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20/Jun/2025

Defensivos: estudo da presença na água da chuva

A água da chuva não é tão limpa quanto parece. Estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) verificou a presença de substâncias químicas de 14 defensivos na água de chuvas na capital de São Paulo em outras duas cidades do Estados. Entre elas, componentes de produtos vetados no País por risco à saúde, e com potencial para causar câncer. A coleta de amostras foi feita em São Paulo, Campinas e Brotas, com diferentes usos de solo. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo informou que monitora constantemente o uso de defensivos no Estado e fiscaliza em áreas agrícolas. Além dos 14 defensivos, foram encontrados cinco compostos, com destaque para o herbicida atrazina, presente em 100% das amostras, e o fungicida carbendazim que, apesar de proibido no Brasil, estava em 88% do material coletado. O herbicida tebuthiuron foi detectado pela primeira vez, em 75% das amostras de água.

A detecção desses compostos na chuva ocorre pela presença de contaminantes na atmosfera, tanto no material particulado que impregna gotas de chuva quanto na fase gasosa, dispersa na neblina. O trabalho foi publicado em março na revista científica Chemosphere, com o título (traduzido do inglês) “Pesticidas em águas da chuva: estudo de ocorrência de dois anos em compartimento ambiental inexplorado em regiões com diferentes usos do solo no Estado de São Paulo - Brasil”. O documento cita que, por causa da extensa área agrícola do Brasil, o uso de grandes quantidades de pesticidas afeta diretamente os vários ambientes, incluindo a água da chuva. Os resultados mostram o tamanho da dispersão da contaminação por defensivos em diferentes matrizes ambientais do Estado. Embora não haja risco imediato, a longo prazo a saúde de pessoas e animais pode ser afetada. Se beber um copo de água da chuva, ela vai ter resíduos de defensivos, mas não há dano imediato.

O dano maior é decorrente da exposição contínua e prolongada a essas concentrações de defensivos tanto pela água de chuva como pela água da torneira. Isso porque o estudo apontou que essas concentrações são as mesmas que outras pesquisas já identificaram nos rios e na água de abastecimento proveniente de rios contaminados por defensivos, que são vários no Brasil e, principalmente, no estado de São Paulo. A água das chuvas foi coletada entre agosto de 2019 e setembro de 2021. Estudar a água da chuva traz a “impressão digital” de como está o uso de defensivos numa determinada região. Por ser uma contaminação atmosférica, não exatamente reflete a contaminação de um local específico. Como o material pode ser transportado para outras regiões, pode-se pensar numa contaminação generalizada. Ao ser aplicado, às vezes com aviões, o pesticida pode ser levado pelo vento e atingir regiões diferentes. Isso explica o encontro de contaminantes agrícolas em áreas densamente urbanizadas, como a capital paulista. A pulverização pode intensificar essa concentração.

A presença de contaminantes que são proibidos pode indicar que eles continuam sendo usados ou que são persistentes no ambiente e continuam aparecendo na água de chuva. O estudo colheu 19 amostragens na cidade de São Paulo, 17 em Campinas e 13 em Brotas, cidade que fica em meio a lavouras de cana-de-açúcar. Em todos os pontos de coleta foi observada presença de pelo menos um dos contaminantes. No estudo, o herbicida 2,4-D, muito usado em lavouras de cana-de-açúcar, foi o composto com maior concentração na água de Brotas, o que causa preocupação pela alta capacidade de transporte da substância pelo ar e pelos efeitos danosos já comprovados para a fertilidade humana, o que fez sua aplicação aérea ser proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2023. A aplicação por aerosol (em solo) ainda é permitida. O trabalho tem o efeito de um alerta ambiental. É um estudo que mostra um comportamento, ou seja, se continua usando o defensivo, ele continuará a ser encontrado na água de chuva.

Em São Paulo, foram encontrados defensivos usados principalmente na cana-de-açúcar, que é a principal cultura do Estado. Em outras regiões, como Mato Grosso, serão encontrados defensivos usados na soja, por exemplo. A Secretaria de Agricultura diz que monitora o uso de defensivos no Estado por meio do Programa Estadual do Uso de Agrotóxicos e Afins, da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, que realiza a fiscalização do uso dos produtos em áreas agrícolas para garantir o cumprimento da legislação e para promover práticas agrícolas sustentáveis. A legislação paulista de defensivos foi aprovada em maio de 2023 e passou a vigorar em 23 março de 2024, quando as irregularidades referentes aos defensivos passaram a ser penalizadas com multas pecuniárias. Desta data até o momento, foram aplicadas 57 multas de acordo com o dano causado à sociedade e ao meio ambiente e outros 40 processos administrativos estão em análise em primeira ou segunda instância. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.