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30/Nov/2023

Boi: mudanças na Argentina e a pecuária brasileira

A eleição de um presidente com posições econômicas liberais na Argentina deve beneficiar suas cadeias agroindustriais, principalmente as voltadas à exportação, como a da carne bovina. Do ponto de vista da pecuária de corte brasileira, no entanto, a mudança de governo não deve ter impacto. Na condição de grande produtor de carne, o Brasil compra pouca carne argentina. O país vizinho é o sexto maior produtor e o quinto maior exportador de carne bovina, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No mercado internacional, também não deve haver acirramento da concorrência com o Brasil. Ainda que seja esperado que a Argentina exporte mais, a carne produzida no país é reconhecida por sua qualidade e costuma ser comercializada em segmentos diferentes dos ocupados pela proteína brasileira, são poucos os nichos de concorrência direta.

Por outro lado, o aumento das exportações argentinas abre espaço para o Brasil ampliar as vendas para lá. A carne brasileira é mais barata e acessível à população afetada pela crise econômica. De qualquer forma, esse comércio tenderia a ser modesto. No ano passado, segundo dados do USDA, a importação total por parte dos argentinos de foi de apenas 7 mil toneladas. É importante destacar, ainda, que os custos de produção na Argentina são muito superiores aos brasileiros, dificultando sua competitividade junto a parceiros do Brasil, mesmo que o governo argentino implemente políticas de ampla abertura comercial. Dados do Agribenchmark, iniciativa internacional da qual o Cepea participa em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), mostram que, em 2022, o custo de produção no Brasil teve média de US$ 47,90 por arroba no sistema a pasto e de US$ 57,40 por arroba em confinamento.

Na Argentina, a média do custo a pasto foi de US$ 62,69 por arroba, o que representa 31% a mais que no Brasil, e, em confinamento, de US$ 78,02 por arroba, diferença de 36%. Os volumes ofertados pelos dois países são bem distintos. Na parcial deste ano (até outubro), por exemplo, o Brasil exportou 1,844 milhão de toneladas de carne bovina (segundo a Secretaria de Comércio Exterior - Secex), enquanto a Argentina, 703,9 mil toneladas (segundo a Câmara de Indústria e Comércio de Carnes e Derivados - CICCRA). A estimativa da entidade é que, neste ano, os embarques somem 807,4 mil toneladas. Os principais destinos da carne argentina são a China, Alemanha, Israel, Países Baixos, Estados Unidos e Chile. As importações de carne argentina feitas por empresas do Brasil são predominantemente para o segmento gourmet. Em 2022, foram adquiridas 11,14 mil toneladas, 15% a menos que em 2021, e, na parcial deste ano (até outubro), as compras somam 7 mil toneladas. Em 2020, foi registrado o volume recorde: 17,32 mil toneladas.

A redução nos últimos anos vem refletindo o controle exercido pelo atual governo argentino, que busca conter a inflação que persiste em níveis muito elevados. Entre os vizinhos sul-americanos, o que mais vende carne bovina ao Brasil é o Paraguai. No ano passado, foram 42,09 mil toneladas, ao preço médio de US$ 5,16 por Kg. A Argentina veio em segundo lugar (11,14 mil toneladas), sendo pago em média US$ 6,55 por Kg, e em terceiro está o Uruguai, que vendeu 9,39 mil toneladas em 2022 ao valor médio de US$ 7,64 por Kg. Neste ano, a carne argentina exportada para o Brasil tem se valorizado bastante: aumento de 17% de janeiro para outubro, chegando a US$ 7,81 por Kg. Esse valor é um pouco maior que o pago pela carne do Uruguai em outubro, que foi US$ 7,76 por Kg. A carne do Paraguai entrou no Brasil no último mês pela média de US$ 5,87 por Kg.

Paralelamente ao comércio de carne, o mercado de bovinos vivos entre Brasil e Argentina é bem restrito e não deve ter alteração com os posicionamentos do novo governo. Os Estados da Região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), os quais fazem fronteira com Argentina, são reconhecidos como livres de aftosa “sem vacinação”, ao passo que, no país vizinho, as regiões de divisa (Centro-Norte) são reconhecidas como livres da febre aftosa “com vacinação”. As áreas mais ao sul da Argentina estão isentas da vacinação. Em resumo, a pecuária brasileira pode continuar centrada nos desafios que já tem em pauta. As mudanças que devem ocorrer na Argentina podem estimular a pecuária e o comércio exterior do país, mas, devido principalmente aos seus custos de produção elevados, não deve ser um concorrente que incomode a liderança brasileira no “trade” global de carne bovina. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.