05/Mar/2024
Produtores de cacau da Bahia, Espírito Santo e Pará estão eufóricos com os preços recordes da arroba que estão sendo pagos pelas indústrias neste início de ano, mas lamentam não ter muito cacau para oferecer neste período de entressafra e safra temporã. Problemas climáticos e envelhecimento das lavouras na Costa do Marfim e Gana, os dois maiores produtores mundiais, levaram a commodity (contrato de março) ao recorde de US$ 6.884,00 por tonelada na Bolsa de Nova York este ano. Só em fevereiro, houve alta de 28,12%, segundo o Valor Data. E no primeiro dia de março, o contrato para maio subiu 4%, para US$ 6.300,00 por tonelada. Na região de Ilhéus (BA), os produtores estão recebendo R$ 450,00 por arroba. Há um ano, recebiam R$ 215,00 por arroba. Os produtores lamentam a falta de cacau e esperam que o preço não desça imediatamente. O produtor Carlos Tomich, na região de Ilhéus, colheu 1.350 arrobas no ano passado e espera atingir 2.000 arrobas neste ano.
Outubro e novembro de 2023 foram meses muito secos na Bahia, o que prejudicou a safra temporã. Praticamente não tem cacau no pé neste mês. A colheita deveria começar em março, mas a florada mais forte ocorreu em fevereiro e só haverá produção a partir de abril ou maio. Segundo a fábrica de chocolates da fazenda Riachuelo, uma das maiores lavouras de cacau de Ilhéus, o preço é excepcional, mas falta cacau. A quebra da safra no ano passado não deixa o produtor aproveitar o momento. Na Riachuelo, a produção caiu 40%. Um dos maiores produtores de cacau de Linhares (ES), Emir Macedo Gomes Filho, diz que finalmente os lucros do cacau estão sendo divididos com o produtor. O cacau está cotado está entre R$ 1.850,00 e R$ 1.950,00 por saca, mas o produtor amargou muitos anos de preço baixo e não serão poucos meses de preço alto que vão resolver o problema.
Com 70 mil pés de cacau e viveiro de mudas, Gomes Filho lamenta que a safra temporã seja fraca devido ao excesso de chuva, que prejudicou a lavoura, e espera que os preços atuais permaneçam por mais tempo para que os produtores retomarem os investimentos. Ele entrega 70% de sua produção à moageira Barry Callebaut, e o restante vai para cacau fino. Outro que espera que os preços continuem em patamares mais altos é Robson Brogni, que cultiva 300 hectares de cacau em Medicilândia (PA). Ele começará a colher sua safra em maio. Medalha de prata em fevereiro no concurso Cacao of Excellence Awards, na Holanda, que escolhe as 50 melhores amêndoas do mundo, Brogni teme alta de custos na cadeia e queda na qualidade. Tem produtor que vai se acomodar com o preço alto e deixar a qualidade de lado, pois mesmo que ele tenha uma perda por excesso de ‘sujidade’ no lote para a indústria, por exemplo, não se importará tanto porque acha que o preço compensa.
Na região de Medicilândia, o cacau vale hoje R$ 450,00 por arroba. Há um ano, estava em R$ 225,00 por arroba. Enquanto os cacauicultores comemoram, os produtores de chocolates especiais, chamados de “bean to bar” ou “tree to bar” estão apreensivos com a possibilidade de ficar sem a matéria-prima. A Associação Bean to Bar formada em 2018, diz que o preço atual corrige a injustiça histórica com o produtor, principalmente o pequeno, mas a alta foi muito rápida e pegou de surpresa o setor. Como o período é de entressafra, ainda não dá para saber qual será o cenário. O cacau bulk (commodity) dá muito menos trabalho, e o produtor recebe na hora. Há um risco de faltar cacau fino e desestimular esse mercado. Já tem muitas empresas do setor fazendo planejamento de demissões e de redução da operação. A associação reúne produtores de 60 marcas, que fabricam de 50 quilos a 4 toneladas por mês. O cacau fino pode custar até quatro vezes o preço da Bolsa de Nova York. A esperança dos chocolatiers é fazer um pacto com os produtores parceiros.
A indústria processadora de cacau no Brasil reconhece que período é de menor entrada de cacau, mas garante que não há falta de produto. A Associação das Indústrias Processadoras de Cacau do Brasil (AIPC) afirma que o preço do cacau está alinhado com o mercado internacional e reflete mais um ano de déficit de matéria-prima. A Organização Internacional do Cacau (ICCO) estimou que a safra global 2023/2024 (outubro de 2023 a setembro de 2024) poderá ter déficit de 374 mil toneladas, o terceiro consecutivo. Este período, tradicionalmente, é o de menor entrada de cacau do Brasil devido à entressafra, mas as indústrias continuam comprando e estão pagando o que o mercado pede. Não há falta de produto, nem fábricas paradas e as indústrias estão abastecidas. Isso não vai impactar a Páscoa porque a matéria-prima foi encomendada no ano passado. Em 2023, as indústrias no Brasil processaram 253 mil toneladas de cacau, sendo 220 mil de matéria-prima nacional. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.