21/Mar/2025
O avanço do huanglongbing (HLB ou greening), pior doença dos cultivos de citros do mundo, está deslocando a cultura no País. O tradicional Cinturão Citrícola, formado por São Paulo (à exceção do litoral), Triângulo Mineiro (MG) e sudoeste de Minas Gerais, incorpora novos Estados: Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e Distrito Federal, formando o Cinturão Citrícola Expandido (CCE). Cientistas da Embrapa e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) avançam em estudos de zoneamento de riscos climáticos e fitossanitários para auxiliar citricultores brasileiros na migração para uma nova região produtora no Brasil. A Embrapa está imbuída em colaborar de todas as formas para mitigar e controlar o HLB, mas a avaliação de que a citricultura pode mudar e se expandir para novas áreas é uma realidade. A Embrapa vai seguir nessa linha, não só trabalhando com a questão no Cinturão Citrícola Expandido, mas procurando avaliar todo o País. É um compromisso com a cadeia produtiva.
Pesquisas realizadas pela Embrapa e pelo Fundecitrus, como o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), que indica os riscos climáticos envolvidos na produção agrícola em diferentes regiões brasileiras, os alertas fitossanitários e a indicação de diversas medidas de manejo, têm como missão apoiar o produtor na difícil tomada de decisão pela mudança de endereço dos plantios com vistas à preservação dos pomares e sua consequente sustentabilidade comercial e financeira. O Zarc considera riscos de até 20, 30 e 40% para a perda da produção associados a todas as fases de desenvolvimento dos frutos, desde a floração, passando pela frutificação, até a colheita. Com os resultados de risco climático em nível municipal para o Brasil inteiro, gerados pelo Zarc, foi possível separar essas regiões que são limítrofes do Cinturão Citrícola existente e fazer um diagnóstico das possibilidades de risco climático e do planejamento da citricultura nas regiões de expansão.
A publicação “Expansão do cinturão citrícola – Quais as aptidões e os riscos climáticos?” é norteadora para os citricultores. A partir do momento em que a citricultura se expande, pode envolver locais com riscos climáticos ainda mais elevados. Isso já está acontecendo em algumas regiões, como Triângulo Mineiro (MG) e Alto Parnaíba (SP), que apresentam maior risco climático, principalmente no que se refere ao déficit hídrico, e temperaturas elevadas no período de floração. Uma das tecnologias em desenvolvimento é o zoneamento específico do psilídeo-vetor da bactéria associada ao HLB e da podridão floral dos citros (PFC) que, em complemento ao Zarc elaborado em 2021, pretende obter mapas com indicação de favorabilidade à ocorrência no CCE, além de servir como base para futuros zoneamentos para outras pragas e doenças dentro do CCE.
O projeto “Zoneamento de favorabilidade à ocorrência de psilídeo e de podridão floral dos citros no cinturão citrícola brasileiro expandido em cenários de mudanças climáticas” é liderado pela Embrapa, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) até 2026. Para além do clima, observou-se a importância de zonear o risco fitossanitário, no caso, de ocorrência de Diaphorina citri, que é o vetor da bactéria associada ao HLB, e da podridão floral, pela elevada dependência do clima para ocorrência com danos elevados. A podridão floral é uma doença importante, que afeta as flores e, consequentemente, a produção de frutos. Essas informações são importantes para que os citricultores tenham maior segurança na tomada de decisão sobre a produção em novas áreas em cenários atuais e futuros de mudanças climáticas.
Tal qual o Zarc tradicional, o projeto vai usar modelos matemáticos e computacionais para estimar esses riscos e a expectativa é que os mapas que indicarão a ocorrência de psilídeos estejam disponibilizados ainda em 2025. O produtor precisa ter acesso a informações simples, de forma dinâmica, e trabalhar com tecnologias digitais. É necessário realizar o monitoramento do pomar para estar atento às mudanças que possam favorecer o desenvolvimento do fungo ou a maior incidência do inseto e atuar com prevenção, fazendo o controle integrado (químico, físico, biológico e/ou cultural) mais ajustado à realidade local e aos riscos climáticos associados. O projeto vai considerar elementos climáticos e características da PFC e do HLB. Serão estudadas variáveis climáticas, desenvolvimento da podridão floral e do HLB e questões da planta, como florada e brotações, e, então, gerar modelos que possam produzir essas informações de riscos para ocorrência da podridão floral e psilídeo no Cinturão Citrícola. O controle tem que ser contínuo.
