17/Jun/2025

1. Contexto e gravidade da crise

Estamos diante da pior crise global da produção de laranja em quatro décadas, impulsionada por eventos climáticos extremos e pela disseminação do greening – doença que torna a fruta amarga e reduz a produtividade. O Brasil, líder com 60% da produção mundial de suco e 75% das exportações, estima uma colheita de 8,8 milhões de toneladas para 2024/25 – queda de cerca de 30% frente aos 12,5 milhões da safra anterior. Trata-se da pior colheita em 30 anos.

2. Causas principais

Clima adverso: secas prolongadas e ondas de calor intensas em regiões como São Paulo comprometem floração e crescimento.

Doença greening: avançou intensamente, debilitando pomares e afetando a qualidade da fruta.

Situação semelhante ocorre nos Estados Unidos: a Flórida colhe sua pior safra desde 1930.

3. Estratégias da indústria

A escassez de laranja leva ao uso crescente de flavor packs (compostos aromáticos) para recuperar sabor e consistência – prática já utilizada desde a Segunda Guerra Mundial. Empresas como Kerry Group, IFF e a holandesa PeelPioneers investem em aditivos naturais, inclusive substituindo derivados diretos de cítricos por compostos sintéticos ou obtidos de cascas reaproveitadas.

4. Impacto no preço e comércio

No mercado internacional, a tonelada de laranja subiu de US$ 1.119 (2019) para US$ 5.364 (2024), alta de 380%. No Brasil, o preço da caixa saltou de R$ 58,70 em janeiro de 2024 para R$ 136,51 em novembro do mesmo ano. Como resultado, as exportações caíram cerca de 9,3% (961 mil toneladas), e as compras da União Europeia recuaram em torno de 12%.

5. Ações de mercado e resposta ao consumidor

Marcas adaptam embalagens (por exemplo, garrafas de 1 litro passam a 700 ml), diluem produtos (suco vira néctar), ou misturam frutas como manga para manter os preços acessíveis. Apesar desses esforços, o consumo global de suco continua em queda: entre 15% e 20% na Europa em 2024, e mais da metade nos Estados Unidos desde os anos 1990.

6. Riscos estruturais

A principal preocupação do setor é que a atual perda de consumidores se torne permanente: mesmo com uma eventual recuperação da safra, a base de clientes pode não ser restaurada. Segundo Kees Cools, presidente da International Fruit and Vegetable Juice Association (IFU), “o suco de laranja faz parte do estilo de vida saudável, mas precisa ser acessível – e, no momento, não é”.

Conclusões e recomendações

A crise é sistêmica, combinando fatores climáticos, sanitários e logísticos, impactando severamente a oferta global. A dependência crescente de flavor packs deve ser monitorada: embora mitiguem o problema de sabor e estoque, podem alterar a percepção de naturalidade do produto.

A alta de preços, retração de demanda e mudanças de hábito exigem ações coordenadas entre indústria, governo e setor de pesquisa:

Investimento em controle climático e fitossanitário, especialmente no combate ao greening.

Políticas públicas de estímulo à renovação dos pomares, irrigação eficiente e diversificação produtiva.

Campanhas de marketing voltadas à reconquista de consumidores, destacando qualidade, naturalidade e sustentabilidade do suco de laranja.

Monitorar tendências de consumo e produtos concorrentes – bebidas alternativas podem consolidar-se como substitutos diretos, exigindo reposicionamento estratégico do setor.

Resumo executivo

Produção brasileira em queda drástica (cerca de 30% em relação à safra anterior), a pior em três décadas.

Preço da laranja disparou: +380% em dólar e +133% no mercado interno.

Exportações recuaram; a indústria utiliza compostos aromáticos para compensar perdas de sabor e volume.

Consumo global em retração acentuada; há risco de perda estrutural da base de consumidores.

Recomendações: reforçar o controle do greening, investir em inovação na cadeia produtiva e em marketing, e evitar dependência excessiva de aditivos industriais.

O cenário atual exige respostas estratégicas urgentes para garantir a viabilidade econômica e a reputação global do suco de laranja.

Fonte dos dados: Exame. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.