24/Jul/2025
Diante do anúncio do governo dos Estados Unidos de impor tarifa de 50% aos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, exportadores de manga e uva do Vale do São Francisco temem prejuízos milionários e rompimento de contratos com clientes dos Estados Unidos. A região, com produção concentrada em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), é responsável por mais de 90% da exportação brasileira dessas frutas. A GrandValle, produtora e exportadora de manga e uva do Vale do São Francisco, estima prejuízo entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões apenas com cargas de manga caso não surjam acordos até a data. O atual cenário é “especulativo”. Embora o envio de manga exportada pela empresa para os Estados Unidos esteja previsto para começar em cerca de quatro semanas, há preocupação diante da falta de destinos viáveis para escoar a produção caso o tarifaço se concretize.
Não há outros mercados como alternativa para um volume tão concentrado em um período curto de tempo. A Europa e outros mercados (Japão, por exemplo) podem até receber parte da carga excedente, mas não seriam capazes de absorver integralmente o produto. Isso nem é interessante para os exportadores e pode ser um “tiro no pé”. A empresa descarta a possibilidade de redirecionar todos os embarques para outros destinos caso os Estados Unidos deixem de ser uma opção. Para a Cooperativa de Produtores Exportadores do Vale do São Francisco (Coopexvale), que reúne 37 empresas da região, a estratégia atual envolve redirecionar parte dos embarques previstos para os Estados Unidos a outros lugares, como Europa, Argentina e até o mercado interno brasileiro.
Se a taxa se mantiver, vai ter de desviar para outra parte, não tem jeito. A fruta não pode ser descartada. É melhor vender barato do que não vender. As empresas associadas à cooperativa planejam realocar cerca de metade das cargas para esses novos destinos. Porém, não há nada oficializado. Está tudo muito informal e nebuloso, mas parece ser mais fácil cancelar do que confirmar. Enquanto isso, os exportadores tentam negociar com os clientes norte-americanos. Atualmente, a GrandValle mantém relações comerciais com sete clientes nos Estados Unidos. No ano passado, a empresa exportou cerca de 180 contêineres de manga para o país, volume que representa aproximadamente 20% das exportações anuais da companhia.
No entanto, a Europa segue como principal destino da empresa, com cerca de 65% da produção. As negociações com os clientes norte-americanos estão em andamento. A tentativa é de reajustar os valores para compensar a tarifa, mas não há garantias. A empresa está em conversas com os clientes. Provavelmente não aceitem aumentar o preço o suficiente para cobrir as novas tarifas. Apesar de não ter uma estimativa definitiva sobre os impactos do tarifaço, o prejuízo pode chegar a US$3 milhões de dólares, apenas no setor da manga, caso a tarifa seja mantida e não haja acordos com os clientes norte-americanos. Os parceiros comerciais já foram avisados da possibilidade de quebra de volume. Até o momento, nenhum contrato foi rompido. Está tudo em negociação. Pode haver redução no envio por conta da possível inviabilidade econômica.
Somados aos impactos logísticos e comerciais, a taxação sobre produtos agrícolas também ameaça a empregabilidade na região do Vale do São Francisco. O setor de embalagem da GrandValle, por exemplo, emprega diretamente cerca de 400 pessoas, um terço do quadro total da empresa (entre 1,2 mil e 1,5 mil trabalhadores). Caso não seja viável manter as exportações para os Estados Unidos, boa parte desses empregos estará em risco. Além da manga, a empresa exporta uva, do total de uvas exportadas pela empresa, metade tem como destino os Estados Unidos. Uma possível estratégia seria redirecionar parte da produção ao mercado interno que apresenta um perfil “mais sólido”. A preocupação com os efeitos da tarifa se espalha em efeito cascata pelo setor da exportação no Vale.
A Lina Frutas exporta uvas para os Estados Unidos e mangas para a Europa. Neste ano, planeja enviar cerca de 20 contêineres de uva para os Estados Unidos. Caso a tarifa seja implementada, pode haver uma sobreoferta global. A empresa pode enfrentar uma concorrência maior com preços deprimidos. Não é impossível que a margem seja zero ou negativa, mas ainda está sendo estimado o tamanho do prejuízo. Talvez seja possível redirecionar as cargas de uva, ainda que com alguma perda financeira. O impacto na uva não será tão dramático como na manga, mas o preço certamente vai cair. O cenário de incerteza se reflete entre outros exportadores da região.
Uma empresa do Vale do São Francisco, que preferiu não se identificar, informou que a carga de uvas sem sementes prevista para embarque aos Estados Unidos em setembro está suspensa até o momento. Outros empresários afirmaram que, por ora, não há cargas retidas nos portos de contêineres do Vale do São Francisco. Um exportador comentou que as frutas nem saíram do pé. Algumas empresas devem iniciar a colheita na próxima semana, quando se abre a janela de exportação para os Estados Unidos. Ainda assim, há incerteza sobre os próximos passos. Esse mesmo exportador disse não saber como proceder e que aguardava o governo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.