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17/Jun/2025

Cacau: Brasil poderá se tornar país autossuficiente

O avanço da cultura do cacau no Brasil mostra que as plantações da commodity não estão mais restritas à região do semiárido de Minas Gerais. O cultivo já chegou ao Oeste da Bahia, ao Ceará, com cerca de 600 hectares, e também a cultivos menores em Alagoas, Sergipe, Tocantins e cidades do interior da Bahia, como Eunápolis e Teixeira de Freitas, conforme aponta o agrônomo George Sodré, doutor em produção vegetal, pesquisador e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus, na Bahia. Segundo Sodré, todas as novas áreas de cultivo somam hoje pouco mais de 5 mil hectares, o que representa menos de 1% da área total com cacau no país, atualmente em 620 mil hectares, segundo o IBGE.

Atualmente, 98% das áreas de cultivo de cacau estão concentradas na Bahia, com 440 mil hectares, no Pará, com 152 mil hectares, e no Espírito Santo, com 17,4 mil hectares. Apesar de as novas fronteiras agrícolas representarem uma parcela ainda pequena da produção total, Sodré acredita que, com o avanço do cultivo em regiões como o norte de Minas Gerais, interior de São Paulo, oeste da Bahia e os tabuleiros costeiros do Ceará, Alagoas, Sergipe e Bahia, há uma janela de oportunidade para o país. Segundo o especialista, essas novas fronteiras poderão acrescentar 57 mil hectares à área plantada até 2035. Com produtividade média de uma tonelada por hectare, seria possível atender à demanda interna e alcançar a autossuficiência na produção de cacau. Hoje, o Brasil produz entre 200 mil e 220 mil toneladas por ano, volume insuficiente diante de uma demanda que varia entre 240 mil e 250 mil toneladas, segundo Matheus Leite, supervisor agrícola da Nestlé.

Em 2000, o país produziu apenas 123 mil toneladas, devido à doença da vassoura-de-bruxa. Nos anos recentes, no entanto, a cultura do cacau vem passando por um processo de retomada, embora o Brasil ainda ocupe a sexta posição no ranking mundial de produção, liderado por Costa do Marfim e Gana. As safras desses dois países africanos estão em declínio, afetadas por doenças, envelhecimento das plantas e êxodo rural. Nesse contexto, surge uma oportunidade para o Brasil e outros países se destacarem no mercado global de cacau.

O plano estratégico Inova Cacau 2030, desenvolvido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária em parceria com a Ceplac e a CocoaAction Brasil, prevê que o Brasil poderá dobrar sua produção nacional até 2030, alcançando 430 mil toneladas, de acordo com Igor Mota, gerente de Agricultura para Cacau da Nestlé Brasil. O país, que já foi mais relevante na produção mundial, chegou a produzir 426 mil toneladas em 1987.

Entre as grandes surpresas no cenário atual da cacauicultura, Matheus Leite destaca o Peru, cuja produção saltou de 120 mil para 160 mil toneladas, com potencial para superar o Brasil se mantiver esse ritmo. Sodré também chama atenção para o caso do Equador, que elevou sua produção de 80 mil para 430 mil toneladas. O diferencial foi o uso da muda clonada CCN51, originária do próprio país, de alta produtividade, associada ao plantio irrigado em áreas de semiárido com bananeiras. Essa tecnologia está sendo empregada nos novos cultivos do norte de Minas Gerais.

Até o final de 2025, a Nestlé pretende que 100% do cacau adquirido pela empresa no país seja produzido de forma sustentável. Apesar de reconhecer os desafios, a companhia reafirma a meta. A Nestlé, maior compradora nacional de cacau, com cerca de 40% da produção, tem investido fortemente na capacitação dos produtores por meio do programa Nestlé Cocoa Plan, iniciado em 2010. O objetivo é orientar os produtores a adotarem práticas que aumentem a rentabilidade e produtividade das lavouras, com atenção também aos aspectos sociais e ambientais, assegurando o fornecimento de matéria-prima sustentável.

Segundo Igor Mota, a sustentabilidade da produção de cacau envolve três pilares interligados: boas práticas agrícolas, sustentabilidade econômica da atividade e dos agricultores, e qualidade do produto. Se o cacau é de fazenda sustentável e rastreado pela moageira, o produtor recebe o preço de mercado com um prêmio adicional no momento da venda. Atualmente, 6.522 propriedades fazem parte do programa em seis estados: Bahia, Pará, Rondônia, Espírito Santo, São Paulo e Tocantins. O foco atual é incluir propriedades do norte de Minas Gerais como fornecedoras.

Os produtores participantes do programa não têm contrato de exclusividade com a Nestlé. A empresa aposta em parcerias que criam vínculos espontâneos. Caso haja contrato, segundo Mota, existe o risco de cair em uma zona de conforto. A empresa oferece assistência técnica gratuita, análise de solo, guias de manejo e criou até um grupo de WhatsApp com um assistente virtual, Theo, que responde dúvidas dos produtores.

Esse conjunto de ações já mostra resultados positivos. Em 2021, a produtividade média dos participantes do programa era de 370 quilos por hectare ao ano, e em 2024 subiu para 590 quilos por hectare ao ano, um aumento de 60%, superando a média nacional de 483 quilos por hectare.

Uma das estratégias do programa é investir na capacitação de jovens para garantir a sucessão familiar na cacauicultura, além de formar profissionais em início de carreira. Criado há seis anos, o projeto Cacauicultores do Futuro promove grandes seminários, oferecendo aos jovens conhecimentos técnicos, informações sobre o mercado e comercialização, com participação de especialistas e produtores experientes. Mais de 190 jovens já participaram dos encontros. Segundo Mota, esses jovens acabam se tornando multiplicadores da cacauicultura de alto nível.

Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.