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20/Jun/2025

Insumos: Lavoro protocola recuperação extrajudicial

A Lavoro protocolou, na quarta-feira (18/06), na Justiça de São Paulo, o pedido de recuperação extrajudicial (RE) para reestruturar aproximadamente R$ 2,5 bilhões em dívidas comerciais com fornecedores de insumos agrícolas. O processo, segundo o CEO da companhia, Ruy Cunha, é resultado de meses de negociação com os principais credores e tem como foco garantir o fornecimento de insumos para as próximas safras. A recuperação extrajudicial, prevista na Lei nº 11.101/2005, permite que uma empresa negocie condições de pagamento com seus credores fora do trâmite tradicional de uma recuperação judicial, mas com homologação pela Justiça para dar caráter vinculante aos termos para todos os credores da mesma classe. "Exploramos diversas alternativas, mas entendemos que a RE era o instrumento que traria mais segurança para todas as partes envolvidas", afirmou Cunha. O plano da Lavoro divide os credores em cinco classes, com diferentes condições de pagamento.

Os 'Credores Apoiadores Gerais' receberão 100% do principal, corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em dez parcelas semestrais, com início em setembro de 2025 e término em abril de 2030. Até 10% do valor poderá ser quitado por meio de produtos já disponíveis no estoque da companhia. Na categoria dos 'Credores Apoiadores Especiais', o pagamento será feito em oito parcelas semestrais, de setembro de 2025 a abril de 2029, com a possibilidade de até 20% do crédito ser liquidado com produtos em estoque, ou até 40%, no caso de créditos denominados em dólar. Uma terceira classe foi criada especificamente para fornecedores de sementes, que segundo Cunha possuem maior necessidade de capital de giro. "A gente criou uma classe específica para sementeiros, porque são empresas até menores, que têm uma necessidade maior de capital de giro", explicou. Esses credores receberão 100% do valor em cinco parcelas semestrais, de outubro de 2025 a setembro de 2027. Pequenos fornecedores com créditos de até R$ 50 mil receberão pagamento à vista, com eventuais saldos remanescentes sendo dispensados.

Já os credores que optarem por não aderir ao plano, classificados como 'Não Apoiadores', receberão 50% do valor, com correção pelo IPCA, em uma única parcela prevista para junho de 2032. "Quem não aderir, quem não apoiar, recebe até 2032 e, nesse caso, tem um deságio de 50%", disse Cunha. "Conseguimos o apoio dos grandes credores e é por isso que achamos por bem fazer o anúncio." O escopo da recuperação extrajudicial abrange apenas a Lavoro Distribuição Brasil, responsável pela operação de varejo de insumos no País, e a Perterra, unidade da divisão Crop Care que comercializa agroquímicos importados da China. As demais operações da Crop Care e a Lavoro Latam, que inclui a atuação na Colômbia, estão fora do processo. A holding Lavoro Agro Limited, listada na Nasdaq, nos Estados Unidos, também não será afetada pela reestruturação. As dívidas bancárias da companhia, que somam cerca de R$ 1,2 bilhão, foram renegociadas de forma independente, em acordos bilaterais fechados anteriormente com as instituições financeiras.

Além disso, a Lavoro manterá o pagamento dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), que totalizam R$ 420 milhões. "O CRA nós pretendemos pagar normalmente, em linha com o contrato original", afirmou Cunha. Em relação à regulação norte-americana, Cunha esclareceu que a empresa vai apenas protocolar um formulário 6-K na Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, por se tratar de um fato relevante, mas sem necessidade de aprovação formal por parte do regulador norte-americano. O processo de construção do plano envolveu a consultoria Alvarez & Marsal, contratada em novembro de 2024, e o escritório Pinheiro Neto Advogados. "A Alvarez & Marsal foi contratada para nos ajudar nas negociações bilaterais e na reestruturação operacional, não só na financeira", afirmou. A expectativa da companhia é de que a homologação judicial ocorra entre 60 e 90 dias após o protocolo. Até lá, os termos comerciais estabelecidos com os fornecedores que já aderiram ao plano seguem válidos.

