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14/Jul/2020

Uva: vinho nacional ainda enfrenta preconceitos

Concentrado em casa, o brasileiro mudou alguns hábitos de consumo, resultando em um crescimento sem precedentes de algumas categorias. E, entre as bebidas alcoólicas, a mais beneficiada foi a de vinhos e espumantes, cujas vendas cresceram 12% entre janeiro e junho de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019 - um desempenho que surpreendeu até mesmo empresários do setor. A notícia foi especialmente boa para o produto nacional, que viu uma expansão nas vendas de 15%, acima da média geral, enquanto os importados, impactados pela alta do dólar, tiveram um avanço mais discreto, de 5%. O crescimento veio na esteira de uma ampliação do consumo per capita: depois de uma década chegando próximo a 2 litros por ano, o País superou essa marca pela primeira vez em 2019. Apesar de vinhos e espumantes serem um produto que o brasileiro aspira a consumir, a contração da renda dos últimos anos limita o valor que os consumidores podem gastar com o produto.

Segundo a Ideal Consulting, empresa que acompanha o mercado de vinhos no País, 80% das vendas estão concentradas em garrafas de até R$ 70 - o chamando segmento de entrada. Ainda assim, o resultado positivo é surpreendente, uma vez que um dos principais canais de distribuição do vinho - os restaurantes - tiveram a atividade reduzida quase a zero. O crescimento se deu em dois canais: o varejo tradicional e o e-commerce. Um dos fatores que colaboraram para o aumento do consumo foi a maior visibilidade que os supermercados deram ao vinho. Isso faz o consumidor pensar: talvez eu possa experimentar. Outro veio de aproximação entre o consumidor e o mundo do vinho são os clubes da internet. O maior deles, o Wine.com.br, fechou o mês de junho com 170 mil associados, um crescimento de 20% em 12 meses. A Wine espera manter esse ritmo de crescimento ao longo do ano, apesar das incertezas da economia. A companhia deve faturar R$ 430 milhões em 2020.

À medida que a gravidade dos efeitos na pandemia foi ficando mais evidente, o setor passou a enfrentar outro problema: a disparada no preço dos importados. É uma questão que afeta diretamente os grandes e-commerces e clubes de vinho, que basicamente trabalham com rótulos estrangeiros. Aí entra o relacionamento da Wine com as vinícolas. É necessário a compra de grandes volumes para o negócio ficar em pé. O porte da maior parte das vinícolas brasileiras é um fator que ainda impede a venda do produto nacional pelos grandes e-commerces. Isso ocorre por duas razões: a produção relativamente pequena, que na maioria dos casos não passa das centenas de milhares de garrafas, e a tentativa de muitos dos empresários de posicionar o vinho local em patamares mais altos de preço. O predomínio da produção mais artesanal é uma realidade da vinicultura em todo o mundo.

No entanto, para negócios baseados em volume, como o da Wine, porte é fundamental. As vinícolas de pequeno e médio porte, que estão fora dos principais sites e das grandes redes de supermercados, demoraram para recuperar as vendas depois do início da pandemia. É o caso da gaúcha Pizzato, que produz cerca de 300 mil garrafas por ano e tem a maior parte de suas vendas em restaurantes e empórios gourmet. Segundo a Pizzato, a situação só começou a se acomodar depois de abril. Foi o suficiente para a empresa poder voltar a perseguir para 2020 a média anual de expansão de 10% na produção alcançada ao longo da última década. O aumento do consumo é um bom sinal, mas o vinho nacional ainda enfrenta um desafio de reputação com o consumidor, de acordo com a Ideal Consulting, que acompanha de perto o mercado do País. Ainda há uma certa associação ao vinho de garrafão, mas aos poucos o preconceito está diminuindo.

Isso já não acontece mais com o espumante brasileiro, que já é considerado tão bom ou até melhor do que o internacional. Apesar do recente crescimento, ainda há uma carência de informação sobre vinhos. O consumo per capita de 2,13 litros por habitante ao ano no Brasil ainda é bastante baixo diante de mercados mais maduros. Para se ter uma ideia, na maior parte da Europa o consumo está acima dos 20 litros anuais por pessoa, passando de 30 litros em várias nações, incluindo Itália e Suíça. Na América Latina, nações como o Uruguai e a Argentina estão acima dos 10 litros. Portanto, a recém-adquirida curiosidade do brasileiro pelo vinho e pelo espumante precisa ser alimentada com conteúdo. A pandemia viu a explosão das lives sobre os mais diversos assuntos - e foi também um terreno fértil para os enólogos de plantão. As oportunidades de compra de vinho também tiveram de ser ampliadas.

Além dos supermercados e dos e-commerces especializados, hoje o produto está mais evidência em grandes marketplaces, como Lojas Americanas e Magazine Luiza. A Wine vem tentando consolidar sua presença além da internet. A companhia já tem duas lojas - uma em Belo Horizonte e outra em Curitiba. Mesmo com a pandemia de Covid-19, vai abrir mais oito até o fim do ano, em cidades como São Paulo, Porto Alegre, Goiânia, Salvador e Vitória. Para tentar aumentar o interesse do brasileiro pelo tema, o Instituto Pró-Vinho está fazendo uma espécie de campanha institucional periódica do produto, para despertar o interesse da população. A ideia não é promover o produto nacional ou importado - que são trabalhados individualmente por associações de agricultores e de importadores -, mas o universo do vinho e do espumante. A próxima campanha do Pró-Vinho vai ser veiculada no fim de julho. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.