11/Nov/2025
A região norte de Minas transformou suas características climáticas adversas em oportunidade de negócio. A região, conhecida pelo clima seco, altas temperaturas e baixo índice pluviométrico, agora abriga um dos polos emergentes de cultivo de cacau no País. Pesquisadores da Universidade Estadual de Minas Gerais (Unimontes) desenvolveram um método que viabiliza a produção do fruto em áreas não tradicionais. O projeto recebe apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), e já projeta resultados expressivos. Os dados atuais registram 480 hectares ocupados com plantações de cacau em Minas Gerais. Para 2026, as projeções apontam crescimento para 3 mil hectares plantados, alta de 525% em dois anos.
A indústria mundial busca locais que ofereçam estabilidade e capacidade de fornecimento de cacau. O Brasil tem a possibilidade de crescer com produtividade e tecnologia para atender a demanda mundial. A Fapemig destinou aproximadamente R$ 3,5 milhões ao Centro Tecnológico para Cacauicultura em Regiões Não Tradicionais (CTCRNT), que desenvolve estudos sobre consumo de água irrigada, tipos de mudas e adubação nas plantações. O método desenvolvido pela Unimontes permite o plantio de cacau a pleno sol, em consórcio com lavouras tradicionais de banana que já possuem sistema de irrigação. A técnica contrasta com o cultivo “na cabruca”, modelo tradicional que produz o fruto em meio à Mata Atlântica raleada. No sistema inovador, os produtores cultivam clones de cacau mais resistentes à sombra das bananeiras.
As mudas crescem durante dois anos, passam por podas sucessivas e se preparam para suportar a produção em condições climáticas desafiadoras. A associação entre cacau e banana traz vantagens econômicas imediatas aos produtores. Do ponto de vista econômico, o modelo garante renda constante ao produtor. Enquanto aguarda o cacau começar a produzir, ele mantém a comercialização de banana. O centro também aplica visão computacional na predição da produção e estuda sistemas agroflorestais que consorciam o cacau com macadâmia ou abacaxi. A pesquisa começou em 2011, quando a equipe analisou o cultivo de clones adaptados em Janaúba. Anos seguidos de seca severa comprometeram os primeiros experimentos. Os clones plantados na fazenda experimental, sem irrigação, não resistiram ao período de estiagem.
A equipe reformulou a estratégia e identificou clones trazidos da Bahia mais adaptados à região. Em 2017, o projeto recebeu novo apoio da Fapemig para experimentos em campo. Naquele ano, os pesquisadores promoveram os primeiros eventos técnicos de extensão, que levaram os resultados aos produtores locais. Desde então, a Unimontes realiza eventos específicos sobre cultivo de cacau no semiárido mineiro a cada dois anos. O CTCRNT desenvolve atualmente um projeto em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla) sobre fermentação do cacau para produção de chocolate. A iniciativa pode resultar no nascimento de um “terroir do sertão”, com cacau que apresenta características únicas da região. Fonte: Agro em Campo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.