Existem condições ideais para o desenvolvimento tanto do microrganismo quanto do vetor, ou seja, há períodos naturalmente limitantes para esses organismos, como os de baixas temperaturas. No atual Cinturão Citrícola, as baixas temperaturas restringem o crescimento das plantas e o desenvolvimento do fungo, especialmente quando associadas ao período mais seco do ano. Isso resulta na falta de crescimento vegetativo e na ausência de floração natural. Segundo o Fundecitrus, a migração dos pomares começou em 2023 e continua em ascensão. Em 2024, os produtores começaram, com maior intensidade, a buscar novas regiões em áreas livres ou com baixa incidência do greening. Em curto prazo, a previsão é o aumento da doença no estado de São Paulo. Felizmente, em 2024, o aumento foi de 38% para 44%, bem menor do que no ano anterior, que tinha sido de 24% para 38%, e a redução em si já tranquilizou o setor.
A verdade é que o produtor tinha negligenciado um pouco a rotação de inseticidas, o que levou a populações de insetos resistentes aos principais inseticidas usados, que eram os mais baratos. Para fugirem da temperatura alta de Mato Grosso do Sul, por exemplo, os citricultores vão ter que antecipar a florada com irrigação e mantê-la. A relevância do zoneamento é atestada pela FortCitrus Consultoria. O trabalho da Embrapa tem sido bastante importante na seleção das áreas de expansão, com clima menos adverso e com condições mais adequadas para o desenvolvimento da planta de citros. É uma informação estratégica bastante importante para mitigarmos o risco do investimento. Os produtores enfrentam três desafios. O primeiro é o clima. As condições são bastante diversas, caracterizadas por temperaturas muito altas, em que a planta de citros acaba não sendo adequada fisiologicamente, o que causa problemas.
O segundo desafio é a localização geográfica. São mais dificuldades logísticas, uma vez que não só o mercado consumidor da fruta fresca está em São Paulo, mas também praticamente todas as processadoras de suco, o que aumenta o custo do transporte. E o terceiro é a falta de mão de obra para trabalhar nas fazendas, inclusive na colheita, porque são áreas que não têm a laranja como cultura tradicional. Visando a suprir a redução de área plantada no Cinturão Citrícola devido ao HLB e à consequente produção de frutos, uma das empresas que migraram para outras áreas foi a Cambuhy Agrícola Ltda., cuja sede principal fica em Matão (SP), onde adota, há vários anos, três medidas de controle do HLB: os manejos interno, externo e regional. A decisão foi tomada no último ano devido ao aumento expressivo da doença e vai gerar 1.200 empregos diretos. A principal variedade plantada nos novos pomares de Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul, é a laranja pera, mas pequenas áreas de laranjas precoces e tardias também vão ser plantadas na densidade de 444 plantas por hectare.
Outra empresa a apostar no Estado é a Agroterenas.Com a explosão do greening em 2022, a empresa começou os plantios em 2024 e deve terminar 1.500 hectares até 2026. Foi preciso migrar por uma questão de segurança, mas é importante lembrar que a laranjeira é uma planta de clima temperado, assim como a soja, a maçã, a pera e a uva, que acabaram indo para outras regiões. Então, é um processo natural. Questões relacionadas à mão de obra e à infraestrutura, vão melhorando aos poucos, expandindo o desenvolvimento da economia para todo o País. O governo estadual tem dado muito apoio e se comprometido com o investidor. Fundecitrus e Embrapa orientaram sobre distância de pomares comerciais, isolamento, irrigação, mudas e variedades de porta-enxerto. O projeto é baseado no porta-enxerto Swingle, que a citricultura conhece e domina, mas tem aproximadamente 30% de porta-enxertos semiananicantes e ananicantes, como orientado pela Embrapa. Fonte: Embrapa Mandioca e Fruticultura. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.