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08/Nov/2022

Hortaliças: crise climática afeta a produção em SP

Em um ano o calor é demais. No outro, de menos. Vêm, então, noites de geadas fora do comum, períodos de estiagem acima da média ou tempestades nada normais. O tamanho e o impacto das mudanças climáticas foram medidos e avaliadas por uma pesquisa do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces), em parceria com a Citi Foundation. O estudo foi realizado ao longo de 13 meses na sub-bacia Cabeceiras, inserida na Bacia Hidrográfica Alto Tietê. Dez municípios foram abrangidos: Salesópolis, Biritiba-Mirim, Mogi das Cruzes, Suzano, Poá, Itaquaquecetuba, Ferraz de Vasconcelos, Arujá, Guarulhos e São Paulo. Algumas das consequências das mudanças climáticas nessa região são a alteração na produção e fornecimento de produtos agrícolas para a Grande São Paulo. Composto majoritariamente por pequenas propriedades de agricultura familiar, o Cinturão Verde é responsável pelo abastecimento de hortaliças para a capital e responde por cerca de 16% da produção do setor no Estado.

Três dimensões foram consideradas para traçar uma análise de risco climático: vulnerabilidade, exposição e ameaça climática nesses municípios. Os pesquisadores levantaram uma série de dados sobre as variáveis climáticas da Grande São Paulo desde o início dos anos 1980 e confirmaram o aumento da frequência de eventos extremos em entrevistas com os agricultores locais. São eventos com consequências devastadoras para as plantações. O que se nota é um aumento da estiagem, mas há também enchentes, que levam a perdas na produção. Entre 1980 e 2015, os pesquisadores encontraram uma tendência de aumento de eventos extremos de chuvas intensas. As áreas mais afetadas se concentraram sobretudo na região central de São Paulo e em direção ao leste da cidade, atingindo também os municípios de Poá, Ferraz de Vasconcelos e Suzano. Em contrapartida, no mesmo período, houve um aumento considerável de dias secos ao longo do ano em quase todo o território da bacia do Alto Tietê. Em 36 anos, o aumento da quantidade de dias sem chuva em um ano foi de 13 a 20 dias.

A região leste da capital, além de Poá, Ferraz de Vasconcelos, Suzano e Mogi das Cruzes, foram as mais atingidas pelo fenômeno. A combinação entre o aumento da chuva intensa com o de dias secos, como é o caso da região entre a porção central de São Paulo e o município de Suzano, indica a intensificação dos eventos climáticos extremos. A FGVces se baseou em uma metodologia utilizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e foi possível ver, com base na literatura, que há sim um componente global. A análise também confirmou um aumento consistente das temperaturas máximas e mínimas para ambas as variáveis, com incrementos consistentes no território pesquisado. Para a temperatura máxima média, além da tendência de variação ser positiva em todos os municípios, ela cresceu gradativamente em direção à parte mais a leste da bacia. No município de Salesópolis, por exemplo, a temperatura máxima média teve um aumento de aproximadamente 2,2°C, nos últimos 33 anos. A mínima seguiu padrão similar. Diminuíram a frequência de dias frios e o porcentual de dias abaixo de 10°C.

Para esta última variável, a queda foi de 7,3% para o agregado da bacia. Assim, uma das conclusões é que os dias frios estão ficando menos frios. Enquanto isso, as temperaturas extremas estão aumentando em magnitude. A análise do percentual de dias com a temperatura acima de 30ºC demonstrou que, para a bacia do Alto Tietê, em 33 anos, houve um aumento médio de aproximadamente 12% no número de registros diários que ultrapassaram essa marca. Além da intensificação dos eventos climáticos extremos, os pesquisadores observaram riscos nas outras duas dimensões analisadas. Um dos exemplos é o fato de a produção agrícola estar concentrada em poucas culturas; em geral, mais vulneráveis a variações e extremos climáticos, como a alface. São pequenos produtores com uma produção convencional, geralmente com uma única cultura que depende de insumos para o controle de pragas. Para os agricultores, as mudanças climáticas trazem um complicador a mais: a falta de previsibilidade.

A época certa de plantar, de colher, as doenças sazonais das culturas, para tudo havia uma previsão que se perde. Agora, é primavera, mas o clima está atípico. Hoje, por exemplo, os produtores enfrentam doenças de inverno da alface. A pesquisa da FGVces também envolveu um trabalho em campo com dez grupos de agricultores. Os resultados começaram a aparecer. Técnicas sustentáveis com o plantio direto e o de cultivo em consórcio passaram a ser desenvolvidas. Acima de tudo, o agricultor se diz um curioso que não está disposto a aceitar os novos, e confusos, padrões climáticos sem se adaptar. É preciso mudar alguns conceitos e paradigmas para ter técnicas mais resilientes. São coisas que foram sendo colocadas na cabeça do produtor, como a nutrição das plantas, e que podem ser feitas de forma mais sustentáveis, conhecendo bem o solo e utilizando técnicas mais adequadas que não intensificam os efeitos das mudanças climáticas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.