23/Oct/2025
O mercado global de cacau apresenta sinais robustos de recuperação após anos consecutivos de déficit produtivo. Projeções da StoneX apontam para um superávit de 287 mil toneladas na temporada 2025/2026, impulsionado pela retomada da produção em países fora da África Ocidental e pela redução na demanda industrial. A reversão do cenário deficitário, entretanto, não elimina as incertezas. O comportamento climático nas principais regiões produtoras permanece como fator determinante para a estabilidade dos preços e o desempenho das próximas safras. A Costa do Marfim, responsável por cerca de 40% da oferta mundial, encerrou a safra 2024/2025 com queda de 3,6% nas entregas, totalizando 1,69 milhão de toneladas. A redução foi provocada por períodos de seca que comprometeram a qualidade das amêndoas e aumentaram a mortalidade dos brotos.
Embora o primeiro semestre de 2025 tenha registrado precipitações 30% superiores ao ano anterior, o trimestre seguinte apresentou retração de 40% em relação à média histórica. Para a temporada 2025/2026, a StoneX projeta produção de 1,76 milhão de toneladas, mas a irregularidade climática continua representando risco elevado. Em Gana, segundo maior produtor africano, o cenário apresenta desafios semelhantes. O país antecipou o início da safra para agosto, estimulado por um reajuste de 4,2% no preço ao produtor. No entanto, após um começo promissor com chuvas 18% acima da média, o período de julho a setembro registrou queda de 40% nos volumes pluviométricos. Além das adversidades climáticas, Gana enfrenta a disseminação do vírus CSSVD (Cocoa Swollen Shoot Virus Disease), que afeta aproximadamente 30% das áreas cultivadas, e os impactos da mineração ilegal de ouro, responsável por perdas estimadas em 10 mil toneladas anuais.
Enquanto a África Ocidental lida com instabilidade, outros países emergem como protagonistas da recuperação global. O Equador deve encerrar 2024/2025 com produção de 580 mil toneladas, alta de 38% em relação à temporada anterior, podendo alcançar 610 mil toneladas já em 2026/2027. O Equador tem se beneficiado de dois anos consecutivos de regime de chuvas favorável e da adoção de variedades híbridas mais resistentes a doenças. A principal preocupação agora é o potencial impacto do fenômeno La Niña, que tende a reduzir as precipitações. No Brasil, as condições climáticas também têm colaborado para a expansão produtiva. Dados da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) indicam que chuvas regulares em 2024 e 2025 favoreceram a recuperação das lavouras na Bahia e o crescimento no Pará, onde a área plantada expande 4,4% ao ano.
A produção nacional deve atingir 215 mil toneladas em 2025/2026, crescimento significativo frente às 180,8 mil toneladas da temporada anterior. O uso de variedades híbridas mais adaptadas e as condições climáticas favoráveis, especialmente na Região Norte, têm impulsionado a produtividade. Outros países contribuem para o reequilíbrio global. Camarões deve colher 310 mil toneladas, embora enfrente risco de aumento da podridão-preta. A Nigéria, apesar da seca persistente e níveis mínimos de umidade do solo em cinco anos, projeta produção próxima a 360 mil toneladas. A Indonésia mantém dois anos consecutivos de clima favorável, com expectativa de 210 mil toneladas. O lado da demanda apresenta retração expressiva. As moagens registraram queda de 8,9% no segundo trimestre e 12,9% no terceiro trimestre de 2025.
Reflexo de margens industriais comprimidas e substituição de ingredientes nas formulações. O processo de destruição da demanda, antecipado desde 2023, consolidou-se este ano. Os preços elevados do cacau forçaram a indústria a reformular produtos e reduzir volumes de produção. A combinação entre oferta crescente e consumo retraído deve elevar os estoques globais para 1,66 milhão de toneladas até 2026/2027, com a relação estoque/demanda atingindo 35,4%, próxima à média histórica dos últimos dez anos. Apesar da tendência de normalização, o mercado permanece vulnerável a episódios de volatilidade. O comportamento climático continua sendo o principal ponto de inflexão. Caso a seca persista na África Ocidental entre outubro e novembro, os preços podem registrar nova alta no curto prazo. Estruturalmente, porém, o mercado caminha para um novo equilíbrio, com fundamentos mais sólidos e recomposição gradual dos estoques. Fonte: Agro em Campo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.