04/Aug/2025
O governo brasileiro avalia que, além do café, ainda há chance de o cacau e da manga entrarem na lista de exceções do tarifaço dos Estados Unidos. Ambos os produtos tendem a ser excluídos das sobretaxas de forma geral e não como exclusão específica ao mercado brasileiro. Os itens ficaram de fora da lista de exceção para produtos brasileiros publicada na quarta-feira (30/07) da taxa de 40% anunciada inicialmente pelo presidente Donald Trump e poderiam ser sobretaxados em 50%, somando-se os 10% anunciados no Liberation Day, em 2 de abril, a partir desta semana. Para a carne bovina brasileira, o cenário é mais pessimista. A proteína corre o risco de ser mantida na taxação de 50%. O otimismo quanto à inclusão do cacau e das frutas tropicais foi reforçado pelas declarações do secretário do Comércio americano, Howard Lutnick, que reconheceu na terça-feira (29/07) que o país pode reconsiderar e isentar bens que não são cultivados no país. Ele chegou a citar nominalmente café, cacau, abacaxi e manga.
Assim como no caso do café, a medida não seria direcionada ao Brasil, mas estaria dentro de uma cesta de itens de difícil produção nos Estados Unidos e que valeria para outros mercados exportadores. A decisão deve vir por meio de uma publicação voltada a recursos não disponíveis no país. A expectativa é de que esse anúncio da isenção seja publicado em breve. Quanto à carne bovina, tanto interlocutores que acompanham as tratativas em Washington quanto empresários do setor acreditam que o cenário é mais difícil e, portanto, as chances de a proteína ser retirada do tarifaço são menores. Diferentemente dos produtos tropicais, a carne é produzida também pelos Estados Unidos e o país é um grande player no mercado mundial, apesar de viver momento de redução no rebanho. Para a proteína, a possibilidade seria a redução tarifária a ser negociada especificamente para o Brasil e não direcionada a países parceiros dos Estados Unidos, de forma geral.
Outra possibilidade seria a ampliação da cota isenta de alíquota de 65 mil toneladas por ano. Fora esse volume, se a tarifa adicional de 40% for mantida, a carne bovina brasileira chegará aos Estados Unidos com alíquota de 76,4%, somando-se os atuais 10% em vigor desde 5 de abril, a taxa original de 26,5% e os novos 40% previstos para entrar em vigor este mês. Nesse cenário, a exportação para os norte-americanos ficaria inviabilizada. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) calcula perda de US$ 1 bilhão com o produto que deixará de ser exportado para os Estados Unidos neste ano, considerando apenas o último semestre do ano. Além de pedir ao governo para incluir a exceção à carne bovina nas negociações, exportadores seguem em contato com importadores na tentativa de sensibilizar o governo norte-americano para a exclusão dos alimentos do tarifaço.
Os argumentos apresentados às contrapartes vão no sentido da sensibilização sobre a complementaridade dos produtos, já que o Brasil exporta sobretudo recortes do dianteiro para produção de hambúrgueres e outros itens no mercado norte-americano, do potencial impacto inflacionário aos Estados Unidos e ao fato de o ciclo pecuário do país ser o menor em 80 anos. As conversas têm sido diárias. Por lá, as articulações passam pelo Meat Import Council of America (MICA), que representa empresas que importam, processam e vendem carnes importadas nos Estados Unidos. O conselho vai pedir formalmente ao governo norte-americano que inclua a proteína brasileira na lista de exceções ao tarifaço. As empresas norte-americanas mantêm diálogo tanto com o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos quanto com o Congresso norte-americano.
Há, contudo, uma percepção de que a decisão parte diretamente da Casa Branca, o que reduz os pontos de influência. Interlocutores afirmam que há preocupação dos importadores com a eventual redução das operações e de margens. A busca é por acesso à própria Casa Branca, mas ainda não há sinal de que a tarifa poderá ser arrefecida. Empresas norte-americanas também reforçaram atuações na mídia local para explicar a relevância das importações de carne para o atual ciclo pecuário dos Estados Unidos e da complementaridade da pauta exportadora. O mesmo raciocínio de dificuldade de inserção para a carne bovina vale para o açúcar, por causa da disputa antiga entre os dois países em relação a taxações e cotas envolvendo o produto e o etanol. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.