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27/Feb/2024

Seda: deriva de defensivos impactando na produção

Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção nacional de casulos de bicho-da-seda, única matéria-prima para a fabricação dos fios, foi de 2,2 mil toneladas em 2021 e caiu para 1,8 mil toneladas no ano seguinte. Há 20 anos, a produção foi de 8 mil toneladas, o que significa que, em duas décadas, o volume caiu 77%. Contaminação por defensivos agrícolas, clima adverso e manejo inadequado estão entre os motivos que os especialistas citam para tentar explicar a diminuição da oferta da matéria-prima para a fabricação dos fios, usados principalmente pela indústria de artigos de luxo. Mas, há divergências sobre o peso que cada um desses fatores teve sobre a queda.

O Departamento de Economia Rural (Deral/Seab), órgão ligado à Secretaria da Agricultura do Paraná, atribui o declínio da produção de casulos à disseminação de defensivos aplicados em propriedades vizinhas (conhecida como deriva) às dos criadores de bicho-da-seda, aos efeitos da instabilidade climática sobre as amoreiras, alimento da lagarta que tece o fio, ao manejo inadequado e ao desinteresse dos filhos de produtores em dar continuidade ao negócio familiar quando seus pais se aposentam. No Paraná, que responde por mais de 85% da produção nacional, estão em queda tanto a produção de casulos quanto a área de plantio de amoreira. Dados de janeiro de 2024 informam que a área de cultivo, que foi de 4,3 mil hectares na safra 2022/2023, caiu para 3,3 mil hectares em 2023/2024. Nesse mesmo intervalo, a produção de casulos passou de 2,3 mil toneladas para 1,8 mil toneladas.

A deriva contamina as folhas das amoreiras e, assim, intoxica as lagartas. Isso pode resultar em casulos defeituosos ou até mesmo na falta de produção de casulos. A deriva tem sido um problema sério para a atividade no Estado. Segundo a Associação de Sericicultores de Nova Esperança e região, a proibição do uso de aviões para a aplicação de defensivos na cidade, uma lei municipal sancionada em 2023 passou a permitir o uso apenas de drones para a pulverização aérea, deve ajudar a reduzir o impacto da ação dos defensivos das propriedades vizinhas. A produção de bichos-da-seda emprega, direta e indiretamente, mais de 7 mil pessoas no Paraná e é, além disso, um negócio de alto valor agregado. Para Nova Esperança, que ganhou o título de Capital Nacional da Seda em 2023, os riscos são particularmente preocupantes. Órgãos oficiais, como Deral/Seab e a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), dizem que os fatores para a queda na produção de casulos são variados, mas, para os sericultores, a deriva é o maior problema.

Em muitas lavouras do Estado, a aplicação de defensivos ainda ocorre de maneira irregular. O diálogo com os produtores de outras culturas é a principal estratégia utilizada para reduzir o problema. Alguns sericicultores de Nova Esperança tiveram perdas de 95% na safra que se iniciou em 2022. A questão da deriva que afeta as amoreiras também está no radar dos pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) que fazem parte do Projeto Seda Brasil - O fio que transforma. O projeto é financiado pelo Fundo Paraná, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). A equipe trabalha no desenvolvimento de uma alimentação artificial úmida para substituir as folhas de amora. O desafio é criar um alimento artificial que mantenha a alta qualidade do fio de seda produzido no Brasil. Produzido com base na folha de amora e outras substâncias agregadas, ainda em testes, o alimento artificial poderia amenizar o impacto do período de entressafra das amoreiras, que dura cerca de dois meses.

Outra frente de pesquisa é a neutralização do defensivo por meio da aplicação, na folha da árvore, de um composto que não leva aditivos químicos. Todos esses esforços buscam impedir que o País perca espaço em um mercado tão valorizado. Na seda, o Brasil é o melhor do mundo. O fio produzido no País é superior em comprimento, peso, resistência e brancura, afirma a Associação Brasileira da Seda (Abraseda). Segundo o balanço mais recente do Deral, há 1.617 criadores de bicho-da-seda no Paraná. Eles se concentram principalmente na região norte do Estado, que tem clima ideal para a atividade, com temperaturas entre 20ºC e 29ºC. No ranking nacional de produção de bicho-da-seda, São Paulo é o Estado com a segunda maior produção do País, com uma fatia que fica entre 10% e 12% do total. Em Mato Grosso do Sul, a atividade está em fase de implantação. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.