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13/Mar/2025

Cacau: oferta global crescerá e preços devem recuar

A evolução produtiva da produção de cacau na África exercerá uma influência determinante sobre os preços do mercado global. Até 2020, a produção de Gana e Costa do Marfim juntos era de 3 milhões de toneladas. Em 2023, a produção começa sua queda para a região africana por uma combinação de fatores que envolvem clima adverso e doenças. O interessante é que o preço demorou a reagir. Em 2023, o preço do cacau se manteve dentro de seu canal habitual. No entanto, durante o segundo trimestre, já havia quebrado sua resistência (teto) de US$ 3.000 por tonelada, um comportamento extremamente incomum considerando o histórico de preços. Em janeiro de 2024, finalmente o preço explode junto com a notícia que se torna evidente: “não há cacau”.

A queda do volume é de 50% para Gana e de 20% para Costa do Marfim. É forte para Gana, mas moderada para Costa do Marfim, mas ainda assim o preço dispara criando uma disparidade entre volume e preço, já que o preço passa de US$ 4.000 por tonelada para US$ 12.000 por tonelada. O problema também se explica pela demanda: o consumo continua aumentando à medida que as populações continuam crescendo. É possível que até 2020, o crescimento do consumo caminhasse lado a lado com as perspectivas de produção. Claramente, a queda da produção rompe esse delicado equilíbrio. Além disso, a especulação, os fatores de risco (geopolítico, climático, agrícola) somam-se à preocupação, causando pressão de alta no preço.

As projeções para 2025 revelam um panorama de recuperação: Gana estima alcançar 800 mil toneladas, enquanto a Costa do Marfim projeta 2 milhões de toneladas, números que indicam uma normalização significativa na oferta de cacau. No entanto, o mercado apresenta uma aparente contradição: apesar dessas perspectivas positivas na produção, o preço se mantém em níveis extraordinariamente elevados, US$ 8.000 por tonelada, tendo alcançado picos superiores a US$ 10.000 por tonelada. Os traders “bears” (baixistas) argumentariam que existe uma supervalorização, considerando que a produção está retornando aos níveis anteriores à crise. No entanto, é interessante que o preço permaneça 128% acima dos níveis de 2023. Esta disparidade levanta uma questão crucial: o que essa desconexão indica? Várias respostas sem que nenhuma seja definitiva, como:

• Projeção 2025 ainda muito exuberante e estamos no início do ano. A produção da África ainda poderia falhar e cair devido a muitos fatores, e o mercado se agarrou ao melhor cenário mundial possível.

• Demanda forte: apesar das contradições presentes em diversos relatórios do setor, a persistência de preços elevados constitui um indicador inequívoco de que a demanda se mantém.

• Mais inflação no mundo: insumos mais caros para todos poderiam ser outra explicação do porquê o preço se mantém alto. O Equador viu aumentos nos custos de produção, desde mão de obra até insumos gerais; os produtores precisam de preços mais altos para cobrir esses custos tanto aqui quanto na África.

• Deterioração estrutural do setor cacaueiro africano: relatórios revelam plantações envelhecidas e uma crescente perda de interesse por parte dos produtores em reabilitar e cultivar cacau. Esta erosão sistemática da capacidade produtiva reflete problemas estruturais sérios que vão além de flutuações temporárias, sugerindo uma deterioração de longo prazo da produção.

• Abastecimento da indústria: os chocolateiros podem ainda estar na fase de aumentar suas reservas, já que o cacau bem conservado pode ser armazenado por 2 a 3 anos, sustentando ainda uma forte demanda e preço alto.

• Recuperação de reservas de mercado: os estoques de cacau em sacas tanto nos mercados dos Estados Unidos (ICE) quanto do Reino Unido (Liffe) foram severamente esgotados desde 2023, existindo uma necessidade urgente de restabelecer estes a níveis normais. No caso do ICE, os estoques estão em 1.480.000 sacas até 7 de março de 2025; em setembro de 2023, estes estavam em 5 milhões de sacas.

Seria imprudente considerar que esses preços excepcionais representam definitivamente uma nova normalidade no longo prazo (mais de 5 anos). O mercado do cacau, como qualquer commodity, responde inexoravelmente a ciclos econômicos. No curto prazo (2 anos), ainda se sustenta um mercado a favor do produtor com preços extraordinários. A duração desta situação está sujeita à firmeza da demanda global e dos resultados de produção emanantes da África.

Fonte: EJE’s Newsletter. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.