16/Jun/2025
De acordo com projeção da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), os investimentos em infraestrutura no Brasil deverão somar R$ 288,2 bilhões em 2025 e bater um novo recorde. No ano passado, os números do setor já haviam sido expressivos, somando R$ 260,6 bilhões, o melhor resultado até então. Apesar do juro alto, boa parte do investimento esperado virá do setor privado, que deverá chegar a R$ 222,3 bilhões. “Tem de entender que vários projetos em andamento no momento não começaram agora. Tem projetos que estão no terceiro, quarto ano, e a captação de recursos e o funding já estão fechados. Eles continuam na execução”, diz Venilton Tadini, presidente executivo da Abdib. Hoje, o cardápio da Abdib mostra que o País tem cerca de 500 projetos que podem migrar para o setor privado, o que ilustra o melhor momento para o investimento em infraestrutura no País. “O fato é que temos uma condição virtuosa de crescimento da infraestrutura, mas que, infelizmente, não está sendo complementada naquilo que precisa com investimento público necessário por causa das restrições de natureza fiscal”, afirma. Segue a entrevista:
Por que o investimento continua crescendo mesmo com juros tão altos?
Venilton Tadini: Tem de entender que vários projetos em andamento no momento não começaram agora. Há projetos que estão no terceiro, quarto ano, e a captação de recursos e o funding já estão fechados. Eles continuam na execução. Essa é uma razão pela qual você tem um estoque de projetos em andamento, que, logicamente, vão se juntar aos projetos que foram recentemente solicitados e que terão captações também. Vale a pena chamar atenção ao fato de que, por serem (projetos) de longo prazo de maturação, o investidor não olha só a questão dos juros de curto prazo.
Qual tem sido o papel do poder público no cenário atual?
Venilton Tadini: Tanto os ministérios quanto o BNDES estão fazendo o funding do projeto de maneira ‘faseada’. Se o investidor tem de captar R$ 1 bilhão para determinado projeto, o BNDES está ‘faseando’ essa captação. Os juros subiram, mas a tendência é de que ele caia. E nós estamos falando de um projeto de 20 anos, 25 anos e alguns de 30 anos. Isso é outro fator, com outros instrumentos que têm sido utilizados pelo BNDES, o que dá uma tranquilidade maior, porque é diferente do que era feito no passado, quando você fechava a taxa de empréstimo para todo o período do financiamento. Agora, você pode fazer essa captação somente pelos desembolsos que estão ocorrendo nesse período.
Esse período de juro alto que o País enfrenta não terá um impacto tão grande nos investimentos, então?
Venilton Tadini: Vai impactar no sentido de que poderia ter crescido mais. Ele afeta o capital de giro e a disponibilidade de participação em novos projetos. As empresas com mais condições de participar de novos projetos serão aquelas que têm um maior nível de capitalização. A gente não pode esquecer também que muitos dos investidores recentes são fundos de investimento, que já fizeram suas captações na Europa, na Ásia. Alguns fundos vêm do Canadá. E outro fenômeno muito importante é a estrutura criada pelo Tesouro Nacional com o programa de diluição de risco cambial para captação externa ligada a projetos vinculados à economia verde. Isso é uma coisa importante. Tem mecanismo de hedge cambial, mecanismos de derivativos para proteção futura, não só do investidor, mas também lá de fora, de quem realiza o empréstimo.
Como mostra o mapeamento da Abdib, o Brasil tem quase 500 projetos de infraestrutura para serem leiloados. Há investidor para todos esses projetos?
Venilton Tadini: Nunca na história do nosso País (risos) tivemos um ciclo expansivo com as fontes de financiamento devidamente preparadas e ajustadas para fazer frente aos investimentos. Tem uma coisa importante que precede a isso ainda, que é a qualidade na estruturação de projetos. Melhorou muito. A curva de aprendizado foi enorme. Vejo gente escrever sobre os programas de investimentos, falando que estão repetindo o passado e tal. Quer dizer, ou não conheciam o passado ou não conhecem o presente. No passado, houve erros na análise de viabilidade do projeto, na mitigação de risco entre o público e o privado, na estruturação de funding, na forma de fazer o tratamento do investimento. Mudou tudo.
E tem investidor para tudo isso?
Venilton Tadini: Sem dúvida, tem. E, dependendo do que vai se desenrolar no mercado internacional, vai ter mais recursos ainda. Os nossos projetos são bons, bem estruturados, têm complementação de funding e investidores fortes. Não existe falta de investidor. Não tem país do mundo que tem o número de investidores em rodovias que o Brasil tem.
Com base no cenário que o sr. traça, é o melhor momento para investimento em infraestrutura no País?
Venilton Tadini: Exatamente. Estamos no melhor momento. A taxa de juros deveria ser menor, mas hoje você tem mecanismos de escape da política monetária. O Banco Central joga a taxa de juros - eu não vou dizer nas nuvens - a um degrau antes das nuvens. O fato é que temos uma condição virtuosa de crescimento da infraestrutura, mas que, infelizmente, não está sendo complementada naquilo que precisa com o investimento público necessário, por causa das restrições de natureza fiscal.
Fonte: Broadcast Agro.