22/May/2024
Com plantações alagadas e armazéns destruídos, os prejuízos que as inundações causaram a algumas das principais culturas agrícolas do Rio Grande do Sul, como soja, arroz e milho, são visíveis. O nível das águas já começou a diminuir no estado, mas, para o segmento da fruticultura, a pior fase das perdas com as enchentes pode ainda estar por vir. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), vários pomares ficaram embaixo d’água, e não se sabe como a planta vai reagir a esse clima. As chuvas podem não ter derrubado as árvores, mas o grande temor é de que a inundação das plantações leve ao apodrecimento das raízes, o que representaria a morte das plantas em culturas importantes no Estado, como pêssego, maçã, uvas e citros. No caso do pêssego, a colheita concentra-se no mês de dezembro, mas uma parte menor dos trabalhos vai até janeiro. Com isso, no momento, os pessegueiros estão na fase de dormência, o que significa que os estragos decorrentes das chuvas que caíram no Estado entre abril e maio podem aparecer apenas nas próximas safras.
Em 2022, Rio Grande do Sul produziu 137,5 mil toneladas de pêssego, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse volume corresponde a mais de 65% da produção nacional. As enchentes que castigaram o Estado em setembro de 2023 já haviam causado uma quebra de safra nas áreas de cultivo de pêssego. As perdas se acentuaram no mês seguinte, com a ocorrência de chuvas de granizo. Grande parte dos pessegueiros que ficam em terrenos elevados escaparam dos alagamentos, mas as árvores que estão em pontos mais baixos ainda correm riscos. O grande volume de água pode prejudicar e até matar pessegueiros, mas os efeitos podem aparecer apenas na próxima safra, segundo a Associação dos Produtores de Pêssego de Pelotas. Com os problemas climáticos e o aumento dos preços dos insumos, é possível que os produtores de pêssego acabem adiando a compra de fertilizantes e defensivos e as podas de inverno, o que pode atrasar o calendário da safra e reduzir o tamanho dos frutos.
Os produtores de uva também já encerraram a colheita, o que impediu que tivessem perdas significativas no momento. As chuvas destruíram parreirais especialmente na Serra Gaúcha, a maior produtora de uvas do Estado. Com uma colheita de 725 mil toneladas em 2022, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas do País. Assim como no caso do pêssego, os efeitos das chuvas recentes sobre as plantações podem ainda estar por vir, mas, para a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater-RS), a ampliação da área de plantio poderá compensar as perdas com as inundações e evitar que os prejuízos sejam tão significativos na próxima safra. Para os produtores de maçã e citros, os prejuízos podem se materializar ainda na atual temporada. Até o início das enchentes, faltava colher 10% da área de cultivo de maçãs no Rio Grande do Sul, e 60% do que restava se perdeu com as inundações. O Estado produz, anualmente, 435 mil toneladas da fruta, o que corresponde a 41% da colheita nacional. Santa Catarina lidera a produção de maçãs no País.
A janela de colheita de citros no Rio Grande do Sul estende-se de outubro a novembro. As câmaras frias podem ajudar no armazenamento das frutas, mas muitos desses equipamentos ficaram destruídos após as enxurradas. Deve haver perdas nesta safra, principalmente daqui a três meses. Segundo a Abrafrutas, ainda é difícil dimensionar o tamanho das perdas, especialmente porque o interior ainda está muito isolado. Alguns produtores estão em abrigos e sequer têm telefones neste momento. É muito difícil ter contato, e nem eles sabem dizer como está sua produção. Mesmo com os estragos em culturas em que o Estado tem participação relevante e com o bloqueio de estradas, que tem dificultado a distribuição, o País não deverá ter problemas de abastecimento dessas frutas. Enquanto aguardam o nível das águas baixar para poderem fazer as contas dos prejuízos, os fruticultores do Estado começam a renegociar prazos de dívidas e a definir seus próximos passos. Muitos deles consideram incerta sua permanência na atividade. Uma das coisas que mais preocupa neste momento é a falta de motivação dos produtores para continuar na atividade agrícola, para reconstruir, além do medo. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.