A Lavoro confirmou que os principais fornecedores que aderiram ao plano de recuperação extrajudicial incluem Basf, FMC Agrícola e UPL Brasil, que se comprometeram a apoiar a reestruturação de R$ 2,5 bilhões em dívidas comerciais protocolada hoje na Justiça de São Paulo. O CEO da companhia, Ruy Cunha, disse ao Broadcast Agro que o fluxo normal de fornecimento desses parceiros já foi retomado no quarto trimestre fiscal e que discussões com outros fornecedores-chave estão em estágios avançados. "Conseguimos o apoio dos grandes credores e é por isso que achamos por bem fazer o anúncio", afirmou. O acordo estabelece uma estrutura contratual de vários anos que padroniza os termos de fornecimento e financiamento de estoque, garantindo disponibilidade de produtos e mitigando riscos de mudanças abruptas nas condições de crédito. Segundo a empresa, embora a ratificação completa dependa da aprovação judicial do plano, os termos de fornecimento e financiamento já estão em vigor, permitindo a normalização do fluxo de produtos.

Cunha explicou que a recuperação extrajudicial foi escolhida após a empresa concluir que negociações bilaterais individuais com centenas de fornecedores seriam impraticáveis. "Chegamos a um ponto onde negociar bilateralmente com centenas de fornecedores é impraticável", disse na entrevista. "A gente meio que teve que buscar uma solução que trouxesse uma segurança maior." A necessidade da reestruturação surgiu após um período crítico entre novembro e dezembro de 2024, quando a Lavoro enfrentou escassez severa de estoques em categorias-chave durante o pico da temporada de plantio de soja. As dificuldades foram agravadas pela deterioração nas condições de financiamento de estoque, exacerbada pela recuperação judicial de um grande varejista agrícola concorrente no Brasil. "Quando a gente estava negociando com fornecedores e não tinha certeza sobre as datas dos novos fornecimentos, nós proativamente cancelamos pedidos de vendas e deixamos de tirar pedidos novos, a menos que o produto estivesse no nosso estoque", explicou Cunha. "Justamente para não correr o risco de você vender alguma coisa e não poder entregar depois."

O CEO disse que, embora negociações em janeiro tenham aliviado parcialmente os gargalos, ficou claro que seria necessária uma solução mais abrangente para evitar impactos significativos no ano fiscal de 2026. A empresa espera expandir a adesão ao plano nos próximos 90 dias, com divulgação mais ampla do acordo para fornecedores que não participaram das discussões iniciais. Questionado sobre a possibilidade de a empresa ter considerado uma recuperação judicial tradicional, Cunha foi categórico ao negar. "Nunca foi uma hipótese que nós trabalhássemos", afirmou. Segundo ele, a recuperação extrajudicial sempre foi vista como a melhor alternativa para resolver as questões com fornecedores de forma definitiva. Sobre possível resistência ou judicialização por parte de credores não aderentes, o CEO disse que o ambiente de negociação foi construtivo. "O problema do setor não é um problema de um player, é um problema da cadeia e isso é algo entendido por todos", afirmou. "O clima tem sido de colaboração no sentido de promover o que é melhor para todos." O plano de recuperação extrajudicial se tornará vinculante para todos os fornecedores elegíveis após aprovação judicial, não apenas para aqueles que são partes do acordo inicial.

A Lavoro foi criada em 2017 pelo fundo Pátria Investimentos com estratégia de consolidação do mercado de distribuição de insumos agrícolas por meio de aquisições. A companhia fez mais de 20 aquisições desde o início das operações e se tornou uma das maiores varejistas de fertilizantes, sementes e defensivos da América do Sul. Em março de 2023, a empresa foi listada na Nasdaq. A deterioração financeira da Lavoro teve início no segundo semestre de 2024, quando o setor enfrentou uma confluência de fatores adversos. O ano safra 2023/2024 foi marcado por queda nos preços de commodities e insumos agrícolas, declínio na rentabilidade dos produtores, secas e restrição de liquidez para agricultores. A Lavoro suspendeu temporariamente sua estratégia de fusões e aquisições, que incluía mais de 70 potenciais alvos na América Latina. "Nesse momento nossa prioridade é reestruturar a companhia, garantir a resiliência dela", disse Cunha. O executivo acrescentou que, embora ainda acredite no potencial de consolidação do setor devido à fragmentação e margens apertadas, o foco atual é exclusivamente a reestruturação interna. Fonte: Broadcast Agro.