23/Mai/2019
Até quem acompanhou pela internet o anúncio da primeira Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) de laranja no cinturão citrícola comercial brasileiro conseguiu ouvir a interjeição. Quando Roberto Jank, produtor e vice-presidente do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), informou que a oferta para 2019/2020 deve ser de 388,89 milhões de caixas de 40,8 Kg, a reação na sede da entidade, em Araraquara (SP), onde aconteceu o evento, foi de um "oh!" coletivo. O volume esperado para o período a se iniciar em 1º de julho é 36% maior do que as 285,98 milhões de caixas de 40,8 Kg colhidas da safra 2018/2019. Pouco mais de dez dias depois do susto, o mercado citrícola parece ter absorvido o impacto inicial dos números. Apesar de uma queda imediata de 8% no preço da fruta no mercado spot para a indústria, produtores lembram que praticamente toda a oferta de laranja para ser transformada em suco em 2019/2020 tinha sido comercializada antecipadamente e por preços remuneradores.
As processadoras confirmam as compras prévias, alegam que os estoques seguiam baixos e precisam ser repostos e garantem que o mercado esperava uma grande safra brasileira de laranja. Mas, o futuro preocupa. O consumo global da bebida patina e as exportações brasileiras devem encerrar o atual período com queda em torno de 10% sobre a safra 2017/2018. Parte desse recuo é explicada pela retomada da produção de laranja e do processamento na Flórida, após pomares serem atingidos, em 2017, pelo furacão Irma. Mas, outra fatia é queda natural no consumo, principalmente da União Europeia, responsável por quase 70% do suco exportado pelo Brasil.
Mesmo com uma campanha maciça desde 2015 para o aumento do consumo, a demanda no bloco econômico não reage. A indústria brasileira busca alternativas. Em recente viagem à China, ampliaram as negociações para a retirada de barreiras não tarifárias sobre a commodity, nesse caso uma bizarra taxação extra se a bebida não chegar àquele país até uma determinada temperatura. Sem essa tarifa, o setor estaria disposto a investir em logística em portos locais e tentar fazer com que o país oriental saia do quarto lugar entre os nossos maiores compradores de suco. A missão é difícil e longa. Negócios com chineses só fluem em contatos pessoais e muita conversa. Então, é de se imaginar que daqui a um ano a demanda pelo suco não aumentará, indústrias estarão com estoques normalizados e não precisarão comprar a fruta antecipadamente. Resta ao produtor se preparar para um cenário de preços deprimidos, o que não ocorre há alguns anos no setor. Fonte: Gustavo Porto. Agência Estado.