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01/Nov/2023

RS se destaca na produção de leite carbono neutro

É uma questão de tempo para que o consumidor brasileiro encontre nos supermercados marcas de leite com selo carbono neutro. Os processos para produzir o alimento no campo têm passado por adaptações que visam maior produtividade e sustentabilidade. A mudança é reflexo do anseio da sociedade e, sobretudo da indústria, que vê na produção com baixos índices de carbono uma forma de agregar valor e acessar mercados internacionais. Entidades projetam que a descarbonização do segmento leiteiro é uma tendência. Segundo o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), o leite com carbono neutro é um nicho de mercado, mas com o passar dos anos ele vai ser um indicador fundamental para as empresas se manterem, até porque o mercado europeu irá exigir isso para as exportações.

Apesar de não haver ações coordenadas, a concorrência pautará as transformações tanto no campo quanto no beneficiamento. Quando uma marca conseguir lançar esse produto, ela irá despertar a necessidade nas demais. A indústria já debate o lançamento de linhas que sejam carbono neutro. Isso não levará muitos anos. De pequenas propriedades a multinacionais que atuam no Brasil, estratégias para descarbonizar a cadeia leiteira estão sendo testadas. Influenciados por padrões internacionais e pela necessidade de reduzir as emissões dos gases que provocam o efeito estufa, empresas começaram a apurar a pegada de carbono nas fazendas. A partir da customização de cálculos desenvolvidos e adotados em países europeus, empresas como Nestlé e Danone passaram a mensurar a geração do carbono e metano ao longo da produção de leite em propriedades em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

Esses cálculos seguem o padrão ISO e levam em conta particularidades de cada estado, como clima e geografia. À frente dos estudos no âmbito nacional, a Embrapa Gado de Leite tem atuado desde 2021 com gigantes do setor na aferição do carbono. A partir disso, é possível mapear a geração de gases nos diferentes processos da produção leiteira e trabalhar em estratégias para reduzir as emissões. É indicado o direcionamento da genética superior para que as vacas produzam mais, manejo balanceado do rebanho e alimentação balanceada. Em algumas propriedades mais afinadas, foi lançado mão de uso de aditivos específicos. Os resultados apontam um bom caminho. Tem fazendas que em 2024 ou 2025 atingirão a marca de 30% na redução, o que é acima da expectativa proposta pelo governo no Pacto Global. Uma nova parceria da Embrapa pode aprimorar técnicas de mensuração da pegada do carbono no Rio Grande do Sul.

A empresa atuará com a multinacional Lactalis para aperfeiçoar os métodos adotados em propriedades do Estado. Impulsionado por fatores como clima e solo, o Rio Grande do Sul pode elevar o nicho de leite carbono neutro a um padrão de produção. Os sistemas pastoris representam 85% da produção adotada pelos produtores do Estado. Se as pastagens são bem conduzidas, elas conseguem sequestrar o carbono e fazer esse balanço favorável de todo o processo. O potencial da produção sustentável no Rio Grande do Sul tem sido intensificado por meio do Pisa (Programa de Produção Integrada em Sistemas Agropecuários). Promovido pelo Sebrae, Senar e Farsul, o projeto já atendeu mais de 3.000 pequenos produtores (80% se concentram no Rio Grande do Sul). No interior de Caxias do Sul, a propriedade de Cátia Perini atingiu o equilíbrio financeiro dois anos após aderir ao projeto. Ao todo são 150 vacas, incluindo 69 vacas em lactação. O rebanho permanecia solto, mas comia mais ração e silagem.

Depois do manejo do pasto, os custos com esses complementos diminuíram. A quantidade de vacas emprenhadas aumentou e a produtividade da propriedade saltou de 800 litros/dia para 1.600 litros/dia. Então, foi possível reduzir o custo do litro de R$ 2,00 para R$ 1,60. A propriedade familiar de Airton Zacarias já tinha a pastagem como base de alimentação dos animais. A adesão ao Pisa contribuiu para a melhoria das técnicas utilizadas e aumento do bem-estar das 46 vacas, sendo 20 lactantes. Antes, a ordenha era realizada duas vezes ao dia. Foi reduzida para uma vez e, com isso, há uma média de 250 litros/dia. O custo é de R$ 1,70 por litro e, dependendo do mês, recebemos até R$ 2,00 por litro. Em comum, as duas propriedades contam com pastagens altas (cerca de 25 centímetros) e áreas arborizadas, o que garante o sequestro de carbono gerado pelos animais. O próximo passo do Pisa é iniciar a mensuração da pegada de carbono. A perspectiva é que em três anos haja um mapeamento dos índices gerados nos pequenos produtores. Fonte: Folha de São Paulo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.