04/Aug/2025
Responsáveis por mais de 90% das exportações brasileiras de manga e uva, as empresas do Vale do São Francisco, concentradas em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), se mobilizam em busca de novos mercados após a exclusão das frutas da lista de exceções do tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump. Empresários esperam perdas milionárias e avaliam que os embarques deste ano não devem sequer cobrir os custos de produção. No mercado de uva da região, a previsão é de uma queda de 30% no faturamento, calcula a Cooperativa de Produtores Exportadores do Vale do São Francisco (Coopexvale), que reúne 37 produtores locais. O tombo representaria uma reviravolta em relação ao crescimento anual de 10% registrado no ano passado. Não será um desastre, mas será preciso reinventar. A Coopexvale prevê uma desvalorização no preço da fruta.
Se antes a uva era vendida a R$ 10,00 por exemplo, agora será por menos de R$ 7,00. Para contornar o prejuízo, as empresas já tentam redirecionar a produção ao mercado interno e à Europa. Movimento semelhante se repete no mercado da manga, que estimava exportar 48 mil toneladas para os Estados Unidos neste ano. Se a tarifa for mantida, esse volume pode cair até 70%, afirma a Valexport. O excedente, aproximadamente 35 mil toneladas, teria de ser absorvido pelo mercado interno. O volume extra pode derrubar os preços, comprometer a rentabilidade dos produtores e colocar em risco toda a cadeia produtiva. Será um colapso na região. O pequeno produtor, que não tem estrutura de comercialização, vai ser o mais afetado. Muitos não vão conseguir colher e a fruta vai apodrecer, pode ter proliferação de pragas, inviabilizar a comercialização dessas frutas e ainda o endividamento de produtores.
Mesmo o esforço de produtores locais para distribuir o excedente para outros destinos esbarra em riscos. Há preocupação com uma possível superoferta na Europa, onde os consumidores preferem variedades de mangas diferentes da que tem maior demanda nos Estados Unidos, a Tommy. O decreto do tarifaço pegou o setor de surpresa, após o secretário do Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, ter dito na quarta-feira (30/07), que os produtos não cultivados em larga escala no país poderiam ser isentos. O comentário renovou esperanças de que a manga poderia estar na lista de prioridades das negociações, mas o produto ficou de fora da lista de exceções. Segundo a GrandValle, produtora de manga e uva do Vale do São Francisco, isso levantou alguma esperança, mas depois veio o decreto e foi um balde d’água fria. Até o momento, o setor busca articulação junto aos importadores norte-americanos e escritórios de advocacia para tentar uma interlocução mais efetiva com o governo dos Estados Unidos.
Os clientes norte-americanos estão tentando reverter isso de alguma forma, mas não tem nada concreto. A estratégia imediata da empresa será reduzir o volume exportado para os Estados Unidos e tentar redirecionar a produção para outros mercados, já que a safra americana da GrandValle começa em duas semanas. Não dá para manter economicamente esse mercado com tarifa de 50%. Com essa tarifa, não dá nem para cobrir os custos de produção. É inviável. A empresa estima prejuízo superior a US$ 3 milhões. Isso sem contar uma possível inundação do mercado europeu ou problemas no mercado interno. No longo prazo, a GrandValle não descarta a possibilidade de avaliar oportunidades na Ásia, mas as perspectivas imediatas ainda são incertas e devem levar a medidas de contingenciamento.
A empresa estuda um corte de até um terço dos postos de trabalho só no setor de embalagem e deve congelar novas contratações. Atualmente, 500 pessoas atuam no segmento, de um total de 1,5 mil funcionários na companhia como um todo. Enquanto aguardam uma possível reviravolta nas negociações, os exportadores do Vale do São Francisco iniciam a safra com envios modestos: entre 6 e 15 contêineres, ainda viáveis por conta do baixo volume. A expectativa para os próximos dias é de novas negociações entre os governos e de que a manga possa ser incluída na lista de produtos isentos. O setor tem esperança de que os países sentem para conversar e cheguem a um acordo. Não faz sentido aplicar uma tarifa sobre a manga, que não representa ameaça ao mercado interno dos Estados Unidos. Sem um acordo, o temor é de que o pico da safra torne inviável dar continuidade das exportações aos Estados Unidos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.