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20/Oct/2023

Argentina: setor lácteo está enfrentando desafios

A situação na cadeia leiteira da Argentina está complicada: os produtores enfrentam custos que aumentam acima de suas rendas e a seca continua interferindo na alimentação do rebanho devido às perdas na produção de forragem. Os fornecedores de insumos também enfrentam sérios problemas: os fabricantes de ração não têm insumos importados para formulá-los, além de peças de reposição para o maquinário que permite prepará-los. Os vendedores de sementes não têm estoque suficiente para suprir pedidos de sorgo para o verão, que são necessários para compensar a escassa produção de pastagens. A indústria processadora de leite trabalha com preços monitorados pelo governo, perdeu mercados de exportação e encontra dificuldades para localizar produtos descontrolados e de alto valor agregado. No curto prazo, os produtores de leite terão que continuar suportando a escassez na disponibilidade de forragem e os riscos na condição corporal das vacas.

Nesse cenário, os gastos estão sendo reduzidos ao máximo, evitando afetar a saúde e a produtividade das vacas. Os investimentos também estão sendo adiados e a retomada da produção de forragem está prevista assim que as chuvas se normalizarem. Nos casos mais graves, buscam-se também alternativas de financiamento para superar os problemas. A realidade descrita fez parte do conteúdo do II Encontro do Setor Leiteiro, organizado pelo AZ-Group, evento do qual participaram analistas de mercado, produtores e demais representantes da cadeia leiteira. Muitas pastagens semeadas no outono deste ano não evoluíram bem e têm plantios baixos. Aquelas que foram plantadas por dois ou três anos também perderam plantas e estão forçando a intersemeadura com sementes verdes para recuperar parte da produtividade perdida. O plantio de milho de primeira linha já passou e forçará o plantio tardio, o que dificulta o preparo das reservas e a disponibilidade de grãos para suplementar.

Por todas essas razões, os gastos com ração, que em uma fazenda leiteira típica representam aproximadamente 51% dos gastos totais, subiram para 55%-60% em 2023. Por outro lado, a inflação corrói permanentemente os preços recebidos pelos produtores de leite, ao mesmo tempo em que aumenta os custos. É improvável que essa perspectiva possa ser modificada no curto prazo, considerando que as estimativas de inflação para outubro seriam apenas levemente menores do que as de setembro, devido à emissão de pesos gerada pelas recentes medidas do Ministério da Economia e à incerteza gerada pelo resultado das próximas eleições. Por outro lado, de janeiro a agosto deste ano, a produção nacional de leite caiu apenas 0,3% em relação ao mesmo período de 2022. Esse comportamento seria sustentado principalmente pelas grandes fazendas leiteiras, que produzem mais de 10.000 litros de leite por dia, que seriam as que conseguem manter a produção relativamente estável. Estimativas preveem queda de 1% para a produção do ano inteiro de 2023.

O Grupo AZ está desenvolvendo, no distrito de General Villegas, um sistema de produção pastoril com a venda de leite para uma indústria próxima. Até agora neste ano, choveu muito pouco na área (330 mm) e o lençol freático se aprofundou para 3,80 metros, o que comprometeu a produção de forragem e forçou o uso de todas as reservas que haviam sido feitas em 2022. No outono de 2023, as pastagens foram plantadas, mas sua produção não é totalmente vista por enquanto. A cevada tem sida a opção para fazer silos e chegar ao momento em que o milho tardio pode ser plantado e a alfafa começa a rebrotar. Toda essa realidade fez com que fosse necessário aumentar o uso de concentrados na sala de ordenha. A reação a esse cenário negativo foi recuar até que a situação mude. Isso significa reduzir despesas, eliminar as vacas de menor produção e zerar a dívida em dólar, entre outras medidas. Outras decisões propostas na reunião, diante da crise, foram:

- Reduzir a carga animal diante da falta de forragem fresca que vem afetando as regiões leiteiras desde a primavera de 2022.;

- Quem tem uma situação financeira confortável pode aproveitar o dólar oficial para fazer investimentos adiados, evitando ficar em pesos líquidos;

- Manter a condição corporal de animais de alta produção para aproveitá-la em bons momentos.

A indústria que está localizada "a montante" da produção de leite também sofre as consequências das restrições climáticas e da incerteza econômico-política. As pastagens no outono de 2023 foram semeadas secas, ficaram um mês sem o surgimento de mudas, que depois nasceram, mas voltaram a sofrer com a seca. As pastagens mais antigas também perderam espécies, por isso alguns produtores estão as cultivando junto com aveia ou azevém para ter material verde na primavera. A atual escassez de forragem está impulsionando a demanda por sorgo forrageiro para preencher o "solavanco" de verão, especialmente para aqueles que não têm alfafa na produção. Os estoques são insuficientes devido a esse aumento da demanda e à baixa produção de sementes decorrente da estiagem. Outros atores da cadeia mencionaram a dificuldade na hora de importar.

Essa situação afeta a capacidade de produção das indústrias devido à falta de reposição e insumos intermediários. Os produtores que estão em melhores condições forrageiras e econômicas estão direcionando a renda para a compra de insumos, para não ficarem com ‘pesos’ líquidos em um contexto com grandes possibilidades de desvalorização. Outra possibilidade é a compra de máquinas agrícolas que necessariamente devem ser substituídas. Os produtores de leite mais comprometidos estão procurando financiamento para superar os tempos difíceis, freando os investimentos planejados ou diminuindo a qualidade ou o volume das dietas oferecidas às vacas. Esse grupo foi orientado a utilizar ferramentas incomuns nas fazendas leiteiras, como as sociedades de garantia mútua (SGRs), que são mais utilizadas na atividade agrícola e geram menores custos de financiamento.

As SGRs avaliam a empresa de laticínios e endossam suas operações. Com essa garantia do produtor, ele pode ir a um banco, que o empresta diretamente, confiando na garantia apresentada. Daqui para frente, é preciso analisar bem para quem o leite produzido é vendido. Por exemplo, no primeiro semestre de 2023, as vendas de leite e queijo aumentaram e as vendas de sobremesas e cremes diminuíram. Então, não seria a mesma coisa vender leite para uma indústria que tem vários produtos acabados do que para outra que só faz sobremesas. Além disso, existem diferenças de preços entre as diferentes províncias. Em agosto, foram pagos em média 117 pesos argentinos (US$ 0,33) por litro em Buenos Aires, contra 109 pesos (US$ 0,31) por litro em Santa Fé e 107 pesos (US$ 0,31) por litro em Córdoba. As exportações estão passando por um momento opaco.

Em 2023, houve queda no volume e nos preços das mercadorias embarcadas. Por exemplo, o leite em pó caiu 25% de agosto de 2022 a agosto de 2023 no mercado internacional. Houve uma queda significativa nas exportações para a Argélia, que foi parcialmente compensada pelas vendas para o Brasil. Mas, esse mercado não está assegurado porque a produção de leite no Brasil está se recuperando e os produtores locais querem impor obstáculos à importação de laticínios argentinos. Além das situações específicas, da seca e da incerteza política e econômica, houve consenso de que os produtores devem superar essa crise porque em algum momento vai surgir a situação contrária, o clima vai se normalizar e o fluxo de preços do mercado para o leite vai se recuperar. Por isso, é necessário evitar decisões impensadas e imprevistos, e propor uma estratégia que considere os diferentes fatores que influenciam o negócio de laticínios. Fonte: La Nación. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.