é o verdadeiro diferencial competitivo. Quem não fizer a lição de casa com esmero, dificilmente sobreviverá ao próximo ciclo. Fonte: Andrea Cordeiro. Broadcast Agro.