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14/Dec/2023

Marfrig: rastreabilidade com dados do CAR e GTA

A Marfrig tem investido e defende a aprovação de um modelo de rastreabilidade na pecuária que combina os dados das Guias de Trânsito Animal (GTAs) com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades. O modelo também é defendido pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) junto ao Ministério da Agricultura e pode ser implementado de forma rápida. A expectativa da multinacional brasileira é de que algum sistema de rastreabilidade seja criado no Brasil ainda em 2024. A empresa tem defendido que esse modelo seja adotado pelo Brasil. É um modelo de implementação rápida e provisório até que seja possível a identificação individual dos bovinos no País. Com o número do CAR, há as coordenadas geográficas para fazer o geomonitoramento das propriedades, comparando as imagens de satélite com as do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE).

Com a combinação das informações das GTAs (documento obrigatório, emitido pelo Ministério da Agricultura no caso de transporte de carga viva) e imagens, o modelo permitiria averiguar a conformidade socioambiental dos fornecedores de gado ao longo de toda a cadeia, sejam eles fornecedores indiretos (de bezerros e bois magros) ou diretos (de bois gordos para abate). Haveria a possibilidade de averiguar cinco aspectos: se a propriedade pecuária passou por desmatamento, se tem alguma sobreposição com terra indígena ou unidade de conservação, se sofreu algum embargo municipal, estadual ou federal e se está inscrita na lista de trabalho análogo à escravidão do Ministério do Trabalho. Atualmente, a Marfrig já faz todo esse controle e, no caso do geomonitoramento, conta com a prestação de serviço da Brain.ag, empresa do grupo Serasa Experian. Com esse modelo, é possível fazer um rastreamento por lotes de bovinos que já mitigaria, em grande medida, o risco de a cadeia de suprimentos ter algum problema socioambiental. Caso seja adotado nacionalmente, o modelo tem de estar sob a égide do Código Florestal brasileiro porque seria um instrumento federal.

As únicas informações que importam para a Marfrig na obtenção de dados da GTA (os quais já são passados pelos fornecedores da Marfrig à companhia) são o caminho do rebanho dado pelo documento e as coordenadas geográficas das fazendas pelas quais esses bovinos passaram. Não há nenhuma informação do tamanho ou da idade do rebanho do fornecedor. A Marfrig não tem acesso a qualquer outra informação sensível ou estratégica para o produtor. Esse é o princípio básico do modelo e da proposta da Abiec. Sobre a fragilidade do CAR (um documento autodeclararório num País com farta controvérsia fundiária), apesar dos problemas, é o que há de melhor atualmente. O CAR pode trazer inconsistências, mas é o que existe hoje. Não há outra forma de fazer isso até o Brasil ter a identificação individual de bovinos. É inviável a empresa exigir a identificação individual e se negar a comprar dos fornecedores indiretos que não identifiquem seus rebanhos. A exclusão de produtores da base de fornecedores acarretaria em escassez de matéria-prima para as 13 unidades frigoríficas da companhia.

A Marfrig representa cerca de 5% da compra de bovinos no Brasil. Se vier com uma política de exclusão, ficaria sem matéria-prima. Os fornecedores conseguiriam fazer com que esses bovinos chegassem para os outros quase 400 frigoríficos no País. Enquanto o modelo sugerido pela Abiec segue em avaliação no governo federal, a Marfrig adota controle próprio para rastrear toda a cadeia. Hoje, para ser fornecedor de bois gordos para a empresa, o produtor precisa informar o CAR e a GTA não só seus, mas também de quem vendeu o boi magro para ele, o indireto. Se quem forneceu a ele não foi o único produtor a lidar com o bovino, esse produtor tem de solicitar as informações até fechar a documentação completa, desde o nascimento. Ou seja, no processo de controle, a Marfrig vai obtendo os dados necessários de cada fase do bovino até chegar ao produtor do bezerro. Esse cruzamento de dados, imagens e documentos é feito a cada compra de gado. Hoje, 30 mil dos cerca de 2,5 milhões de pecuaristas no Brasil estão no cadastro de fornecedores da Marfrig. Destes 30 mil, cerca de 6 mil (20%) têm, atualmente, algum tipo de bloqueio em seus cadastros e estão impossibilitados de vender para a companhia.

Duas dessas 6 mil fazendas foram identificadas pela ONG Mighty Earth, que, na semana passada, apresentou um relatório que relacionou a cadeia da carne ao desmatamento no Brasil. A Marfrig fez uma crítica ao relatório: a cadeia de fornecimento é extremamente dinâmica. Um produtor fornece hoje e não fornece amanhã. E a ONG pegou amostras de carne in natura de hoje e levantou os potenciais fornecedores desses SIFs (identificação dos frigoríficos presentes nas embalagens das carnes) num histórico longo de fornecimento. Quando as compras foram feitas das fazendas Sararé, em Mato Grosso (2020), e Laranjeiras, em Rondônia (2021), identificadas no relatório da Mighty Earth, ambas estavam em conformidade com os cinco aspectos averiguados pelo processo de controle da empresa. Há alguns meses, as duas fazendas estão impossibilitadas de vender para a companhia. A Fazenda Laranjeiras, em Rondônia, foi bloqueada porque não informou os dados dos fornecedores indiretos. E a de Mato Grosso foi bloqueada porque sofreu um embargo estadual em maio deste ano.

Com o modelo usado atualmente pela Marfrig, a taxa de rastreabilidade do nascimento até o abate pela empresa está em mais de 80% nos rebanhos na Amazônia e em mais de 70% nos rebanhos no Cerrado. De todos os fornecedores da Marfrig, 55% têm o ciclo completo. Ou seja, são os produtores únicos dos bovinos desde o nascimento, o que naturalmente facilita o rastreamento de cada cabeça de gado. A empresa tem feito um esforço para concentrar as compras nos produtores com ciclo completo. Esses resultados deram a certeza de que a empresa está preparada para antecipar a meta do Programa Verde+. No dia 30 de novembro, na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai, a empresa anunciou que antecipou as suas metas de rastreabilidade de bovinos em cinco anos, para 2025. Isso inclui, segundo a companhia, a rastreabilidade total de fornecedores diretos e indiretos de gado, em todos os biomas do País. O programa Marfrig Verde+ foi lançado em julho de 2020. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.