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24/Jul/2023

Cacau: produtores temem o avanço da monilíase

Após o fungo apelidado de vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa) ter dizimado lavouras de cacau no sul da Bahia nos anos 80 e reduzido em 75% a produção local, os cacauicultores da região agora temem o avanço de outra doença, que poderia frustrar a retomada da produtividade que vem sendo alcançada nos últimos anos. A monilíase do cacaueiro (Moniliophthora roreri) é ainda mais grave do que a anterior, ataca os frutos do cacau e do cupuaçu de forma muito mais intensa e em qualquer fase de desenvolvimento, o que poderia causar perdas de até 100% da produção. No Brasil, o fungo já foi identificado nos estados do Acre e Amazonas e, segundo autoridades competentes, é apenas questão de tempo para que avance para a Bahia.

Segundo a Divisão de Prevenção e Vigilância de Pragas (DIPVP) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, a doença vai chegar à Bahia, o que está sendo feito nas áreas de foco é retardar. A monilíase é considerada um mal quarentenário, um organismo de efeito econômico potencial para a área em perigo, o que a submete a um necessário controle pelo governo. Hoje, no Brasil, há centenas de pragas e doenças quarentenárias e o Ministério da Agricultura prioriza as 20 mais críticas com um plano de ação e vigilância. O Brasil só identificou a doença no Amazonas em uma ação de fiscalização. É sinal de que o monitoramento está funcionando. Os maiores disseminadores do problema são os seres humanos, que carregam produtos vegetais contaminados de um local para o outro nas roupas, sapatos e até nos pneus dos carros.

Instituições e agricultores locais trabalham para retardar esse processo com estratégias de isolamento sanitário nas propriedades. A ideia é tentar ganhar tempo para descobrir formas de combater a doença ou, ao menos, conviver com o fungo sem tantas perdas. Altamente adaptado e agressivo, o fungo permanece no fruto por meses até dar os primeiros sinais, como manchas de coloração no cacau. A doença é encontrada em locais com altitudes e níveis de umidade diferentes. A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), do Ministério da Agricultura, iniciou a formação de um banco de sementes e investe no desenvolvimento de clones que sejam resistentes à monilíase. Houve também um trabalho de importação de clones de onde a doença é endêmica, como Costa Rica, para cruzamentos com as espécies nacionais, em busca de características de resistência.

O Ceplac explica que o Equador é um dos países que já convive com essa doença há anos e tem mostrado que é possível manter a produção de cacau mesmo com as perdas provocadas pela monilíase, mas é preciso se estruturar para isso. Nas regiões em que a monilíase se instalou, a sua ação tornou-se mais destrutiva do que a causada pela vassoura-de-bruxa, doença que ainda é um trauma na região cacaueira do sul da Bahia. Mais de 250 mil empregos diretos foram perdidos. A Agrícola Cantagalo, maior produtora de cacau do País, acredita que a cacauicultura da Bahia não suportaria passar por outro problema como este. Ainda hoje, a vassoura-de-bruxa causa perda anual relevante. Este ano, 30% da produção da Cantagalo foi perdida pelo fungo e em 2022 foram 20%. O volume considera apenas o que é possível medir diretamente pela doença, já que há efeitos nas sementes ou em frutos que não vingaram em que não é possível detectar a origem dos problemas.

Antes da vassoura-de-bruxa, a Agrícola Cantagalo registrava, em média, 900 quilos de cacau por hectare. Hoje, esse volume está em pouco mais de 500 quilos por hectare. A Cantagalo superou a crise provocada pela vassoura-de-bruxa, há mais de 20 anos. A empresa decidiu realizar marcações nas plantas que sobraram, após a doença ter dizimado boa parte dos pés de cacau das fazendas, e separou áreas de 1 hectare em cada unidade da empresa para realizar testes com essas mudas mais resistentes. O rigor das análises na área foi responsável por espalhar pelo Brasil a variedade mais disseminada no País hoje. Identificada na fazenda Porto Seguro, quadra 13 e matriz 19, a variedade recebeu o nome de PS-1319 (ou Encantada, como foi apelidada pela Cantagalo). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.