ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

20/Jul/2023

Bahia quer dobrar produção de amêndoas especiais

O Centro de Inovação do Cacau (CIC), em Ilhéus (BA), planeja dobrar até 2030 o percentual de cacau fino e especial produzido no Brasil, dos atuais 5% para 10%, com a capacitação dos produtores rurais. A meta será alcançada com o Plano Estratégico Inova Cacau 2030, que deve ser lançado nos próximos meses. O plano, desenvolvido em parceria com o Ministério da Agricultura, prevê, entre outros pontos, promover assistência técnica a 30 mil produtores do País (o que seria triplicar o volume assistido atualmente) e alcançar a autossuficiência até 2030. Atualmente, o Brasil importa cerca de 20% das amêndoas consumidas pela indústria nacional e apenas duas empresas brasileiras absorvem a demanda pelo cacau fino e especial avaliado pelo CIC, a baiana Dengo e mineira Haoma. O CIC surgiu em 2017 com objetivo de trabalhar a imagem e reputação do cacau e fazer da cadeia produtiva um modelo ético e sustentável.

Com o trabalho no laboratório de análises físico-química e sensoriais do cacau, o CIC classifica as amêndoas que serão exportadas ou adquiridas pela cadeia premium nacional, que inclui indústrias que desejam produtos com especificações ou qualidades muito definidas. Hoje, das mais de 200 mil toneladas de amêndoa seca de cacau produzidas por ano, mais de 90% são comuns ou "tipo commodity", o produto que tem menos rigor de qualidade. O Plano Estratégico Inova Cacau 2030 pretende dar assistência técnica para 30 mil produtores. A Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) ressalta que a ideia do segmento não é eliminar a produção de cacau comum, já que é ele que dá condição de renda estável ao produtor e ainda concentra a principal fonte de demanda. A ideia é dar ao produtor bem informado a autonomia para direcionar a produção e poder faturar mais com o produto.

A estimativa da AIPC e do CIC é que o mercado pague 245% a mais pelo cacau fino e especial do que pelo cacau commodity. O cacau fino especial gera o chocolate fino e especial que tem um preço fino e especial. O Plano Estratégico Inova Cacau 2030, realizado por instituições setoriais como a CocoaAction Brasil e pelo Ministério da Agricultura, deve ser divulgado no segundo semestre e prevê a autossuficiência brasileira do cacau e dar subsídios para essa qualificação do produtor. O Brasil já foi uma potência na produção de cacau, com mais de 700 kg cultivados por hectare. No entanto, a vassoura-de-bruxa, doença causada por um fungo, dizimou a produção nos anos 80 do século passado. Hoje, o País produz cerca de 300 Kg de cacau por hectare. O Plano está passando por consulta pública e deve ser publicado oficialmente em outubro, estimou a CocoaAction Brasil. A CocoaAction é uma iniciativa público-privada do setor cacau que tem empresas gigantes do setor participantes, como Barry Callebaut, Cargill, Dengo, Nestlé e OFI.

O projeto entrou em operação em 2018 no País e visa a fomentar a sustentabilidade e promover o aumento da produtividade na cadeia do fruto, com foco no produtor. Com o plano com o governo, a expectativa da CocoaAction e do Centro de Inovação do Cacau é chegar a 10% de produtos finos e especiais em 2030 e, com mais alguns anos de aprimoramento ainda não definidos, alcançar o equilíbrio máximo da cadeia: com 75% de cacau commodity e 25% de finos especiais. Em 2022, 980 toneladas de cacau foram avaliadas pelo CIC. Os parâmetros observados incluem análise sensorial (sabores, textura e aroma), além de parâmetros de coloração e deformações. Do total analisado, 65% não atendeu aos parâmetros de duas únicas produtoras de chocolate brasileiro que exigem especificações muito qualificadas para o cacau, a Dengo e a Haoma. O diretor Científico do CIC, Cristiano Villela Dias, explica que as duas empresas têm um rigor altíssimo, com a exigência, por exemplo, de que a amêndoa tenha menos de 3% de defeitos totais, o que impede o acesso de grande parte do mercado.

No entanto, hoje, não existe uma análise com viés intermediário feito no CIC, para as empresas com critérios menos rígidos. O desafio é achar parceiros para absorver esse cacau que a Dengo e Haoma não absorvem, mas que é de altíssima qualidade. A ideia do CIC é fomentar a procura desse cacau por indústrias parceiras da iniciativa CocoaAction, como Barry Callebaut e a Olam Food Ingredients (OFI). Com isso, quer também mover essa cadeia de certificação e qualificação do produtor. Em média, 3 mil amostras passam pelo CIC por ano e a análise de cada uma delas custa R$ 85,00. O pagamento pela avaliação é assumido por cada agricultor que deseja ter o seu cacau avaliado e validado. Para facilitar e aumentar esse processo de análise das amêndoas de cacau, o CIC treinou durante dois anos um algoritmo para classificar a coloração das amostras.

Enquanto uma análise como essa demoraria 30 minutos a olho humano, o equipamento escaneia as amêndoas e avalia o cacau de cada produtor em menos de 3 segundos, já fornecendo um relatório virtual. As cores das amêndoas definem, por exemplo, se há fermentação insuficiente ou excessiva ou mesmo se há fungos no fruto. O equipamento, no entanto, ainda não é capaz de captar deformações, fissuras, impurezas e sujeiras e, com isso, determinar defeitos ou deformidades. O processo que segue sendo feito por analistas formados pelo CIC, mas poderá, em breve, ser incorporado pela tecnologia. Para desenvolver o sistema foram investidos em torno de R$ 95 mil, montante que também foi dividido com as principais interessadas, empresas como a Dengo e a Haoma. O equipamento era um classificador de soja e foi adaptado com 45 mil fotografias de cada uma das categorias analisadas para o cacau para poder se adequar aos parâmetros do setor. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.