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30/Oct/2025

Uva: produtores inovam cultivo na Serra Gaúcha/RS

O descendente italiano Vinicios Dall Oglio, de 55 anos, percorre o parreiral escolhendo os galhos em excesso que serão cortados. As gotas de seiva que brotam do corte indicam que a planta está bem viva. “É o choro da vida, mostra que a seiva está em circulação e a parreira, em plena atividade”, diz o produtor de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul. A desponta é feita quando a planta começa a emitir brotos após a poda de inverno. O cultivo é no sistema latada, em que as videiras são plantadas na horizontal, criando uma espécie de telhado verde para proteger as uvas. No chão, a vegetação alta formada por azevém, nabo forrageiro, aveia e ervilhaca protegem e mantêm a umidade do solo. “Parece que o vinhedo está com mato, mas é uma técnica que recomendamos para regenerar e manter a umidade do solo, evitando a ação direta do sol e das chuvas. Capinar o vinhedo é coisa do passado”, explica o engenheiro agrônomo Jovani Milesi, da Vinícola Aurora, que atende o viticultor cooperado.

Quarta geração na viticultura, Dall Oglio é formado em viticultura e enologia, e um dos pioneiros no uso de irrigação por gotejamento para driblar as sucessivas estiagens. No ano em que instalou a irrigação, que cobre 50% dos vinhedos, ele colheu 62 toneladas de uvas em área que, sem irrigar, produziria no máximo 40 toneladas. O investimento se paga com duas colheitas. O sistema que distribui gotas enriquecidas com fertilizantes (fertirrigação) só é acionado quando outro sistema inovador aponta a falta de água ou de algum insumo. É uma mini estação de sensoriamento que detecta até o teor de umidade das folhas. Para aplicar defensivos mapeados por modelo aritmético, ele usa um drone alugado. Dall Oglio toca os 7 hectares com 12 variedades de uvas como a isabel (tinta) e a lorena (branca), mais próprias para sucos, além das viníferas tannat (tinta) e trebbiano (branca). São uvas de ciclos diferentes para que as colheitas fiquem mais espaçadas, facilitando o processo e garantindo mais qualidade aos cachos.

A família produz suco de uva e compotas de frutas vendidas em feiras, além de nozes (são 100 nogueiras em produção). A filha Luiza Dall Oglio, de 17 anos, foi emancipada para se associar à cooperativa e manter a tradição da viticultura que tem origem em Vêneto, na Itália, de onde vieram os bisavós. Para suprir a falta de mão de obra na colheita, os irmãos Miguel e Tiago Battistin desenvolveram a primeira ‘colheitadeira’ de uvas do Brasil. A máquina ‘debulha’ os cachos de uva sem arrancar as hastes, o que confere maior rendimento e qualidade aos frutos colhidos, dando direito a um bônus de R$ 0,10 a R$ 0,15 por quilo vendido da fruta. Para chegar ao modelo atual, foram vários protótipos. São oito em operação. Em 2015, os Battistin tentaram patentear o invento e não conseguiram, pois foi dito que eles copiaram de uma máquina italiana. A família é produtora de uvas na Linha Buratti, outra região de Bento Gonçalves (RS). Sem conseguir a patente, os Battistin seguem produzindo apenas sob encomenda.

As máquinas custam R$ 340 mil cada e foram vendidas para sete produtores da região. Outro equipamento foi enviado a Petrolina (PE). A colheitadeira funciona em parreirais de latada, que são a maioria na Serra Gaúcha. O modelo tem rolos com hastes flexíveis que retiram os bagos sem danificá-los. Com quatro rodas, a máquina se dobra em 90° para fazer as curvas no fim dos parreirais. Também oscila 45° para os lados para acompanhar a inclinação do terreno e uma turbina produz vento que separa as folhas e gravetos da uva colhida. O seu uso otimiza o tempo de colheita: pode colher até 4 toneladas de uvas por hora, o que uma pessoa levaria 4 dias para fazer. O motor é de 3 cilindros, movido a óleo diesel. Os irmãos também inventaram um aspersor que pulveriza apenas as copas da planta economizando insumos e uma máquina para estender os grossos arames que sustentam o parreiral feita com uma bicicleta sem pneus.

Mas, a vida dos Battistin não é só de inventos: eles têm parte dos parreirais irrigados e usam forrageiras para proteger o solo. A família está ampliando o vinhedo de 5 para 8 hectares: os novos parreirais foram dimensionados para facilitar a colheita mecanizada. Eles também cultivam 3 hectares de laranja. Por duas vezes em pouco mais de um ano, chuvas causaram deslizamentos e destruíram os vinhedos de Ivone Riboldi Bellé, em Bento Gonçalves. Uma das poucas mulheres à frente de vinhedos próprios, a viticultora de 64 anos não se abateu. Quando viu toneladas de terra arrastando suas videiras pela segunda vez, em junho deste ano, ela chorou. Mas não desistiu. “Nada me tira da minha terrinha. Vou fazer de novo”, prometeu. A primeira grande perda aconteceu em maio de 2024, quando todo o Rio Grande do Sul foi atingido por um desastre climático, com enchentes, deslizamentos, destruição e mortes. Ivone passou cinco dias ilhada na casa dos pais com a família, até decidir caminhar 6 quilômetros pelo mato para ver como estaria o seu vinhedo.

“Foi um choque ver que não havia mais nada. Meu parreiral inteiro tinha ido para dentro do rio”, conta. Ivone, que em 2017 havia perdido o marido, levado por um câncer, perdeu também a sogra, uma das vítimas das enchentes. Com apoio da Vinícola Aurora, da qual é cooperada, ela iniciou um novo vinhedo. O engenheiro agrônomo Jonas Panisson deu assistência para a correção do solo e orientou a plantação de forrageiras, como aveia, azevém e nabo forrageiro para manter o terreno protegido. Tudo ia bem até que, em junho deste ano, um novo deslizamento cobriu parte do que havia sido recuperado. Para reiniciar o plantio, será preciso remover terra e pedras desse último deslizamento. Segundo o agrônomo, as pedras maiores serão enterradas no próprio terreno. Ivone entregava de 70 a 80 mil quilos de uvas por ano para a cooperativa, agora, ela terá de esperar de 3 a 4 anos para ter a primeira colheita. O plano, então, é passar para 10 toneladas anuais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.